Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal
Principal cabeça do petismo durante o auge de Lula, acusado e condenado por diversos crimes, José Dirceu está perambulando, solto, desde junho, quando o STF, seguindo proposta do atual presidente Dias Toffoli, admitiu sua libertação de forma liminar. Ele está aproveitando a chance recebida para participar de videoconferências e divulgar um livro de memórias, sempre cercado de militantes.
Nesta quarta-feira (26), o El País publicou uma entrevista concedida pelo cérebro da estrela vermelha durante viagem de ônibus em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Alguns detalhes das respostas de Dirceu chamam a atenção.
Primeiro, Dirceu afirma que o apoio a Lula cresceu porque as pessoas conectam o legado do ex-presidente com “as consequências do golpe”, rejeitando partidos como PSDB e DEM por “não terem reconhecido o resultado da eleição” e “terem participado do Governo Temer”. Todos sabemos que não houve golpe algum, que Dilma Rousseff foi justamente expelida do Palácio do Planalto e que a recessão em que mergulhamos foi provocada pelo seu governo.
No entanto, é inegável que uma parcela significativa da população não apreende esse cenário e efetivamente considera que o governo Temer é o responsável por todo o mal sobre a Terra, o que a absoluta inaptidão da equipe do atual presidente para se comunicar e explicar reformas ainda impopulares, mas necessárias, apenas incrementa.
Em seguida, perguntaram a Dirceu se “existe a possibilidade de o PT ganhar essas eleições e não levar”. O petista respondeu que não acredita na possibilidade e que a comunidade internacional não aceitará. Complementou: “E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.
Paira certa ambiguidade na resposta quanto a se Dirceu se referia tão-somente ao que o PT faria se houvesse algum impedimento contra a candidatura de Haddad ou se a meta é “tomar o poder” mais do que “ganhar uma eleição”, qualquer que seja a circunstância. De qualquer modo, se Haddad “não levar”, considerando que o próprio Dirceu nega mais adiante a possibilidade de uma intervenção militar, será por alguma condenação, cassação de chapa ou qualquer coisa do gênero. Isso seria, a seu ver, um “golpe”, da mesma forma que o “golpe” contra Dilma… Diga-se de passagem, “golpe” nunca é o que faz o PT, ao, por exemplo, burlar a lei eleitoral para insistir em estampar Lula nos materiais de campanha indevidamente. O que significaria, nesse caso, “tomar o poder”, a ponto de ser “mais do que ganhar uma eleição”?
O subtexto – ou nem tão “sub” assim – é evidente. O PT na verdade não enxerga qualquer valor intrínseco ao processo democrático, ao ritual eleitoral. Não é, como disse e volto a dizer, uma mera diferença de opiniões o que existe entre nós; é muito mais do que isso. É uma cisão de concepções de Estado, sociedade, de regras do jogo para mediar o enfrentamento entre as próprias diferenças. Eis porque também não me limito a falar em “governos do PT”, mas em “lulopetismo” e “regime lulopetista”. Eles não querem apenas colocar seu representante no Executivo, tal como desejam todos os partidos; eles querem que todo o sistema político e cultural seja reescrito à sua imagem e semelhança.
Mais adiante, fica pior. Diz Dirceu: “Lula tinha que tomar uma decisão: o que é prioritário? Fazer reforma política, resolver o problema das Forças Armadas, resolver o problema da riqueza e da renda ou atacar a pobreza e a miséria, fazer o Brasil crescer, ocupar um espaço na América Latina, ocupar o espaço que o Brasil tem no mundo? Ele fez a segunda opção”.
A que “problema das Forças Armadas” Dirceu se refere? Em resolução de 2016, o PT afirmou que seus próceres foram “descuidados” por não terem modificado os currículos das academias militares e por não terem promovido oficiais que tinham compromissos “democráticos e nacionalistas”. Será esse o problema que o PT quer resolver? A escassez de aparelhamento das Forças Armadas? Tentará Haddad, se eleito, dominar os militares? Em o fazendo, alavancará a tirania para outro nível.
Por fim, Dirceu disse que o PT não tem apoio da elite do país e nem deseja ter. Perguntado sobre a necessidade da elite para se eleger, ele respondeu: “Eles que rezem para que eu fique bem longe. Não vamos precisar dela não. Ela vai ter que entregar os anéis. Não dá para tirar o Brasil da crise sem afetar a renda, a propriedade e a riqueza da elite”.
Vejam só que coisa… Naturalmente, o conceito de “elite” do PT é bastante maleável. A “elite” constituída pelo próprio ex-presidente Lula e seus aliados, quer os que faziam ou fazem parte da cúpula do partido, quer os empresários que se beneficiaram do regime de “campeões nacionais” imposto pelo lulismo, atravessou com alguma tranquilidade os treze anos de ilusão e desgraça. “Elite”, para eles, eram as pessoas, de diferentes estratos sociais, que estiveram nas ruas clamando pelo impeachment. “Elite”, para eles, é todo aquele que não comunga de seus sórdidos valores. A “elite” que os petistas efetivamente alvejam não é necessariamente a faixa dos milionários, até porque os conceitos de “classe média” e “alta” sofreram alterações durante seus governos vermelhos, de acordo com as conveniências.
A “elite” pode ser você, leitor. Fossem mesmo apenas os realmente ricos, fato é que, para “resolver” os problemas do país, o PT sinaliza agredir alguns pilares fundamentais, em destaque a propriedade privada. Para bom entendedor, meia palavra basta – e o caso aqui é, na verdade, de palavras inteiras. Dirceu está ameaçando o povo brasileiro. O Brasil não pode cometer a irresponsabilidade de permitir que os petistas voltem a ter toda a máquina política em suas mãos.
Rodrigo Constantino
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