Crescem as exportações de gado em pé e demanda de animais do RS para cruzamento industrial
Primeiro encontro, nesta segunda-feira, na Expointer, do ciclo Debates do Correio do Povo Rural, analisou o momento atual e o futuro da pecuária de corte | Foto: Alina Souza
Se há um ano a Expointer transcorria ainda sob o impacto da operação Carne Fraca e da delação da JBS, que influenciaram negativamente os preços da pecuária de corte, neste ano o cenário é outro, possibilitado principalmente pelo aumento das exportações de gado em pé e da demanda de gado gaúcho para cruzamento industrial no Centro-Oeste.
Uma das grandes novidades nos últimos anos tem sido a exportação de terneiros vivos, especialmente para a Turquia. No ano passado, o RS exportou 85 mil animais pelo Porto de Rio Grande. Outro fator que tem impulsionado a pecuária gaúcha é o fornecimento de animais para cruzamento industrial no Centro-Oeste. O cenário é composto ainda por uma redução no consumo interno, observada após o início da recessão econômica no país. Os desafios para o setor pautaram o primeiro encontro do ciclo Debates do Correio do Povo Rural realizado nesta Expointer, na Casa do CP no Parque de Exposições Assis Brasil.
Quando se fala em exportação de gado, uma das questões em discussão é o impacto desse mercado para a oferta de matéria-prima nos frigoríficos locais. O presidente da Conexão Delta G, Eduardo Eichenberg, entende que quanto mais alternativas o produtor tiver para comercializar o seu produto, melhor será para a pecuária. “Por mais que os frigoríficos tenham uma visão de que estamos exportando a sua matéria-prima, indiretamente estamos gerando mais receita para o produtor”, afirmou. Na avaliação dele, o ponto-chave para o setor é entender que a exportação é uma alternativa a mais, que impacta positivamente na renda, o que incentiva o produtor a investir mais e ampliar a produtividade. “Como investir mais? Tendo a certeza de uma melhor remuneração por esse produto”, concluiu.
A curto prazo, a crise na Turquia pode representar um cenário de incertezas para o criador que deixou os terneiros inteiros na expectativa de uma valorização com a exportação. Para a coordenador do Programa de Melhoramento Bovino (Promebo), Fernanda Nogueira Kuhl, o produtor corre o risco de querer aproveitar essa oportunidade de mercado “quando ela já está terminando”. Até porque o terminador teria interesse em adquirir apenas animais castrados, visando à bonificação dos programas de qualidade. “Esse criador vai estar com maior incerteza no mercado do que um criador que tinha como atingir outros nichos”, observou. Por outro lado, ela enxerga a possibilidade que o cenário se comporte como uma maré, na medida em que sejam resolvidos problemas como a taxa de câmbio, a incerteza das eleições e até mesmo a abertura de outros mercados.
Alina Souza
Os efeitos da crise econômica do Brasil impedem que o cenário tenha melhorado, segundo o presidente da Farsul, Gedeão Pereira. No entanto, ele considera que o quadro é promissor. Além disso, o dirigente lembrou que as outras carnes, suína e de aves, estão momentaneamente fora de mercados importantes, como Rússia e Europa, e permaneceram no mercado interno, o que fez baixar o preço das carnes de modo geral. “Os programas das raças aqui no Rio Grande do Sul têm ajudado a manter a pecuária com valor acima do boi commodity”, avaliou. Pereira citou o exemplo uruguaio para demonstrar que a exportação não impacta a oferta de carne para frigoríficos. “O ano passado foi o ano em que eles mais exportaram gado em pé e o ano em que eles mais abateram gado. O produtor, ao receber mais recursos, investiu mais”, constatou. Conforme o dirigente, a grande expectativa recai hoje sobre o mercado asiático, que tem potencial para aumentar as importações de carne. “A China, com crescimento de 7% ao ano, representa 40 milhões de estômagos a mais, que não comiam nada e de repente passam a comer”, constatou.
Para o gerente do programa Carne Angus, Fábio Medeiros, o mercado de carne de qualidade sentiu menos os efeitos da crise. Conforme Medeiros, a turbulência na Turquia é um problema de mercado e a desvalorização da lira turca foi parcialmente acompanhada pela desvalorização do real, frente a um cenário de incertezas na economia brasileira. “A gente vê o mercado da carne como um todo com um viés de melhora para os próximos meses; deve ter uma retomada de crescimento da economia, com aumento da confiança dos consumidores”, acredita. Em razão disso, a expectativa é de que as exportações se acentuem com a desvalorização do real. Também há a expectativa de reabertura do mercado dos Estados Unidos para a carne brasileira, o que deve impactar na procura pelo dianteiro.
Estamos com um mercado promissor, mas dependemos do crescimento econômico.
Gedeão Pereira, Presidente da Farsul
Alina Souza
Uma maior receita permite ao produtor investir mais. Temos espaço para crescer.
Eduardo Elchenberg, Presidente da Conexão Delta G
Guilherme Testa
A exportação foi uma alternativa que surgiu, mas não seria a solução para o problema.
Fernanda Kuhl, Coordenadora da Promebo
Guilherme Testa
O mercado de carne de qualidade teve pouco efeito da crise e deve continuar essa trajetória.
Fábio Medeiros, Gerente do Carne Angus
Alina Souza
Correio do Povo
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