por Anaïs Fernandes e Maeli Prado
Manutenção veio em linha com expectativas do mercado
O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter nesta quarta-feira (1º) a taxa básica de juros da economia em 6,5%, na mínima histórica.
A decisão da autoridade monetária foi unânime e era esperada por 36 dos 38 economistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg. Essa é a terceira manutenção seguida da Selic, após ao Banco Central pegar o mercado de surpresa e encerrar em maio o ciclo de cortes.
Na avaliação do Comitê, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos "prescreve manutenção" da taxa Selic no nível vigente. O Comitê ressalta que próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
O Banco Central voltou a afirmar que a paralisação dos caminhoneiros tem impacto temporário sobre inflação e crescimento, mas reconheceu que o ritmo da economia perdeu fôlego após o movimento de maio.
"Indicadores recentes da atividade econômica refletem os efeitos da paralisação no setor de transporte de cargas, mas há evidências de recuperação subsequente. O cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual do que aquele esperado antes da paralisação", disse o BC em comunicado. Todos os setores da economia foram impactos pelo movimento, conforme apontam pesquisas do IBGE.
No início de julho, o governo anunciou a redução de sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5% para 1,6% em 2018.
O anúncio do BC vem após a inflação disparar em junho, mas sinalizar alívio em julho. O IPCA, índice oficial, teve alta de 1,26%, a maior para junho desde 1995, mas o IPCA-15 deste mês (prévia da inflação) já desacelerou para 0,64%.
"A inflação do mês de junho refletiu os efeitos altistas significativos da paralisação no setor de transporte de cargas e de outros ajustes de preços relativos. Dados recentes corroboram a visão de que esses efeitos devem ser temporários", afirmou o BC.
Apesar de considerar que os efeitos dos choques recentes sobre a inflação se revelam pontuais, a autoridade monetária disse que é importante acompanhar ao longo do tempo o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene da paralisação.
Ao analisar o cenário externo, o comitê citou como fator de risco a guerra comercial entre Estados Unidos e China.
"O cenário externo apresentou certa acomodação no período recente, mas segue mais desafiador. Os principais riscos estão associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e a incertezas referentes ao comércio global. O apetite ao risco em relação a economias emergentes manteve-se relativamente estável, em nível aquém do observado no início do ano".
O dólar, que fechou junho em alta de 4,04% ante o real, terminou julho em queda de 3,5%.
Nesta quarta, o Federal Reserve (banco central dos EUA), manteve a taxa de juros no intervalo entre 1,75% e 2%, conforme o esperado pelo mercado. Mas o Fed mudou o tom do comunicado ao indicar que a economia americana está forte, o que reforça a expectativa de um novo aumento de juros no encontro de setembro.
Taxas de juros maiores nos EUA atraem para o mercado americano fluxos de capital alocados em outras praças, consideradas mais de risco, mas, por isso, com potencial de rentabilidade maior, como o Brasil.
O Copom voltou a dizer que os efeitos dos choques sobre a inflação podem ser mitigados pela ociosidade da economia e pelo fato de as expectativas de inflação estarem dentro da meta. "Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária", diz o comunicado.
Ainda segundo o comunicado, a continuidade do processo de reformas e ajustes na economia são essenciais para a manutenção da inflação sob controle no médio e longo prazo.
Fonte: Folha Online - 01/08/2018 e SOS Consumidor
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