Senadora do PP integrará chapa mesmo com desconfiança de seu partido e de outros do centrão
Daniel Carvalho
BRASÍLIA
A senadora gaúcha Ana Amélia (PP), 73, aceitou na tarde desta quinta-feira (2) ser vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) para disputa pelo Palácio do Planalto. Porém, só confirmará a aliança depois que PSDB e PP se acertarem no Rio Grande do Sul.
PP e PSDB têm candidatos ao governo do estado. O deputado Luiz Carlos Heinze (PP), com apoio de DEM, PSC, Pros e PSL, enfrenta o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB), com apoio de PHS, Rede, PTB, PPS e PRB.
Heinze disse que está disposto a deixar a disputa para ser candidato ao Senado em uma composição entre as legendas, inclusive para a disputa proporcional. Ele disse também que deixaria de apoiar a candidatura presidencial Jair Bolsonaro (PSL) para apoiar Alckmin.
Aliados de Alckmin já comemoram a decisão da gaúcha, mas ela disse que a palavra final será do próprio candidato.
"A minha decisão depende desses acertos. Ele que vai falar sobre isso depois de fechar todos os acordos com o nosso partido", afirmou a senadora.
Ela havia sido procurada por Alckmin na quarta (1º) e, nesta quinta, pelo ex-presidente FHC.
Além da questão do estado, Ana Amélia analisou também seu estado de saúde. Ela foi internada nesta semana com uma crise de hipertensão.
Até o início desta semana, Ana Amélia descartava ser vice na chapa de Alckmin, mas disse que, agora, analisa a relevância do posto.
Ao longo do dia, o pré-candidato do PSDB e representantes do centrão —DEM, PP, PR, PRB e SD— negaram repetidamente que tivessem feito o convite à gaúcha.
Depois de ser rejeitado pelo empresário Josué Alencar (PR), Alckmin e seus aliados não queriam sofrer o desgaste de uma nova recusa.
O ex-governador de São Paulo se esforçava para chegar à convenção de seu partido, no sábado (4), já com o posto de vice definido.
O nome de Ana Amélia não é consenso em seu partido e também entre siglas do centrão. Embora Ciro Nogueira diga não haver veto à gaúcha, correligionários reconhecem a total falta de entrosamento entre a senadora e a cúpula do partido.
Aliados de Nogueira dizem haver preocupação com uma eventual perda de poder da ala nordestina do PP.
Além da presidência da legenda com o senador do Piauí, cabe ao paraibano Aguinaldo Ribeiro a liderança do governo na Câmara, e ao alagoano Arthur Lira a liderança do PP na Casa.
Outra preocupação é que, ao levar um quadro do partido para a Vice-Presidência, Alckmin queira diminuir o espaço que o PP tem hoje na Esplanada dos Ministérios.
A sigla domina atualmente as pastas de Saúde, Agricultura e Cidades, além da Caixa Econômica Federal. Integrantes da bancada do partido dizem ironicamente que Ana Amélia tem que ser tratada como cota pessoal do tucano.
Pela manhã, Ana Amélia disse que só acetaria a vaga na chapa do PSDB se pudesse manter sua autonomia em um eventual governo.
“Em qualquer lugar que eu estiver, se eu não for independente, se eu não pensar e agir com as minhas convicções, não serve para mim”, afirmou a senadora.
Nascida em Lagoa Vermelha (RS) e jornalista durante cerca de 40 anos, ela termina em 2018 seu primeiro mandato e estava empenhada em tentar a reeleição. Ao longo de seus oito anos no Senado, Ana Amélia apresentou 91 projetos de lei e 14 PECs (propostas de emenda à Constituição). Seis propostas apresentadas ou relatadas por ela se tornaram lei.
Folha de S. Paulo
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