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segunda-feira, 2 de julho de 2018

Número de clientes de planos de saúde com mais de 80 anos aumenta 62%

Fenômeno é explicado principalmente pelo aumento da longevidade

Devido à longevidade, público que mais cresce entre clientes de convênios médicos no País é o idoso | Foto: USP Imagens / Divulgação / CP

Devido à longevidade, público que mais cresce entre clientes de convênios médicos no País é o idoso | Foto: USP Imagens / Divulgação / CP

Grupo etário que paga as mais altas mensalidades ao contratar um plano de saúde, os idosos são o público que mais cresce entre clientes de convênios médicos no País, principalmente na faixa a partir de 80 anos. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tabulados pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que em dez anos o número

de beneficiários maiores de 80 anos saltou 62%. O índice é mais que o triplo do registrado no volume geral de clientes (18%) e superior à taxa de crescimento desse grupo populacional no período, que, segundo o IBGE, foi de 55%.

A clientela idosa foi a única que cresceu no setor nos últimos três anos, período de crise econômica em que o número

de usuários da saúde suplementar caiu no Brasil. O fenômeno, explicado principalmente pelo aumento da longevidade, deve se manter. Em 2030, 20% de todos os clientes de planos serão idosos, segundo projeção feita em estudo inédito do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) obtido pelo jornal. Hoje, esse índice é de cerca de 14%.

O envelhecimento da população terá como resultado o aumento expressivo dos custos das operadoras e, por consequência, das mensalidades. Isso porque um paciente de mais de 80 anos custa, em média, R$ 19 mil por ano ao convênio, ante R$ 1,5 mil de um menor de 18 anos. Considerando o impacto do envelhecimento da população e a variação dos custos médicos hospitalares no período, o IESS estimou que as despesas assistenciais dos planos saltarão 157,3%, dos atuais R$ 149 bilhões para até R$ 383 bilhões em 2030.

Para o instituto, o estudo acende um alerta: se o sistema de saúde não mudar para barrar a alta nas despesas, o plano pode tornar-se um serviço muito caro e quase "impagável" para a maioria. "Não há como imaginar que um aumento tão substancial seja absorvido pelas operadoras. Essa alta se refletirá em reajustes para os beneficiários ou no fim da sustentabilidade econômico-financeira do setor", diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS. "Isso seria péssimo para operadoras, beneficiários e para o restante do País, pois mais 47,3 milhões dependeriam do SUS." A professora aposentada Aico Nakamura, de 84 anos, se esforça para pagar a mensalidade de R$ 800. "Não é tão fácil, é muito caro", diz.

Mesmo sem problemas graves de saúde, ela contratou um convênio por medo de ter problema nesta fase da vida. "A minha saúde, graças a Deus, está bem, mas, mesmo usando pouco, não dá para ficar sem." Soluções Para Carneiro, deveriam ser implementadas medidas como o combate a fraudes e desperdícios no sistema, que, segundo ele, consumiram 19% dos gastos das operadoras em 2016. "Também é importante incentivar a prevenção de doenças e o envelhecimento saudável."

Presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Mendes destaca a necessidade de adoção de um modelo de remuneração aos prestadores de serviço "com base na qualidade e eficiência dos tratamentos, e não na quantidade de procedimentos feitos, para evitar consultas e examesdesnecessários". Economista-chefe da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Marcos Novais diz que operadoras e hospitais também terão de se adaptar. "Já há empresas trabalhando principalmente com rede própria, outras focando em um certo público. A especialização pode ser uma forma de criar bons resultados com menores custos." Questionada, a ANS afirmou que o rápido envelhecimento é "uma das questões mais urgentes a serem discutidas" e destacou que a solução passa por uma mudança no modelo de assistência, com maior foco em ações de prevenção e promoção de

saúde.


Estadão Conteúdo e Correio do Povo





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