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terça-feira, 24 de julho de 2018

Identidade digital é o novo graal

por Ronaldo Lemos

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Ninguém mais terá de ir a um órgão público para levar seus documentos de novo

Há uma corrida silenciosa acontecendo no campo da tecnologia. Várias organizações estão correndo para ver quem alcança (e domina) o novo graal: a capacidade de criar uma identidade digital descentralizada, que sirva de ponte entre o mundo físico e o mundo digital.
Com ela, uma pessoa jamais terá de se dirigir pessoalmente a um órgão público ou empresa privada para levar seus documentos de novo. Essa prática se tornará obsoleta e será incompreensível para as futuras gerações.

Mais do que isso, esse modelo de identidade (cujo nome técnico é “identidade autossoberana”, ou SSID, no acrônimo inglês) não dependerá de nenhuma autoridade específica para ser emitida. Ela será o produto das redes e relações que cada pessoa constrói em sua vida: na escola, com serviços de saúde, com bancos, com outras pessoas e assim por diante.
Cada atividade será um elo capaz de provar de forma inequívoca (e reconfirmada o todo tempo) que você é quem diz ser.
A vantagem disso é que uma identidade dessa forma jamais “perde a validade”. Seu titular pode até mudar de país e mesmo assim levará consigo digitalmente suas qualificações (diplomas, habilidades, certificados, documentos, prontuário médico etc.) e a prova de quem é.

A competição para desenvolver esse modelo de identidade é acirrada. Há esforços sendo feitos por iniciativa da Microsoft, do Hyperledger (que tem laços com a IBM) ou mesmo do Facebook, que criou há pouco uma divisão de blockchain (tecnologia que serve de base para esse modelo).
Há também uma série de organizações menores e até sem fins lucrativos trabalhando para isso. Os exemplos incluem a uPort, a Civic e a Fundação Sovrin. Um pesquisador desta última estará no Brasil nos dias 6 e 7 de agosto, em evento sobre governo e tecnologia realizado em São Paulo (de que, vale dizer, este colunista é coorganizador).
A identidade digital é o graal porque pode mudar a arquitetura da própria rede. Quando a internet foi criada, ela deixou de fora a capacidade de identificar pessoas. A internet dá endereços a máquinas, mas não incluiu em seu design a capacidade de identificar pessoas. Isso leva a várias questões: perfis falsos, fraudes ou a necessidade de recriar nossa identidade toda vez em que acessamos um novo serviço.
A identidade autossoberana pode dar um novo enfoque para todas essas questões. E, ao mesmo tempo, tornar-se ferramenta poderosa para acabar com a burocracia também no mundo físico.
E o melhor: esse modelo protege a privacidade. O usuário passa a ser o controlador dos seus dados. Pode usar sua identidade para revelar, mas também para ofuscar. Hoje, se você mostra seu RG em papel para ingressar em um bar, a pessoa que verifica pode ver vários outros dados: sua foto, nome dos pais, número do RG, data de nascimento. A única informação necessária, no entanto, é se você é maior de idade ou não.
Com esse novo modelo de identidade digital dá para revelar o que precisa ser revelado e esconder o que não precisa.
É claro que ainda há vários desafios no desenvolvimento dessa tecnologia, mas ela já está entre nós.
Participar desse processo e entender suas repercussões para o setor público e privado podem gerar muitas oportunidades para o Brasil.

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