terça-feira, 19 de junho de 2018

Novo líder da Colômbia se apresenta como 'outsider', mas é cria do uribismo

Iván Duque, 41, tem visão liberal na economia e conservadora nos costumes


Iván Duque, presidente eleito da Colômbia, tira selfie com garota depois de votar, neste domingo (17), em BogotáIván Duque, presidente eleito da Colômbia, tira selfie com garota depois de votar, neste domingo (17), em Bogotá - Diana Sanchez/AFP


Sylvia Colombo

BOGOTÁ e BUENOS AIRES

Iván Duque, 41, não tem uma longa ficha de experiências como político para apresentar. E esse é um dos trunfos que o ajudaram a se eleger presidente neste domingo (17).

Durante toda a campanha eleitoral, ele enfatizou que era quase um “outsider”, por ser jovem, ter tido apenas uma passagem como senador (2014-18) e por ter vivido muito tempo longe da corrupção da política colombiana —estudou, afinal, em Harvard e em Georgetown, além de ter trabalhado no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e na ONU, totalizando uma temporada de 12 anos nos EUA.

Por outro lado, a ideia de “outsider” é muito difícil de colar em sua figura, uma vez que chega guiado e cercado por uma força política dominante no país, o uribismo, e tendo ainda outros padrinhos conservadores, como o ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002).

Eleitores de Duque celebram em Bogotá após os primeiros resultados da apuração da eleição presidencial serem anunciados, no domingo (17)Eleitores de Duque celebram em Bogotá após os primeiros resultados da apuração da eleição presidencial serem anunciados, no domingo (17) - John Vizcaino/AFP

Duque foi um dos primeiros a se juntar a Álvaro Uribe quando este quis formar seu próprio partido, o Centro Democrático, em 2013. “Tem uma relação umbilical com Uribe, não vai ser um filho rebelde como Santos. Por outro lado, tem ideias próprias”, diz à Folha o analista político Juan Gabriel Tokatlian.

Nascido em 1976, é filho também de um político do Departamento de Antioquia —Iván Duque Escobar. Sua afeição ao pai é tão grande que a foto que manteve em seu perfil de Whatsapp por muito tempo foi a de Escobar, ministro do presidente Belisario Betancur (1982-86) e governador de Antioquia.

Formou-se advogado na Colômbia, mas logo viajou aos EUA para cursar mestrados em administração pública na American University e em Georgetown. Depois, fez uma especialização em Harvard.

Na volta, trabalhou como assessor do então ministro da Fazenda, ninguém menos que Juan Manuel Santos, na gestão Pastrana. Dali, voltou aos Estados Unidos para trabalhar no BID, como assessor para temas de Colômbia e Peru.

Eleito em 2014 como senador pelo Centro Democrático, tem uma visão liberal da economia e conservadora com relação aos costumes, mas também já declarou que não haveria retrocessos nos avanços no campo dos direitos civis já aprovados na Colômbia, como o casamento gay e a adoção por casais do mesmo sexo.

E mais: já anunciou que seu gabinete será 50% composto por mulheres. É, porém, contra o aborto.

Com relação a seu padrinho político, é diferente em alguns aspectos positivos. É educado, tem boas maneiras, não eleva a voz em debates com quem pensa diferente e, por ora, não adota os meios de Uribe (a saber, o uso de emissoras de TV para caluniar opositores).

No que diz respeito à política exterior, ainda não deixou muito claro que papel quer desempenhar na América Latina. Mas se posicionou em relação à Venezuela: disse que levará ao Tribunal de Haya as denúncias de violação dos direitos humanos reunidas pela OEA e atuará com os outros órgãos.

Nas fronteiras, fala em controle mais estrito de imigrantes, mas não em cortar ajuda humanitária ou se recusar a receber refugiados que busquem abrigo. Proporá, porém, uma repartição deles pelos países da região.

Gosta de se definir como um “extremista de centro”, mas basta ver os nomes que o rodeiam —como a ex-ministra de Defesa de Uribe, Marta Lucía Ramírez, sua vice, ou o ex-procurador Alejandro Ordoñez, de extrema direita, além do próprio Uribe—​ para se dar conta de que sua chegada ao poder representará a volta do uribismo e da direita à Casa de Nariño.


Folha de S. Paulo



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