General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva
Os brasileiros não querem intervenção militar e sim governos honestos, competentes e com autoridade moral e funcional. Governos que proporcionem desenvolvimento, segurança e bem-estar, em ambiente de liberdade com responsabilidade e justiça com legitimidade.
Governos honestos são exercidos por lideranças com valores éticos, morais e cívicos. Governos competentes têm estruturas constituídas por servidores, públicos e comissionados, selecionados pelo mérito, não pelo apadrinhamento, devotadamente dedicados ao serviço da nação e não a interesses político-partidários ou individuais. Governos com autoridade moral e funcional têm lideranças que dão exemplos de senso do dever, comprometimento com a sociedade, honestidade, austeridade e competência no desempenho de cargos e funções.
As Forças Armadas (FA) têm reputação de Instituições ética e moralmente saudáveis, demonstram elevada capacidade para cumprir diferentes missões e estão sempre prontas para servir à sociedade a qualquer hora e onde seja necessário. O papel desempenhado pelas FA na recente greve dos caminhoneiros foi fundamental, logrando êxito em poucos dias, com sereno rigor e sem emprego de violência. Elas fazem a diferença em um país onde a falta de solidariedade e a corrupção contaminaram amplamente da base ao mais alto nível da pirâmide político-social, tendo os Poderes da União perdido a confiança da população.
Nesse cenário de decadência moral e política, construído pelas esquerdas socialistas, a fabianista (1994-2002) e a gramcista (2003-2016), ambas aliadas à vetusta liderança patrimonialista, inclusive na prática da corrupção, o povo não vê saída pelas vias legais, posto que elaboradas para manter o poder do odioso conluio fisiológico e ideológico. Daí o crescente apelo por intervenção militar.
Dessa forma, não é justo condenar, a priori, os intervencionistas, embora ainda seja o momento de deles discordar. A maioria perdeu a crença nessa democracia para inglês ver, mas são de índole verdadeiramente democrática, patriótica e pacífica (não confundir com pacifista), tendo justos motivos para se preocuparem com o futuro do país.
Por outro lado, as eleições de 2018 não serão, por si só, o alvorecer de um novo Brasil. Democracia não se resume a eleições livres e não bastará uma grande renovação dos quadros do Executivo e do Legislativo. Nada mudará se os rumos do país continuarem a ser traçados por políticos patrimonialistas como Renan, Jucá e Temer (fisiológicos e não ideológicos); socialistas marxistas como Lula, Dilma, Gleisi e Lindebergh (servis ao Foro de São Paulo); ou socialistas fabianistas como FHC, Aécio, Alkmin e Serra (aliados ao globalismo internacionalista). Será a continuação das políticas do “toma lá dá cá”, dos interesses pessoais, partidários, ideológicos e apátridas, prevalecendo sobre o serviço à nação, da manutenção do ambiente facilitador da corrupção, que avilta a sociedade, da derrocada da autoestima nacional e do agravamento da cisão social, as duas últimas filhas diletas da nefasta e impatriótica ideologia socialista.
Ainda que surjam novas lideranças, será muito difícil e demorado recuperar uma sociedade ética e moralmente enferma pela corrupção endêmica e submetida a décadas de intensa campanha ideológica pelo desrespeito às leis e a tudo que represente autoridade e disciplina, pelo revisionismo da história para arrefecer o patriotismo e pela cisão social para criar um clima revolucionário. Uma sociedade sem a consciência de que a liberdade de cada um é limitada pela do próximo e desorientada pela falta de referenciais positivos a seguir.
As três décadas de liberdades democráticas mostraram que a sociedade não amadureceu o bastante, nem está educada o suficiente para ter total autonomia para conduzir o país. Ao contrário, ela foi deseducada e retrocedeu ao eleger, sucessivamente, governos que a afundaram nessa prolongada crise moral, política, econômica e social.
O idealismo ingênuo de um povo imaturo e de baixo nível educacional é explorado por formadores de opinião majoritariamente esquerdistas, ocupando setores decisivos, em prol da revolução socialista permanente, cuja origem está na década de 1920. A população vem sendo submetida a uma visão de viés socialista, maniqueísta e distorcida a respeito de direitos humanos, que impõe às maiorias não os legítimos direitos de minorias, mas seus interesses e os da revolução. Com a imposição autoritária do politicamente correto, visa-se padronizar opiniões e comportamentos, escravizando os cidadãos acomodados ou condenando social e judicialmente os que prezam a própria liberdade e dignidade. Além disso, procura-se impor políticas de igualdade e de distribuição de riquezas, que, sem o contraponto do mérito, são injustas com quem se esforça, produz e é útil, e beneficiam outros que delas usufruem sem nada produzir para a sociedade. O Estado patrão e provedor, sonho socialista, nunca solucionará as carências que pesam para o Brasil alcançar o futuro que sonhamos.
Só a ascensão de uma liderança centrista, que diminua e limite o tamanho do Estado, mantendo a flexibilidade para adequá-lo nas graves mudanças cenários; que tenha pensamento econômico liberal moderado e adote políticas sociais, cujos custos não impeçam um ritmo de desenvolvimento capaz de mantê-las e ainda gerar saldos para ampliar o progresso; que aplique um choque de valores éticos, morais e cívicos; que reforme a maneira de fazer política; e que transforme o país em uma Federação, de fato, com grande autonomia dos estados e municípios, responsabilidade fiscal e liberdade para empreender.
Defendo uma nova constituição, cujo projeto seja elaborado por uma comissão de notáveis e submetido à apreciação de uma Assembleia Constituinte para fazer sugestões e debater com a comissão, que teria a autoridade para aceitar ou não. O formato final seria submetido à votação popular.
Não defendo intervenção nem ditadura, civil ou militar, mas não tenho dúvidas de que o arremedo de democracia em vigor, a enfermidade moral da sociedade, a permanência das atuais lideranças políticas e a manutenção do utópico marco legal, inclusive constitucional, impedirão a retomada do progresso, segurança e bem-estar da nação.
Para ser bem claro e objetivo, a redenção do Brasil requer um governo com poder e autoridade apenas um pouco menos amplos do que os do regime militar. Democracia é algo abstrato e difícil de se definir concretamente, portanto, sua dose inicial e a evolução a patamares mais altos seriam temas para debate.
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