sábado, 5 de maio de 2018

Crise financeira prejudica atendimentos no hospital Beneficência Portuguesa

Consultoria do Sírio-Libanês é esperança de salvação para instituição

Falta de verba prejudica atendimentos no hospital Beneficência Portuguesa | Foto: Alina Souza

Falta de verba prejudica atendimentos no hospital Beneficência Portuguesa | Foto: Alina Souza

Um homem entra mancando em um hospital na região central de Porto Alegre. Ao solicitar pelo pronto atendimento, é informado pela recepcionista que o serviço está fechado. Poucos minutos depois, uma funcionária limpa o saguão quase vazio do local. Ela, que, como todos ali, não recebe salários, cobre as mãos com luvas de procedimentos cirúrgicos e não de limpeza, pois o material está em falta. As duas cenas, vistas na Beneficência Portuguesa, refletem a crise vivida em uma das instituições de saúde mais antigas da Capital, que tem como principal esperança de salvação uma consultoria que vem sendo feita pelo Hospital Sírio-Libanês e que termina no próximo dia 15.

“Todos aqui estão desesperados e não sabem o que fazer”, afirmou Neusa Gonçalves, a funcionária responsável pela higienização da Beneficência. Ela trabalha no local há cerca de um ano e comenta que desde então não tem recebido salários da forma adequada. Em março, disse, recebeu R$ 300 em vez dos R$ 1.150 a que teria direito. Aos 55 anos, afirma que tem sido sustentada pelo filho e que não tem nenhuma expectativa de voltar a ser remunerada normalmente. Neusa faz parte de um total de 120 funcionários do Hospital que não têm sido pagos devido à crise enfrentada na instituição.

Entre julho do ano passado e março desde ano, de acordo com uma fonte ligada ao Hospital que preferiu não se identificar, deveriam ter sido pagos R$ 5,5 milhões em salários, mas apenas cerca de R$ 500 mil foram depositados, ou seja, menos de 10% do total. Por ter assumido apenas no final de 2017, o presidente da Beneficência, Augusto Veit Júnior, disse não saber confirmar a informação, mas afirmou que o deficit da instituição é de aproximadamente R$ 80 milhões. De acordo com ele, os profissionais este ano receberam apenas dois vales de R$ 500 e uma folha de pagamento.

A crise na Beneficência pode ser vista na recepção - com a baixa circulação de pessoas -, na estrutura do prédio – que, em alguns pontos, lembra ruínas – e na falta do serviço de saúde sendo prestado. Com o pronto atendimento e leitos fechados, o Hospital tem apenas dois pacientes internados, com risco considerado baixíssimo. A maior movimentação, nos últimos meses, fica por conta de profissionais do Hospital Sírio-Libanês, que tem feito consultoria no local através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do governo Federal.

“Estamos precisando trabalhar e não tendo nesse momento um resultado de em que sentido se vai. A ideia é colocar o hospital em funcionamento tão cedo quanto possível, mas dependemos desses resultados”, comentou Veit. Segundo o presidente, o Sírio-Libanês tem até o dia 15 para apresentar análises ao Ministério da Saúde, que decide o que poderá ser feito no local de acordo com o interesse da União. Ainda conforme ele, que descarta qualquer possibilidade da instituição paulista assumir a gestão da gaúcha, as decisões do governo Federal podem vir a resolver os problemas financeiros em uma sequência. Isso porque a consultoria é da Beneficência como um todo e não especificamente com relação à questão salarial.


Apoio

A crise na Beneficência Portuguesa tem despertado a atenção da sociedade, que vem tentando ajuar na solução dos problemas. Na quinta-feira passada, por exemplo, a Fecomércio-RS e o Sindilei-RS repassaram à instituição R$ 12.700 que foram arrecadados em um leilão beneficente. O evento foi realizado no dia 5 de abril e leiloou camisas dos times de futebol do Campeonato Gaúcho autografadas pelos jogadores. O presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, comentou que o valor é simbólico quando comparado às dívidas atuais, mas que a ação ajudou também a dar visibilidade para a causa. Para o presidente da Beneficência, toda a ajuda é bem-vinda nesse momento.


Correio do Povo


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