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sexta-feira, 27 de abril de 2018

Mike Pompeo é confirmado nos EUA como secretário de Estado

Diretor da CIA passou por longa sabatina e votação teve oposição do Partido Democrata

Pompeo já representa os EUA em Bruxelas nesta sexta-feira | Foto: Jim Watson / AFP / CP

Pompeo já representa os EUA em Bruxelas nesta sexta-feira | Foto: Jim Watson / AFP / CP

O diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) americana, Mike Pompeo, foi confirmado nesta quinta-feira pelo Senado como secretário de Estado. Ele já representará o país na sexta-feira, em Bruxelas, na reunião de chanceleres da Otan.

Empresário, ex-militar e ex-legislador, Pompeo foi confirmado por 57 votos a favor e 42 contra, um resultado que indica que vários senadores da oposição, o Partido Democrata, votaram pela confirmação. Instantes após a votação, o juiz da Suprema Corte Samuel Alito foi à Casa Branca para Pompeo prestar juramento. Imediatamente depois, o novo secretário de Estado iniciou os preparativos para sua viagem a Bruxelas.

À frente da gigantesca máquina diplomática americana, Pompeo terá em suas mãos dois dos temas mais críticos atualmente: o futuro do acordo nuclear com o Irã e a delicada aproximação com a Coreia do Norte. No Departamento de Estado, Pompeo substituirá o bilionário executivo petroleiro Rex Tillerson, que depois de meses de tensas relações com o presidente Donald Trump foi demitido do cargo no mês passado.

Considerado um representante da “linha dura” no governo de Trump, graças à sua gestão como diretor da CIA, Pompeo lentamente se tornou um interlocutor com acesso privilegiado ao presidente.

Missão secreta

A confiança de Trump em Pompeo ficou clara ao informarem que o presidente enviou o diretor da CIA em uma missão secreta à Coreia do Norte, onde se encontrou com o líder Kim Jong-Un na capital, Pyongyang. O encontro entre Pompeo e Kim é o contato de mais alto nível até agora na preparação da esperada reunião de Trump com o líder norte-coreano, que pode acontecer no próximo mês.

Entretanto, a confirmação de Pompeo encontrou evidentes dificuldades no influente comitê de Relações Exteriores do Senado, que somente pôde sugerir a aprovação da nomeação depois de idas e vindas, e urgentes intervenções da Casa Branca. Os senadores do Comitê submeteram Pompeo a uma espetacular sabatina, na qual os representantes da oposição questionaram sua eventual independência no cargo por conta de sua proximidade pessoal com Trump.

De última hora, a intervenção de Trump evitou uma humilhação histórica para Pompeo, já que no Senado não há registros de que um indicado para secretário de Estado tenha sido negado por esse Comitê.

Agora, além do “falcão” Pompeo no Departamento de Estado, Trump tem outro “linha dura” em seu círculo mais próximo de assessores: o ultraconservador John Bolton, recentemente nomeado conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca.

E a missão secreta de Pompeo à Coreia do Norte pareceu ter dado frutos. Após esse encontro, Kim anunciou a suspensão dos testes nucleares e de mísseis norte-coreanos, ação que foi interpretada como um gesto de boa vontade ao encontro com Trump.

Balanço no gabinete

Esta surpreendente aproximação entre Trump e Kim, no entanto, contrasta com os choques públicos que o presidente manteve com Tillerson, que teria tentado abrir “um canal de comunicação” com o governo norte-coreano. “Tillerson “está perdendo tempo com isso”, chegou a afirmar Trump em uma mensagem no Twitter, posicionamento que o chefe de Estado agora parece ter modificado.

No caso do acordo assinado em 2015 entre Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia com o Irã, por conta de sua política nuclear, o papel de Pompeo não aparece precisamente como construtivo.

Desde que chegou à Casa Branca, Trump não esconde seu desejo de denunciar e se distanciar desse acordo, um passo que acabaria com o esforço diplomático que foi necessário para assiná-lo e teria consequências imprevisíveis na região. Tillerson, ao contrário, defendia que Washington permanecesse no acordo, uma sugestão que coincidia com a de todos os outros signatários.

Ao ser sabatinado pelo Senado para ser diretor da CIA, Pompeo hesitou ao afirmar que o Irã cumpria com suas obrigações no âmbito do acordo, mas ao ser questionado para ser secretário de Estado, se mostrou mais otimista. De qualquer forma, se os Estados Unidos decidirem abandonar o acordo com o Irã, isso deverá ter um impacto no grau de confiabilidade de um acordo similar com a Coreia do Norte.

Analistas locais concordam em assinalar que Tillerson havia feito uma aliança informal com o secretário de Defesa, Jim Mattis, para conter os impulsos agressivos do presidente. Agora resta ver se a presença de Pompeo e Bolton no gabinete não terá o efeito contrário.


AFP e Correio do Povo

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