Park Geun-hye foi declarada culpada por corrupção, abuso de poder e outros delitos
POR O GLOBO / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Park Geun-hye, à esquerda, chega a julgamento em tribunal de Seul - Ahn Young-joon / AP
SEUL — A ex-presidente sul-coreana Park Geun-hye foi condenada a 24 anos de prisão, nesta sexta-feira, por corrupção e abuso de poder. A ex-líder, de 66 anos, foi declarada culpada por negociar propinas milionárias de empresas multinacionais, pelo compartilhamento de documentos secretos do Estado, pelo corte de subsídios a artistas críticos ao governo e pela demissão de autoridades que resistiam ao seu abuso de poder. Filha do general e ditador Park Chung-hee — que governou a Coreia do Sul do golpe militar de 1961 até ser assassinado em 1979 —, ela foi presa em março deste ano.
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O juiz Kim Se-yoon considerou que Park "abusou do poder conferido a ela pelo povo, que manda no país, para causar o caos na administração nacional". A promotoria havia pedido pena de 30 anos em regime fechado. A ex-presidente deixou o cargo em março de 2017, alvo de um processo de impeachment em meio a um escândalo de tráfico de influência. Seu antecessor no poder, Lee Myung-bak, também está sob custódia e é investigado por corrupção.
"Apesar de todos os crimes, a acusada negou todas as acusações contra ela, não mostrou nenhum remorso e teve incompreensível atitude ao culpar Choi e outros", ressaltou o magistrado, referindo-se a Choi Soon-sil, uma amiga da ex-presidente que coordenava organizações que recebiam o dinheiro "doado" por empresas a pedido de Park.
Apoiadora de Park Geun-hye chora após condenação - Ahn Young-joon / AP
A queda da ex-presidente começou em meados de 2016, quando foi revelado que sua amiga e confidente, Choi Soon-sil, que nunca ocupou nenhum cargo oficial, aproveitou sua influência para conseguir que grandes companhias sul-coreanas lhe pagassem milhões de dólares. Assim, ela conseguiu US$ 70 milhões para as fundações que controlava, uma soma que utilizou para fins pessoais.
A sentença de Park chega três semanas depois de Choi ser condenada a 20 anos de prisão por aceitar subornos dos chaebol, ou conglomerados — inclusive da Samsung, potência do setor de eletrônicos, e da Lotte, gigante varejista. Foi durante o governo do pai de Park que aconteceu o chamado "milagre coreano", resultante em grande parte da aliança entre o Estado e as grandes empresas do país.
De acordo com o juiz Kim Se-yoon, Choi capitalizou seus "longos laços privados" com Park para solicitar subornos e "se intrometia amplamente nos assuntos de Estado". Choi já cumpria uma pena de três anos por outra acusação de corrupção, após ter sido declarada culpada de usar sua posição para solicitar favores para sua filha.
Park (ao centro, conduzida por agentes) deixa o local onde prestou depoimento antes de a Justiça aprovar sua detenção - Ahn Young-joon / AP
Shin Dong-Bin, presidente do grupo Lotte, de 62 anos, é acusado de ter entregado cerca de US$ 7 milhões em subornos para a ex-presidente Park Geun-Hye e sua confidente. O escândalo também respingou na principal empresa do país, a Samsung, cujo vice-presidente, Lee Jae-Young, foi detido no mês passado por conexão com o mesmo caso.
BOICOTE E PROTESTO
O escândalo de corrupção expôs o elo entre grandes empresários e políticos na Coreia do Sul e abalou a elite empresarial e política da nação asiática. A revelação das ilegalidades suscitou protestos em massa contra Park no ano passado. Nesta sexta-feira, porém, a decisão foi recebida com desalento nas ruas, onde se reuniram apoiadores da ex-líder, em geral pessoas mais velhas e conservadoras nostálgicas do governo do pai da ex-presidente e do "milagre econômico" que ele promoveu. Manifestantes sentaram-se na calçada para chorar ou marcharam em protesto contra a pena.
O afastamento de Park — ela foi substituída pelo progressista Moon Jae-in, eleito no ano passado — representou uma grande derrota para seu partido conservador Saenuri, antes chamado de Grande Partido Nacional, que dominava a política sul-coreana. Seus apoiadores desconfiam de Moon, principalmente por sua recente aproximação com a Coreia do Norte.
"A lei foi morta neste país hoje", disse Han Geun-hyung, 27 anos, um apoiador de Park, a primeira mulher a ocupar a Presidência sul-coreana.
Park não compareceu ao julgamento desta sexta-feira, que foi transmitido ao vivo pela televisão. A ex-líder promoveu um boicote às sessões judiciais como protesto por estar sob custódia. A defesa tem sete dias para entrar com recurso e tentar reformar a condenação.
Trata-se da terceira líder da Coreia do Sul condenada por crimes após deixar o cargo. Chun Doo-whan e Roh Tae-woo foram declarados culpados por traição e corrupção nos anos 1990. Chun foi um general que assumiu depois da morte do pai de Park e governou como ditador durante um ano até ser eleito em 1980, sendo responsabilizado pela morte de mais de 600 pessoas que protestavam contra a ditadura na cidade de Gwangju. Roh, também general, foi o último dos presidentes do ciclo de governantes militares, que só acabou em 1993.
O Globo
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