País com a maior extensão territorial do mundo tem muito mais a apresentar do que apenas vodca e balé
A casa da Copa do Mundo | Foto: Fernanda Pugliero / Especial / CP
A Rússia comanda, a partir de 14 de junho, o principal torneio de futebol do planeta. O país com a maior extensão territorial do mundo e que pertence ao mesmo tempo a dois continentes tem muito mais a apresentar do que apenas vodca e balé. Rússia e Brasil têm, inclusive, algumas semelhanças, como o “jeitinho especial de resolver as coisas”, além da capacidade de gingar.
A 75 dias do apito inicial da Copa do Mundo de 2018, a neve derrete com velocidade nas principais cidades russas. Onze delas hospedarão a edição de 2018 da Copa. Doze estádios recebem jogos – dois deles na capital Moscou. Entre as cidades-sede estão São Petersburgo, uma das cidades mais importantes e jovens do país, Sochi, que ficou famosa por causa da Olimpíada de Inverno em 2014, mas não tem time de futebol, e Kaliningrado, que é a única geograficamente desconectada do restante do território russo, um enclave entre a Polônia e a Lituânia.
Os torcedores brasileiros que desembarcam para acompanhar a 21ª edição do mundial têm sorte de ele acontecer durante o verão no Hemisfério Norte. Mas a escolha das cidades-sede não ocorreu por acaso. As eleitas ficam todas na porção ocidental da Rússia, mais próximas da Europa do que do Japão. É nessa parte do território que se localizam as maiores cidades do país. Por ali, as temperaturas podem até ficar abaixo de zero no inverno, mas os verões são temperados, atingindo os 20 graus e podendo chegar a 30 graus em alguns locais.
Entre as cidades-sede do mundial está São Petersburgo, uma das mais importantes do país
Em um país onde a planície siberiana ocupa mais de 70% do território e que ostenta o vilarejo mais frio do mundo, Oymyakon, onde as temperaturas chegam a 50 graus negativos no inverno, era de se esperar que o desenvolvimento urbano ocorresse onde faz algum calor, ao menos no verão. Há cidades na Rússia, como Oymyakon ou a militar Tiksi, no Norte do país, onde a paisagem permanece com cara de inverno mesmo durante junho ou julho. A neve nunca desaparece por completo.
O principal estádio do Mundial fica em Moscou e chama-se Luzhniki. Com capacidade para 81 mil torcedores, o local receberá 12 dos 64 jogos, incluindo as partidas de abertura e a grande final, no dia 15 de julho. Construído na década de 1950 e reformado especialmente para a Copa do Mundo, o estádio acolheu a abertura das Olimpíadas de 1980 – jogos que ficaram conhecidos pelo boicote Ocidental à então União Soviética e pela lágrima derramada pelo mascote Misha na cerimônia de encerramento. Inaugurado em março, o menor estádio da Copa está em Kaliningrado e tem espaço para 35.212 pessoas.
Para o torneio, sete dos 12 estádios foram construídos do zero. A Arena Zenit ou Estádio Krestovsky, erguido na ilha homônima em São Petersburgo, demorou dez anos para ficar pronto e é o mais caro do Mundial. O gramado foi inaugurado na abertura da Copa das Confederações, em 17 de junho do ano passado, com a partida entre Rússia e Nova Zelândia. É o segundo maior estádio da Copa, com 68.134 mil lugares, e sua construção foi cercada de controvérsias, com denúncias de exploração de trabalho escravo e corrupção envolvendo superfaturamento.
A previsão era que a obra iniciada em 2007 se estendesse por um ano e o orçamento estipulava custo de 220 milhões de dólares. Para concluir a casa do Zenit a tempo de receber a Copa das Confederações, entretanto, foi necessário desembolsar 43 bilhões de rublos, o equivalente a 750 milhões de dólares.
Catedral do Sangue Derramado, em São Petersburgo
Distantes e distintos, mas com algumas semelhanças
Não é só por causa das denúncias de corrupção envolvendo as obras da Copa do Mundo que Brasil e Rússia apresentam semelhanças. Apesar de distantes e distintos, os dois países possuem algumas afinidades. Ambos são gigantes territoriais, ainda que dentro do país com a maior extensão territorial do mundo, a Rússia, caibam quase dois Brasis, considerado o quinto maior do planeta. São 17,10 milhões de quilômetros quadrados versus 8,51 milhões.
A única cidade-sede da Copa de 2018 localizada na porção oriental dos Montes Urais, cordilheira que marca a fronteira entre Europa e Ásia, é Ecaterimburgo, terra natal do ex-presidente Boris Iéltsin. Dali até a capital do país são necessárias duas horas e dez minutos de voo sem escalas. Até Kaliningrado, três horas e meia. Nesse quesito, Rússia e Fifa foram espertas: não nomearam como sede nenhuma cidade que force um deslocamento superior a quatro horas de avião, o que deve facilitar a vida dos torcedores.
Na Copa do Mundo do Brasil, alguns fãs tiveram que cruzar o país para acompanhar os jogos. A distância de avião entre Manaus e Porto Alegre, duas das 12 cidades-sede em 2014, ultrapassa seis horas. E não há voos direto. Assim como o Brasil, a Rússia tem mais de um fuso horário. Por lá são nove, no Brasil, quatro. Esse talvez seja um drama para os torcedores que pretendem acompanhar os jogos pela televisão, já que a diferença horária entre Moscou e Brasília é de seis horas. Na Rússia, porém, a maioria das cidades-sede tem o mesmo fuso da capital.
Apenas Samara, Kaliningrado e Ecaterimburgo formam exceção. Situada a mil quilômetros a leste de Moscou e à beira do Volga, considerado o maior rio da Europa, a diferença horária entre Samara e a capital brasileira é de sete horas. Kaliningrado tem a menor diferença, apenas cinco. Já em Ecaterimburgo, a cidade-sede mais distante do Brasil, os relógios marcam oito horas a mais.
O país com a maior extensão territorial do mundo tem muito mais a apresentar do que apenas vodca e balé
Mas entre tantas divergências, existem semelhanças culturais. Os brasileiros podem não perceber, por causa da diferença de ritmos, mas os russos adoram dançar e até demonstram algum gingado. A capacidade de improvisação também marca presença. É comum encontrar ambulantes nas ruas das cidades russas, consertos em edifícios públicos ou privados feitos de forma inusitada e o espraiamento do ato de pechinchar.
A população também parece não se importar em definir programações em cima da hora – apesar de os russos serem extremamente pontuais, o que contrasta com a maioria dos brasileiros. Na culinária, um dos pratos mais tradicionais é a salada Olivier, conhecida no Brasil como salada russa. Os ingredientes são maionese misturada a batatas cozidas, ervilha, pepinos em conserva, cebola, ovo e cenoura. Outra delícia tipicamente russa e importada para o Brasil é o stroganov ou strogonoff, como é conhecido pelas bandas de cá. Trata-se de cubos de carne bovina picados servidos em molho de creme de leite. O borcht, sopa de beterraba e carne criada na Ucrânia, e o blini, um tipo de panquecas que podem ser servidas com caviar como acompanhamento, também são muito populares.
Rússia e Brasil fazem parte do BRIC, junto com China e Índia. Ambos países têm problemas econômicos estruturais e atravessam uma crise, apesar de continuarem a desempenhar papel de importantes players em suas regiões e mundialmente. Assim como a moeda brasileira, o rublo desvalorizou de forma brusca nos últimos anos. São necessários 57 rublos para comprar um dólar americano e os preços na Rússia são tão altos quanto os brasileiros.
Correio do Povo
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