sábado, 7 de abril de 2018

'Brasil precisa do mesmo entusiasmo anti-Lula para fazer faxina em todo o sistema político', diz biógrafo britânico

Fernanda Odilla e Nathalia Passarinho

Da BBC Brasil em Londres

Ex-presidente Lula discursa em ato contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff nos Arcos da Lapa em 11 de abril de 2016Direito de imagemFERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASILImage captionBourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados

Autor de Lula of Brazil, biografia de Luiz Inácio Lula da Silva lançada em 2008, o pesquisador britânico Richard Bourne diz que o petista "não foi tão forte quanto deveria" em combater a corrupção.

Questionado sobre a possibilidade de o líder petista ter se envolvido ou ter fechado os olhos para corrupção, Bourne afirma que Lula poderia ter sido mais "cuidadoso".

"Pelo que eu sei do início da carreira dele, eu diria que ele não foi tão cuidadoso quanto deveria. Certamente havia pessoas no PT, e não há dúvidas sobre isso, que estavam envolvidas em vários tipos de corrupção. Ele não foi tão forte quanto deveria. Quando comparamos o que aconteceu recentemente com seus primeiros anos de Presidência, o idealismo existiu, mas houve um triste declínio", disse Bourne à BBC Brasil.

O pesquisador, contudo, pondera que o Brasil precisa do "mesmo entusiasmo" anti-Lula para fazer uma "faxina" em todo o sistema político e punir todos os políticos envolvidos com corrupção no país.

Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo uma autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados. Para ele, o partido deveria agir contra os petistas envolvidos com corrupção.

No livro sobre o ex-presidente, o britânico já criticava o legado do governo do petista justamente por achar que era necessária uma postura mais incisiva contra a corrupção na política brasileira.

O vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, participa do Congresso da Fundação Ulysses Guimarães e do PMDB, em Brasília, em novembro de 2015Direito de imagemJOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASILImage captionPara biógrafo de Lula, é preciso fazer uma 'faxina' em todo sistema político brasileiro

Condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula é também alvo de outros processos e investigação por suspeita de crimes como corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nesta semana, o petista teve a prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro, depois de ter tido o pedido de habeas corpus para esperar em liberdade até o fim do processo negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Bourne diz não ter se surpreendido com a decisão do Supremo em determinar a prisão imediata de Lula, mas sim com a quantidade de votos favoráveis ao petista. O julgamento no STF terminou em 6 votos a 5 pela prisão do ex-presidente antes de exauridas todas as possibilidades de recurso.

'Faxina'

Para o pesquisador, contudo, os escândalos recentes de corrupção no Brasil indicam uma série de problemas não apenas com o PT, mas com toda a classe política. "O Brasil precisa de uma faxina em todo o sistema político. Eu gostaria de ver um entusiasmo (anti-Lula) em banir (o presidente Michel) Temer e outros membros da classe política que estão envolvidos em corrupção".

Questionado se a narrativa de vítima e de perseguição política é bem sucedida, Bourne diz "ser difícil de generalizar".

"Apoiadores fora do Brasil têm visto os fatos como vingança política. Mas há outros preocupados em ver o sucesso do Judiciário e da democracia que tendem a reconhecer que o juiz Sergio Moro, o Ministério Público e outros também merecem apoio", observa.

Manifestação no Rio de Janeiro, reúne milhares de manifestantes na orla da Praia de Copacabana em março de 2015Direito de imagemTÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASILImage captionRichard Bourne: 'Gostaria de ver o mesmo entusiasmo (anti-Lula) para banir Temer e outros membros da classe política envolvidos com corrupção'

A grande preocupação do pesquisador, contudo, é uma confiança exagerada no sistema judicial em detrimento da democracia. "Políticos envolvidos em corrupção têm sido banidos pelo Judiciário, não pelas pessoas nas eleições", diz.

Ele emenda que há o risco de os eleitores brasileiros continuarem votando em corruptos. "Meu receio é que os brasileiros não punam nas urnas os políticos envolvidos com corrupção".

Apesar de as acusações e da ordem de prisão contra Lula, Bourne destaca que o petista ainda é um líder extremamente popular e capaz de influenciar as eleições mesmo sem estar nas urnas. Para o biógrafo, Lula vai atuar nos bastidores e tem condições de transferir popularidade mesmo preso.


BBC Brasil

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