sexta-feira, 2 de março de 2018

UFRGS ministrará curso de extensão 'O golpe de 2016 e a nova onda conservadora do Brasil'

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas oferecerá as aulas, em data ainda a ser definida. Objetivo é debater os assuntos políticos recentes do país.

UFRGS oferecerá o curso de extensão ainda neste semestre, sem data definida ainda. 13 disciplinas já estão confirmadas (Foto:  Ramon Moser/Divulgação)

UFRGS oferecerá o curso de extensão ainda neste semestre, sem data definida ainda. 13 disciplinas já estão confirmadas (Foto: Ramon Moser/Divulgação)

Uniiversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ministrará, neste semestre, um curso de extensão intitulado "O golpe de 2016 e a nova onda conservadora do Brasil". Durante as aulas, será proposto o debate de questões políticas e sociais suscitadas pelas circunstâncias que culminaram com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Não há formatação e data marcada.

O curso foi aprovado na última quarta-feira (28) pelo conselho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e segundo a diretora, Cláudia Wasserman, é inspirado na disciplina optativa oferecida pela Universidade de Brasília, intitulada "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil".

As aulas ocorrerão no horário vespertino, a partir das 17h30. Terão formatos de "minipalestras", com uma fala de 20 minutos dos professores, e cerca de 40 minutos para debate. São gratuitas, e abertas somente para alunos da graduação e pós-graduação da Universidade, e contarão como horas complementares.

Por enquanto, o curso é constituído por 13 disciplinas, todas ministradas por professores dos cursos do Instituto. A ideia, como explica a professora, é que cada uma delas discuta um aspecto dos últimos acontecimentos políticos relevantes do Brasil. "Temos professores que estudam a questão do trabalho, dos sindicatos, então vai ter palestra sobre trabalho e quais as consequências que o golpe teve no campo do trabalhador. Outra professora que aborda relações de gênero, para fala sobre como ficaram estas questões após o golpe", detalha a professora.

Debate sobre se foi golpe ou não

Trabalhar temas atuais em sala de aula é rotina para o Instituto, que abriga cursos de graduação de História, Filosofia, Ciências Sociais e Políticas Públicas, além de pós-graduação com estas disciplinas. O objetivo é propiciar o debate, inclusive sobre se o impeachment pode ser considerado um golpe, ou não.

"Não me parece que alguém [no curso] que esteja discordando da ideia de que existiu um golpe. Mas é possível, que alguém discuta essa questão", diz Cláudia. "Eu mesma gostaria de discutir isso, mas acho que não vai dar tempo na minha palestra", adianta a professora, que abordará a política da América Latina e o avanço do conservadorismo.

Debater a política atual não é uma novidade no instituto, segundo Cláudia. "Passamos um ano inteiro discutindo a Constituição de 88", rememora a professora, que à época era aluna de mestrado da UFRGS. A diferença, na visão dela, é que hoje o debate está mais polarizado. "[Naquela época] todos os espectros políticos falavam em democracia, e tinham como eixo a redemocratização. Hoje, vemos que há uma onda conservadora, e há uma perspectiva de eventualmente não se respeitar a democracia", resume a professora.

Professores e disciplinas previstas para o curso

  • Alfredo Gugliano – O Golpe de 2016 e a desdemocratização do Brasil.
  • Arthur Ávila – O neoliberalismo e o golpe de 2016.
  • Benito Schmidt– Golpe, relações de gênero e pessoas LGBTTTQ.
  • Caroline Bauer – Os usos do passado e(no) golpe de 2016.
  • Céli Regina Jardim Pinto– A democracia estava indo longe: o golpe de 2016.
  • Clarice Speranza – O trabalho golpeado.
  • Claudia Wasserman– A Democracia estressada: derrotas sucessivas.
  • Fernando Nicollazi– A educação golpeada.
  • Luis Alberto Grijó – Capítulos de um golpe anunciado: a mídia empresarial brasileira.
  • Mara Cristina de Matos Rodrigues – A BNCC e o golpe.
  • Marcelo Kunrath – Movimentos sociais, contramovimentos e o golpe de 2016.
  • Natália Pietra Mendez – As mulheres e a resistência ao golpe de 2016.
  • Temístocles Américo Corrêa Cezar - História e memória no presente.
  • Francisco Marshal - A cultura e o golpe.

Nota contra críticas de ministro

Além da UFRGS, a criação da disciplina optativa da universidade brasiliense também motivou a inclusão do tema nas grades curriculares de outras instituições de ensino superior. A Unicamp, em Campinas, pretende incluir uma disciplina, e a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) propôs um curso com título semelhante ao da UFRGS, "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil".

A disciplina da UnB provocou críticas do ministro da Educação, Mendonça Filho, que pediu que o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público Federal e a Advocacia-Geral da União apurassem indícios de improbidade administrativa na criação da matéria.

A manifestação do ministro motivou uma nota do IFCH. "Nós entendemos que deveríamos lançar uma nota repudiando essa tentativa de intervenção de um ministro a uma disciplina regularmente aceita por uma universidade", explica Cláudia. Segundo ela, a medida fere a autonomia universitária. "O que é ministrado [em sala de aula] não é alvo de interferência, desde 1984", aponta Cláudia. Leia a nota abaixo.

Nota do conselho do IFCH

"No dia 21 de fevereiro de 2018 foi amplamente divulgado, pelos meios de comunicação brasileiros, o descontentamento do atual Ministro da Educação, o deputado federal licenciado José Mendonça Bezerra Filho, em relação a oferta de uma disciplina optativa do Curso de Graduação em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), cujo título é: "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. Igualmente foram abundantes as declarações do Ministro apontando para a possibilidade de tentar inviabilizar a oferta da referida atividade acadêmica, fazendo uso inclusive da Advocacia Geral da União, do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público Federal.

"Diante da gravidade desses fatos, o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH-UFRGS) acredita por bem manifestar sua preocupação com a possibilidade de que uma disciplina regularmente aprovada nas instâncias da UnB venha a sofrer uma censura ministerial que impeça o curso normal das atividades acadêmicas. O Instituto sublinha o seu comprometimento com a autonomia universitária e reforça seu compromisso histórico com a liberdade de ensino e a independência necessária para que a comunidade científica brasileira possa levar adiante a sua labor.

"Assim sendo, gostaríamos de prestar nossa total solidariedade à UnB e aos colegas afetados; também reafirmar o compromisso do nosso Instituto com a defesa intransigente de um ensino público e de qualidade, inclusive garantindo a liberdade das instâncias acadêmicas definirem o desenvolvimento das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão."


G1

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