quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Clínica ganhou 212,5% a mais com aplicação de vacinas vazias, diz ex-funcionária

Local foi interditado no Vale do Sinos por tempo indeterminado

Clínica foi interditada em 14 de fevereiro | Foto: Polícia Civil / Divulgação / CP

Clínica foi interditada em 14 de fevereiro | Foto: Polícia Civil / Divulgação / CP

Durante o mês de janeiro, período em que vacinas vazias foram aplicadas em pacientes, uma clínica de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, ganhou, pelo menos, 212,5% a mais do que nos outros meses, de acordo com a ex-funcionária do local Juliana Venske, 35 anos.

A técnica em enfermagem foi quem denunciou à Polícia Civil a proprietária da clínica por fraude na aplicação de vacinas. Na última quarta-feira, um agente da Polícia Civil foi até o local disfarçado de paciente e constatou a fraude. A proprietária foi presa em flagrante e o local interditado por tempo indeterminado.

“O faturamento do mês de janeiro foi mais de R$ 25 mil, sendo que nos outros meses era de R$ 6 mil, R$ 7 mil, no máximo, R$ 8 mil”, contou a ex-funcionária em entrevista ao Correio do Povo. Juliana, que trabalhou no local de agosto de 2017 a janeiro deste ano, acredita que a proprietária tenha aplicado falsas vacinas “por dinheiro mesmo”.

“Ela pulava na minha frente para vacinar”

Cerca de 40 pessoas foram vítimas da clínica no último mês, principalmente na segunda quinzena de janeiro, quando a então funcionária percebeu a fraude. Do total, aproximadamente dez eram crianças – que deveriam ter sido vacinadas com a meningocócica conjugada ACWY e com a vacina meningocócica B, que protegem contra meningites e infecções. Os demais eram adultos que buscavam vacina contra a febre amarela.

“Quando chegava alguém para se vacinar com a meningocócica ou febre amarela, ela (a proprietária da clínica) pulava na minha frente para fazer a aplicação. Eu comecei a estranhar, porque esse era meu trabalho”, contou.

Os pacientes pagaram entre R$ 300 e R$ 600 pela falsa aplicação de vacinas. A da febre amarela, por exemplo, não está disponível em nenhuma clínica particular. Apenas a rede de saúde pública tem doses da vacina, de acordo com o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis.

A então funcionária disse que a proprietária “simplesmente aplicava a agulha e não empurrava o êmbolo”. Ela garante que nenhum outro líquido teria sido aplicado nos pacientes. “Não temos soro e nem nada na clínica que possa ser aplicado”, disse Juliana.

Foto: Polícia Civil / Divulgação / CP

“Uma pessoa maravilhosa”

A funcionária, natural de Novo Hamburgo, pediu demissão em janeiro, assim que percebeu a fraude. “Não tinha mais como ficar”, ressaltou. Além disso, já pretendia se mudar para Parobé para morar com a família.

Juliana disse que foi difícil fazer a denúncia para a Vigilância Sanitária e Polícia Civil. “Foi pela minha índole (que denunciei). Como chefe, como pessoa, ela (a proprietária) era maravilhosa. Não tenho nada contra para falar”, disse a ex-funcionária.

A técnica em enfermagem cumpria aviso prévio quando a Polícia Civil interditou a clínica. Mas, no momento da ação, Juliana não estava no local.

“Providências legais estão sendo tomadas”, diz defesa

Procurada pela reportagem, a defesa da proprietária da clínica disse que só vai se manifestar após o inquérito policial, que deve ser finalizado até sexta-feira. O delegado responsável pelo caso, Rafael Liedtke, não pretende pedir prorrogação do prazo.

“Não estabelecerei qualquer tipo de contraditório com ela (ex-funcionária) via imprensa. As entrevistas dela serão objeto de manifestação no inquérito policial. Outras providências legais também já estão sendo tomadas”, declarou o advogado de defesa Luiz Gustavo Puperi.


Correio do Povo


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