A ideia será investir na disputa "pulverizada", com muitos candidatos do mesmo espectro político
PT prevê que Justiça deve barrar Lula e esquerda projeta eleições sem o ex-presidente | Foto: Hauler Audrey / AFP / CP
Oficialmente o Partido dos Trabalhadores (PT) diz que a candidatura do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva é "irreversível" e "irrevogável". A presidente da legenda, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que, mesmo que o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) ratifique a condenação, Lula pode recorrer às instâncias superiores. Na realidade, no entanto, a percepção de que a Justiça dificilmente permitirá que ele concorra pela sexta vez à Presidência é cada vez maior.
Há algumas semanas, um colaborador próximo do ex-presidente chegou a sugerir que, diante da indefinição do cenário, Lula dedique o restante de 2017 a elaborar um bom programa de governo e deixe para o ano que vem a definição sobre o candidato. O "conselheiro" ponderou outros fatores além do cerco fechado pela Lava Jato, como as incertezas sobre a reforma política e a Judicialização da campanha. Mas, segundo pessoas próximas, a reação de Lula foi "extremamente negativa".
Na semana passada, em conversa com deputados estaduais do PT, o advogado Pedro Serrano disse que, embora considere Lula inocente, acredita que o Judiciário sofre forte influência política e, portanto, a probabilidade maior é de que a condenação seja mantida. Mas também lembrou a possibilidade de recursos.
Esquerda e centro projetam cenário sem Lula
A incerteza em relação ao futuro político do ex-presidente faz com que os partidos de centro-esquerda, inclusive tradicionais aliados do PT como PC do B e PDT, já adotem estratégias para 2018 com cenários sem a participação do petista. Se ele for condenado em segunda instância e não puder concorrer, os antigos aliados do PT não parecem dispostos a se unir. A ideia, nesse caso, será investir na disputa "pulverizada", com muitos candidatos do mesmo espectro político.
"Nós já começamos a fazer consultas sobre nomes", admitiu o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que foi ministro nos governos comandados por Lula e por Dilma Rousseff. "Sem Lula na cédula não tem por que o PCdoB apoiar o PT. Na esquerda, vai ser todo mundo igual", emendou ele. O Partido Comunista abriu negociações com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, que nesta semana também conversará com a direção do PSB. Nada, porém, está fechado.
Nos bastidores, tanto integrantes da oposição como aliados do presidente Michel Temer dizem que muitos lances para 2018 estão congelados, à espera da definição sobre Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto. "Mas nós começamos o degelo", disse Silva, que não exclui a possibilidade de o PCdoB lançar candidato próprio à sucessão de Temer. "O desgaste com a política é tão grande que os partidos serão chamados a se posicionar. A tendência é que a disputa de 2018 seja pulverizada, como a de 1989."
O PDT, outro aliado histórico do PT, faz os cálculos para 2018 contando que Lula será barrado pela Justiça. "É mais do que legítimo o PT manter a candidatura de Lula, mas penso que ele não será candidato", afirma o presidente da legenda, Carlos Lupi. O partido aposta na candidatura de Ciro, independentemente de Lula ser candidato. No entanto, segundo Lupi, caso o petista fique fora da disputa, Ciro pode crescer nos redutos petistas. "É pouco provável que o PT venha a nos apoiar, por isso não muda muito para o PDT, mas, sem Lula, Ciro passa a ter um potencial de crescimento grande no Nordeste", disse.
O PSB também se prepara para outros voos. "Precisamos pesar, porém, se a candidatura própria vai nos ajudar em relação aos palanques estaduais. A hora é de aguardar um cenário de menos incertezas. Não podemos excluir ninguém antes de falar com as forças políticas", afirma o presidente Carlos Siqueira. Ele disse já ter conversado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que deseja concorrer ao Planalto pelo PSDB. O vice, Márcio França, é do PSB e, segundo Siqueira, será candidato ao Bandeirantes, em 2018.
Ciro também está na mira do PSB, tanto que um encontro com ele foi marcado para esta semana. "Além disso, a direção do PT pediu reunião conosco e ainda vamos falar com a Marina Silva (Rede)", contou Siqueira, para quem o quadro de 2018 se aproxima ao de 1989, quando havia 22 candidatos ao Planalto.
PSOL deve lançar candidatura própria
Principal adversário do PT no campo mais à esquerda, o PSOL desde o primeiro momento trabalha para ter candidatura própria, sem perspectivas de alianças, mas avalia que caso Lula não seja candidato tem chances de ampliar as alianças atraindo partidos e grupos que hoje circulam na órbita petista. O nome do PSOL hoje para 2018 é o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que ainda não definiu se aceita a empreitada.
Sem o petista na disputa, o partido espera filiar o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, e lançá-lo candidato ao Planalto. Boulos, que já admitiu em entrevistas a possibilidade de disputar eleições, faz mistério sobre o futuro. Aliados especulam que, com Lula, Boulos se candidataria a deputado federal. Para a direção da legenda, a eventual ausência do petista pode acelerar uma reorganização da esquerda, com a deserção de setores do PT, ainda para 2018. "Mas é claro que quanto mais tarde acontecer esta definição mais difícil fica", disse o presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros.
Marina Silva
A Rede da ex-senadora Marina Silva, que em 2014 ameaçou a reeleição de Dilma Rousseff, diz que a possível ausência de Lula em 2018 não interfere nos planos do partido. No entanto, aliados de Marina, admitem que ela pode herdar votos do petista. "Não estamos traçando duas estratégias", disse o coordenador nacional Bazileu Margarido. Mas o partido admite que caso Lula seja barrado o cenário eleitoral muda totalmente. "Se Lula não for candidato, todo mundo vai se mexer", avalia Margarido
Estadão Conteúdo e Correio do Povo
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