A imprensa protesta contra o discurso do general Mourão, mas ninguém reclama quando o esquerdista Vladimir Safatle defende na Folha de S. Paulo “o confisco dos aparelhos produtivos e o esvaziamento do Legislativo e do Executivo em prol da democracia direta, ancorada em assembleias populares deliberativas”.
Leia um trecho de sua entrevista:
O senhor defende uma pauta radical para a esquerda: democracia direta, confisco de aparelhos produtivos, restrição do direito à propriedade privada. Tal plataforma teria chance de vitória nas eleições?
A esquerda cresceu onde radicalizou suas posições. Isso ocorreu recentemente no Reino Unido, na França (onde a esquerda mais radical quase passou ao segundo turno das eleições) e na Espanha. A política foi para os extremos -e mesmo em um país como o Brasil isto está claro. O problema é que apenas um dos extremos parece não ter medo de dizer seu nome.
Mas eu lembraria que, depois de abandonar a noção de revolução como orientação para as ações políticas, a esquerda renunciou até mesmo ao horizonte de reformas.
Por exemplo, nos governo petistas nunca houve uma discussão honesta a respeito de tributação de grandes fortunas, de lucros e dividendos, de limitação do tempo de trabalho (de 44 para 40 horas), de auditoria da dívida pública, ou seja, tópicos classicamente reformistas.
Sugiro que a esquerda pare de tentar impedir a autodestruição do capitalismo e lute por uma sociedade na qual a atividade humana não esteja submetida à condição de trabalho produtor de valor, na qual a propriedade não seja mais a representação única da liberdade e na qual “austeridade” é algo que se cobra das elites, não do povo.
O Antagonista
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