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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Governo Temer cogita cortar gasto para conter rombo


Governo Temer

JULIO WIZIACK
MARINA DIAS
BRUNO BOGHOSSIAN
DE SÃO PAULO


Além de aumentar as metas de deficit fiscal de 2017 e 2018, o governo calcula que precisa gerar novas receitas e cortar ao menos R$ 10 bilhões em despesas com servidores e obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para fechar suas contas.

A área econômica detectou que os rombos previstos são maiores do que os R$ 159 bilhões que devem ser anunciados segunda (14) como meta para este e o próximo ano.

A decisão foi tomada em reunião entre o presidente Michel Temer, integrantes da cúpula do governo, parlamentares e os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento) nesta quinta-feira (10).

O governo pretende ampliar o deficit deste ano de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões e, para o próximo ano, de R$ 129 bilhões para R$ 159 bilhões. Os números já levam em conta a frustração de receitas com o Refis, que não deve avançar como o esperado no Congresso.

Sem o projeto de renegociação das dívidas com o fisco, o rombo real em 2017 é de R$ 174 bilhões, segundo cálculos da Fazenda. Por isso, Meirelles quer insistir no Refis.

O governo previa arrecadar R$ 13 bilhões com o programa, mas tenta negociar um novo texto que gere pelo menos R$ 10 bilhões. Outros R$ 5 bilhões do Orçamento poderiam ser bloqueados para que o rombo não ultrapasse os R$ 159 bilhões. O impasse foi um dos motivos que levaram ao adiamento do anúncio da revisão das metas, previsto para esta quinta.

O rombo real calculado para 2018 também está em torno de R$ 170 bilhões, mas o governo quer limitar esse deficit a R$ 159 bilhões.

A ideia é cortar gastos para atingir essa marca e, com novas receitas, tentar reduzi-la para R$ 149 bilhões ou menos. Isso seria um sinal ao mercado de que há uma trajetória de controle do rombo.

Entre as medidas em análise, está o adiamento para 2019 do reajuste salarial de algumas categorias dos servidores públicos, o que poderia gerar uma economia de R$ 9 bilhões. Além disso, o governo quer aprovar a proposta de cumprimento do teto salarial no serviço público e acabar com o auxílio-reclusão. Sobre receitas, a Fazenda estuda acabar com a isenção de IR sobre LCA (Letra de Crédito Agrícola) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário), além de taxar lucros e dividendos.

O aumento de impostos, porém, precisa ser aprovado pelo Legislativo, que resiste em arcar com o ônus de medidas impopulares às vésperas das eleições. Participantes da reunião desta quinta no Planalto descreveram um clima de animosidade entre a equipe econômica e a cúpula do Congresso.

"O caminho para não aumentarmos impostos, para a inflação ficar baixa e para os juros caírem, é de fato controlar as despesas. É a única saída", disse Meirelles.

Integrantes da equipe econômica trabalham com outras medidas que possam ampliar as receitas em 2018.

O projeto de regulamentar os jogos no Brasil ganhou força, com previsão de arrecadação de R$ 20 bilhões. A proposta precisaria ser aprovada pelo Congresso.

Caso não seja possível, há estudos para fazer a concessão da Lotex por cerca de R$ 2 bilhões, e, por meio de medida provisória, permitir que empresas, inclusive estrangeiras, possam atuar como concessionárias de apostas eletrônicas.

Os estudos estão avançados e indicam que seria possível levantar pelo menos R$ 6 bilhões. Por ano, o negócio geraria R$ 4 bilhões em impostos. No setor elétrico, o governo estuda leiloar sobras de energia. Para contratos de cinco anos, a União conseguiria levantar R$ 2,9 bilhões. Para 20 anos, a outorga poderia render até R$ 27 bilhões.

A Instituição Fiscal Independente, do Senado, prevê deficit de R$ 149,3 bilhões em 2018 para todo o setor público, acima da meta de R$ 131,3 bilhões —R$ 129 bilhões do governo federal mais o resultado de Estados, municípios e estatais. Além da redução do ponto de partida —2017 deve fechar com rombo maior que o previsto—, a previsão é que as receitas extras (não recorrentes) sejam menores e as despesas obrigatórias cresçam R$ 7,8 bilhões no próximo ano.


Folha de S. Paulo


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