quinta-feira, 24 de agosto de 2017

DROGAS: NOVOS CAMINHOS NA AMÉRICA DO SUL!

(Clóvis Rossi - Folha de S. Paulo, 20) 1. Informa a Reuters que um novo ponto quente de produção de cocaína está se firmando no Peru, nas proximidades da fronteira com Brasil e Colômbia. A informação é do ministro peruano da Defesa, Jorge Nieto. Complementam Robert Muggah e Katherine Aguirre, do Instituto Igarapé, precioso centro de estudos sobre a violência: o fato de a Colômbia ter posto fim ao conflito com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) não significa que a violência no país diminuiu em todas as áreas.

2. Em algumas delas, abandonadas pelas Farc, entrou, por exemplo, o Clã do Golfo, considerada a maior organização ilegal do país. Essas informações mostram a necessidade de monitorar as fronteiras, porosas às drogas e, por extensão, à violência a elas inexoravelmente associada. Basta saber que Peru e Colômbia são os dois maiores produtores de cocaína e que o plantio de coca na fronteira Brasil-Colômbia triplicou para cerca de 20 mil hectares nos anos recentes, segundo a Comissão Nacional para o Desenvolvimento e a Vida sem Drogas (Peru).

3. O Brasil está monitorando uma outra fronteira (com o Uruguai) para avaliar o efeito que nela terá o esquema de regulação para a produção, distribuição e venda legal de cannabis. Ou, posto de outra forma, demonstra interesse em um esquema completamente diferente da guerra às drogas que vigora no resto do mundo, Brasil inclusive. É cedo demais para que o monitoramento produza conclusões definitivas, ainda mais agora que o programa uruguaio chegou a um ponto crítico, que ameaça o seu prosseguimento.

4. A banca uruguaia, inclusive o estatal Banco República, nega-se a permitir que as farmácias inscritas para a venda (legal) da droga tenham contas, proibição que se estende aos cultivadores (também legais). Alega que os bancos locais ficariam impossibilitados de fazer qualquer operação internacional porque seus correspondentes no exterior estão proibidos de trabalhar com quem receba dinheiro proveniente da droga.

5. Abriu-se, com isso, uma tremenda crise, a ponto de o ex-presidente José Mujica, em cuja gestão se gestou o esquema de regulação, estar ameaçando travar qualquer votação no Congresso se não houver uma definição. O MPP (Movimento de Participação Popular), que Mujica lidera, é a corrente mais forte da governista Frente Ampla.

6. Um observador externo, o brasileiro Alexandre dos Santos Cunha, pesquisador visitante em políticas sobre drogas na Universidade da República em Montevidéu, dá uma ideia precisa do tamanho do problema: "A implementação da venda em farmácias seria relevante para expandir o mercado regulado legal aos cerca de 100 mil usuários eventuais de cannabis, que não teriam porque cultivá-la, e dos quais 12.460 já estão registrados".

7. Acrescenta: "É o ponto mais delicado do processo de regulação, pois nunca é simples criar um mercado, principalmente para uma substância cujo modelo de negócios é bastante pouco conhecido". Minha opinião: parece óbvio que o Brasil deveria ter todo o interesse em que prevaleça o modelo uruguaio, ora ameaçado. A alternativa é o Clã do Golfo.


Ex-Blog do Cesar Maia

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