1. As análises simples que procuram explicar as razões do voto parlamentar em situações complexas, como esta no caso da denúncia da PGR em relação ao Presidente Temer, aliviam a consciência dos analistas –politólogos ou jornalistas ou...-, mas às vezes estão equivocadas.
2. Tratar o envolvimento de deputados pelo executivo com promessas, cargos e antecipação de emendas ao orçamento como decisivas para explicar aqueles votos é, pelo menos, ingenuidade. Esses recursos também foram usados nos casos Collor e Dilma e não resultaram. E são usados todos os dias; e o mensalão é apenas um caso emblemático. No caso Dilma, num processo que durou 9 meses, ainda mais.
3. Há deduções diretas que ajudam a entender, a clara expectativa de vitória de Temer. O ponto seria a diferença que, conforme os números, poderia ser uma vitória de Pirro ou não. Por exemplo, se os votos contra Temer superassem os 60% e os a favor ficassem próximos da fronteira dos 33%. Mas não foi assim: a favor de Temer cerca de 55% e contra 45%.
4. Como parte dos 45% trataram dos desdobramentos políticos dos votos como desgaste um ano antes do início da campanha eleitoral de 2018 mas não romperam com as prioridades do governo, pode-se afirmar que, para efeito do voto nas leis complementares ou emendas constitucionais que virão pela frente, a vantagem do governo ficou pelo menos na fronteira da maioria constitucional.
5. O que surpreendeu a muitos analistas foi que com todo o ambiente favorável ao afastamento de Temer por parte dos meios de comunicação –TV, Rádio, Jornais e Revistas–, por parte dos artistas e intelectuais, por parte da opinião política mais a esquerda, e corporativa, e uso das redes sociais hipoteticamente impactados pelas votações da reforma trabalhista e futura da reforma previdenciária, em nenhum desses casos a maioria foi sensibilizada.
6. Nos casos de Collor e Dilma, ao contrário, o clima de opinião pública foi estimulado e claramente envolvido pelos mesmos atores (mídia, etc.). Nos dois casos a crise econômica foi um impulsionador. Mas a questão ética que envolveu Collor não envolveu Dilma diretamente.
7. No caso Temer, a questão ética foi colocada no eixo central e a crise econômica, apesar das projeções dos economistas, não ajudou Temer, fora de uma opinião localizada que não se pode confundir com opinião pública. Então o que explica a votação pró-Temer?
8. Com um pouco de reflexão se conclui que dois vetores são explicativos. O primeiro é a autonomia muito maior, hoje, da opinião dos deputados em relação aos meios de comunicação. Se a prioridade maior deles é sua reeleição em 2018, toda a enorme mobilização dos meios de comunicação não ampliou a percepção de risco dos deputados em relação a seus mandatos. E esse risco foi exaltado pelo noticiário e pesquisas. Mas não pegou.
9. Em alguma proporção porque a opinião pública difusa, hoje, está muito mais pulverizada que antes. As redes sociais ajudam a explicar esta pulverização. A proporção do entretenimento na mídia e nas redes, idem. Por outro lado, a questão da corrupção em relação aos políticos formou uma opinião generalizada, desgastando fortemente a imagem de todos. Assim, nas ruas e nos aeroportos não havia diferença entre eles. E os deputados perceberam isso. Uma espécie de tanto faz. Afinal, numa eleição, a disputa é entre eles.
10. O segundo vetor relacionado com o silêncio das ruas é que o desgaste de quem governa não veio, como das outras vezes, acompanhado de alternativas visíveis e colocadas, pelas quais valeria a pena lutar e se mobilizar. Esse vetor será um outro capítulo a ser tratado outro dia.
Ex-Blog do Cesar Maia
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