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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Você pode estudar de graça nessa faculdade americana. Com uma condição: trabalhar pesado

No College of Ozarks, não há qualquer cobrança de mensalidade. Em troca, alunos precisam trabalhar duro 15 horas por semana

  • Gabriel de Arruda Castro

Aluna trabalha no caixa de restaurante no College of Ozarks:  modelo único | Divulgação / College of Ozarks

Aluna trabalha no caixa de restaurante no College of Ozarks:  modelo único | Divulgação / College of Ozarks

Aluna trabalha no caixa de restaurante no College of Ozarks:  modelo único Divulgação / College of Ozarks


A crise no financiamento do ensino superior é um problema grave nos Estados Unidos: 44 milhões de estudantes ou ex-estudantes têm dívidas relacionadas à faculdade. Inflados pela garantia de verbas federais, os preços das mensalidades não param de subir. Num país onde mesmo as universidades públicas custam caro, e onde más decisões do governo pioraram o cenário, o assunto se tornou um tema central na pauta nacional. Mas, para os alunos de uma faculdade, isso não é problema.

O College of Ozarks, no interior do Missouri, tem uma política que parece irreal, mas têm se mostrado eficiente há mais de um século: ensino gratuito em troca de algumas horas de trabalho pesado. Quinze horas por semana, para ser preciso, além de uma semana de 40 horas a cada semestre, geralmente durante feriados.

Muito mais do que uma forma de poupar dinheiro, a exigência de trabalho é uma filosofia quase espiritual da instituição, que se define como cristã interdenominacional e tem perfil conservador. “Estamos fazendo com que os estudantes sejam parte de algo, que eles conquistem a própria educação. É diferente de emprestar dinheiro”, disse Valorie Coleman, diretora de relações públicas da instituição, à Gazeta do Povo.

A faculdade é dona de uma propriedade rural completa que vende produtos para estabelecimentos na região. Trabalhar ordenhando vacas (às 5 da manhã), cuidando do plantio ou operando as máquinas de processamento de carne são algumas das opções disponíveis aos alunos, que precisam passar por entrevistas antes de conseguir os “empregos” e são tratados como trabalhadores, não estagiários.

Também existem serviços mais leves: a faculdade é dona de um hotel com 15 suítes, um espaço para reuniões e um restaurante muito concorrido, todos abertos ao público geral (e bem recomendados na internet). Nesses locais, é possível arranjar um trabalho cozinhando, lavando pratos ou atendendo o público.

Ao todo, o College of Ozarks tem cerca de 1.500 alunos de 18 países – alguns brasileiros já passaram por lá, mas nenhum está matriculado no momento. A faculdade costuma aparecer entre as primeiras colocadas nos rankings regionais.

Por causa da gratuidade, o College of Ozarks tem alta procura. A taxa de aceitação gira em torno dos 12%, menor do que universidades conceituadas como Berkeley. Não é por acaso: por ano, o custo médio das mensalidades nos Estudos Unidos é de 35 mil dólares (cerca de 110 mil reais). Nas universidades de elite, o valor pode até dobrar.

O College of Ozarks tem por política oferecer 90% de suas vagas a alunos de baixa renda. Mesmo para os outros 10%, não há cobrança de mensalidades. “Muitas faculdades nos ligam todo ano para perguntar sobre o nosso modelo”, diz Valorie.

Mas, apesar dos empreendimentos comerciais e dos recursos poupados com a força de trabalho estudantil, a faculdade – que recusa qualquer auxílio federal – não conseguiria pagar suas contas sem um grupo de doadores regulares que contribui para manter a instituição de portas abertas.

“É simples de fazer? Não. Mas é possível? Com certeza”, diz Valerie.


Gazeta do Povo

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