terça-feira, 11 de julho de 2017

Saiba qual é o poder militar da Rússia e a quem ele ameaça

Especialistas citam fatores como a modernização do Exército do país. (Foto: Reprodução)


Diversas potências do Ocidente estão preocupadas com a política externa da Rússia sob o comando do presidente Vladimir Putin. A julgar pela reação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em episódios como a anexação da península da Crimeia pelo governo de Moscou e o apoio a separatistas no leste da Ucrânia, os passos do país estão sendo acompanhados com atenção.

O cenário é complexo, segundo alguns dos maiores especialistas ocidentais sobre o assunto. “A Rússia gostaria que pensássemos que sua militarização é uma resposta à Otan, mas isso não é verdade”, diz Keir Giles, diretor do Conflict Studies Research Centre, que reúne especialistas em segurança euroasiática.

“A reorganização e modernização militar em curso da Rússia, extremamente caras, e o programa de rearmamento já avançavam a todo vapor antes da crise da Ucrânia”, contextualiza. “Em 2013, os Estados Unidos retiraram todas as suas forças da Europa, enquanto a Rússia estava investindo milhões no reforço de seu poderio.”

Gorenburg diz que o objetivo do programa é dar “rapidez à tomada de decisões e à comunicação delas às tropas, além de melhorar a interoperabilidade entre diferentes áreas do Exército e substituir equipamentos soviéticos, que estavam chegando ao fim de sua vida útil.”
Os resultados foram significativos. “Em 2012, a Rússia já tinha conseguido reorganizar suas Forças Armadas, passando de um exército soviético de mobilização de massa a uma força permanente”, afirma Michael Kofman, do Instituto Kennan, dos Estados Unidos.

Aperfeiçoamento

Isso veio acompanhado por um intenso regime de testes de capacidade de resposta rápida e inúmeros exercícios, até o ponto, em 2014, em que “o exército russo havia melhorado consideravelmente em comparação com seu desempenho medíocre na guerra contra a Geórgia”, diz Kennan.

Para responder à possibilidade de uma guerra na Ucrânia a médio e longo prazo, a Rússia passou grande parte dos últimos três anos reposicionando unidades ao redor do país, construindo novas divisões, rearranjando brigadas e criando um novo exército de armas combinadas.

“A intenção é que as forças terrestres russas estejam posicionadas do outro lado da fronteira, caso precisem de reforços no leste da Ucrânia, invadir por vários vetores ou simplesmente para convencer a nação vizinha de que podem retomar o controle de regiões separatistas na hora que quiserem”, frisa o norte-americano. “Eles se reorganizaram para serem capazes de enviar tropas de combate à fronteira ocidental o mais rápido possível.”

Exército

Kofman destaca, ainda, o papel fundamental do Exército russo. “A reforma, a modernização e a experiência de combate adquiridas em campanhas na Ucrânia e na Síria terão efeitos duradouros nas Forças Armadas russas”, avalia. “A Rússia tem capacidade de implantar uma força decisiva em qualquer lugar de sua fronteira, superando qualquer ex-república soviética.”

Em relação a seu arsenal nuclear estratégico, a Rússia não está apenas em pé de igualdade com os Estados Unidos, como também está à frente em modernização e investimento em armas nucleares não estratégicas. Enquanto as forças convencionais russas são capazes de impor danos consideráveis até a adversários tecnologicamente superiores, como a Otan, em um conflito aberto.

Acima de tudo, o que dá à Rússia uma vantagem local imediata é a preparação, a proximidade e a capacidade de concentrar rapidamente um alto poder de fogo. Trata-se de uma potência euroasiática e que emprega muitos recursos em batalha, mas sua força se destaca quando o combate é perto de casa.

O orçamento de defesa e pesquisa da Otan deixa o da Rússia para trás, assim como a capacidade da aliança de mobilizar forças e equipá-las para um conflito prolongado. O Exército russo não está estruturado para manter um território substancial ou para mobilizar forças necessárias a um conflito de longa duração. Mas a Otan precisa estar preparada, na opinião dos especialistas.

Essa recém-recuperada confiança, no entanto, não deve ser confundida com um desejo de deflagrar um ataque militar ao Ocidente. Na verdade, a ameaça imediata dos russos pode vir de uma guerra de informações e de campanhas cibernéticas direcionadas ao Ocidente. Essa batalha já está acontecendo. E o Ocidente está igualmente despreparado para enfrentá-la.


O Sul

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