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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Primeira colônia na Cisjordânia em 25 anos divide israelenses

israelenses

Daniela Kresch/Folhapress

Máquinas começam a limpar terreno onde será construída a colônia de Amichai, na Cisjordânia

Máquinas começam a limpar terreno onde será construída a colônia de Amichai, na Cisjordânia

DANIELA KRESCH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM AMICHAI (CISJORDÂNIA)


Entre videiras e oliveiras, colinas amareladas e esverdeadas, um novo vilarejo começou a ser construído. Não será, no entanto, uma cidadezinha qualquer.

Trata-se da primeira colônia construída pelo governo israelense em 25 anos na Cisjordânia –território reivindicado pelos palestinos para formar, com a faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, um Estado independente.

A construção de novas colônias havia sido suspensa em 1992 pelo premiê Yitzhak Rabin (1922-1995) pouco antes da assinatura dos Acordos de Oslo (1993). A ideia era não estabelecer novos vilarejos na Cisjordânia –a qual Israel controla há 50 anos– até que um eventual acordo de paz entre israelenses e palestinos fosse assinado, determinando as fronteiras finais entre os dois lados.

Mas o governo do atual premiê, Binyamin Netanyahu, decidiu rever essa orientação. As primeiras retroescavadeiras para as obras de infraestrutura da colônia de Amichai foram acionadas no dia 20 de junho. O custo estimado é de 127 milhões de shekels (R$ 118 milhões).

Amir Cohen - 16.mar.2017/Associated Press

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, participa de reunião de gabinete em Jerusalém

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, em março

O futuro vilarejo, próximo ao já tradicional assentamento de Shiló, contará, segundo o planejamento, com 102 casas (750 moradores). Lá, vão morar todas as 42 famílias (300 pessoas) retiradas da colônia de Amona, que ficava há poucos quilômetros dali.

Amona foi esvaziada e destruída pelos próprios israelenses em 1° de fevereiro, depois de um longo processo judicial pelo qual agricultores palestinos conseguirem provar, na Suprema Corte de Israel, que eram legítimos donos das terras.

Mas os líderes da colônia não acreditam, até hoje, que os documentos apresentados sejam legítimos. Como em retiradas anteriores (da faixa de Gaza, em 2005, e de algumas casas da própria Amona, em 2006), houve confronto entre os moradores e as forças de Israel. Os moradores só aceitaram sair depois da promessa de Netanyahu de que seriam assentados em outra parte da Cisjordânia.

A promessa levou às obras para a criação de Amichai –"Meu povo vive", em hebraico. O nome também é uma homenagem ao assentamento demolido (as duas primeiras letras de "Amona" unidas à palavra "chai", vive).

O governo de Netanyahu é composto apenas por partidos de direita e extrema-direita, que se opõem à criação de um Estado palestino. Se algum deles deixar a coalizão liderada pelo Likud, o premiê pode perder o cargo, o que tenta evitar satisfazendo as demandas de seus aliados.

Mas as obras podem parar a qualquer momento. Em 22 de junho, a primeira ação pedindo o fim da construção foi enviada à Justiça pela ONG israelense "Yesh Din" ("Há Responsabilidade"), de extrema-esquerda, que se opõe aos assentamentos.

"Entramos com a ação porque há ilhas de propriedades privadas palestinas dentro da área destinada a Amichai. E a delimitação do perímetro está sendo feita de forma nada transparente", diz Gilad Grossman, da "Yesh Din".

O advogado Avichai Boaron, que representa os retirados de Amona, nega a acusação e afirma que Amichai fica em terras do governo (destinadas ao público): "Esperamos que o premiê não deixe que nenhum elemento como esquerdistas, ONGs de esquerda ou gente da União Europeia pare com as obras."

Segundo Boaron, os retirados receberão uma indenização ínfima diante do que valiam suas casas. Alguns ainda pagam financiamento a bancos. Hoje, os ex-moradores vivem em pequenos quartos de um internato do assentamento de Ofra.

"Crio meus sete filhos em apenas dois quartos de poucos metros quadrados. Uma família não pode viver assim. Somos refugiados", diz Elad Ziv, 45, um dos retirados.

Para Elad, não há outra opção a não ser esperar a construção de Amichai.

"Aqui é a terra da tribo hebraica de Benjamin. Nossos antepassados viveram aqui há 3.500 anos. O rei Davi esteve nesta montanha. Esta é nossa terra", afirma.

Editoria de Arte/Folhapress

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Folha de S. Paulo

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