sexta-feira, 7 de julho de 2017

PF: Lava Jato está "a pleno vapor" e fim de equipe no PR é "adequação à realidade"

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

Divulgação/Polícia Federal

  • O delegado Igor Romário (esquerda) e o superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco

    O delegado Igor Romário (esquerda) e o superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Franco

O delegado Igor Romário de Paula, que coordena as investigações da Operação Lava Jato na Polícia Federal do Paraná, confirmou no começo da noite desta quinta-feira (6) que a operação não contará mais com uma equipe exclusiva no Estado. No entanto, segundo ele, isso se reflete "quase de forma irrelevante" no trabalho desses policiais.

A declaração foi dada em entrevista coletiva concedida em Curitiba junto com o superintendente da PF no Paraná, Rosalvo Ferreira Franco, depois do anúncio da integração dos grupos de trabalho exclusivamente dedicados à Lava Jato e à Operação Carne Fraca à Delecor (Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas). Segundo Franco, a informação foi noticiada de "maneira distorcida".

"Em nenhum momento o grupo da operação Lava Jato foi extinto, pelo contrário, ele foi aumentado com essa readequação que está ocorrendo", afirmou. "Ela [Lava Jato] está a pleno vapor e os trabalhos estão ocorrendo normalmente."

Igor Romário negou que os delegados da equipe da Lava Jato foram comunicados informalmente sobre a mudança de estrutura. "A equipe de delegados que trabalha no Estado já sabe disso há mais de um mês", afirmou.

As medidas foram duramente criticadas pela força-tarefa da Lava Jato no MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná). Em nota, os procuradores consideraram as mudanças como um "retrocesso" (veja mais abaixo).

"Adequação à realidade"

Segundo o delegado, a decisão de acabar com os grupos exclusivamente dedicados à Lava Jato e à Carne Fraca no Paraná foi uma "adequação à realidade" diante do fato de que a Lava Jato se espalhou pelo país, e com ela os investigadores. Outro aspecto que contribuiu para a mudança foi que a demanda relativa à operação "é bem menor que a do ano passado". Diante disso, a solução mais rápida com os recursos disponíveis foi "incorporar todo o efetivo possível" da PF no Paraná na investigação.

"Obviamente, a Lava Jato vai continuar sendo a investigação prioritária, como a Carne Fraca também", afirmou.

Igor Romário disse ainda que não houve qualquer interferência do comando da PF em Brasília ou "recado para parar investigações".

De acordo com o delegado, a equipe da Delecor terá cerca de 70 policiais e 14 peritos, "o maior grupo de investigação atuando hoje no Brasil", servindo para tornar a apuração "permanente".

As recentes notícias de que a PF está sem orçamento para emitir passaportes, por exemplo, não interferem na Lava Jato, afirmou Igor Romário. Segundo ele, apesar de "uma previsão de dificuldade orçamentária para o final do ano", há também um planejamento para atender às investigações prioritárias de combate à corrupção.

"Quem fala que a investigação vai terminar no ano que vem... Não tem como dizer que vai acabar nesse ano ou no ano que vem", disse.

Procuradores criticam mudanças

A força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, formada por procuradores do MPF-PR, disse em nota que o fim da equipe da Polícia Federal no Estado exclusivamente dedicada ao tema é um "evidente retrocesso", "prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente."

Para os procuradores, "a redução e dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia Federal não contribui para priorizar ainda mais as investigações ou facilitar o intercâmbio de informações. Pelo contrário, a distribuição das investigações para um número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava Jato prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados."

A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) também divulgou nota sobre o assunto, dizendo que o fim do grupo de trabalho exclusivo para a Lava Jato no Paraná "pode representar um retrocesso indelével para a operação mais extensa e importante de combate à corrupção do país".

Segundo a entidade, "o MPF, a despeito de estar sujeito às mesmas restrições orçamentárias impostas à Polícia Federal, aumentou nos últimos tempos as equipes dedicadas à Lava Jato, inclusive em Curitiba. O País espera também de todos os demais órgãos envolvidos na investigação, em particular da Polícia Federal, que, como até hoje têm feito, mantenham o mesmo esforço, e a mesma prioridade."


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