sábado, 15 de julho de 2017

Oposição faz plebiscito simbólico como ofensiva final contra Maduro

Venezuela registrou quase 100 mortes protestos por conta da crise no país

Oposição faz plebiscito simbólico como ofensiva final contra Maduro | Foto: Federico Parra / AFP / CP

Oposição faz plebiscito simbólico como ofensiva final contra Maduro | Foto: Federico Parra / AFP / CP

Os opositores venezuelanos votarão no domingo em um plebiscito simbólico contra o presidente Nicolás Maduro, o que anunciam como sua ofensiva final depois de quase quatro meses de violentos protestos que aprofundaram o caos e a anarquia institucional.

Com um país estagnado e sobressaltado por quase 100 mortos nos protestos, a oposição e o governo travarão um intenso confronto a favor e contra a Assembleia Nacional Constituinte, convocada por Maduro. O governo, em plena campanha para a eleição em 30 de julho dos 545 constituintes, promove a reforma constitucional como a única saída para a convulsão política e social e o colapso econômico do país petroleiro.

"Nesse dia será definido o destino da Venezuela. Vamos à Constituinte para salvar a pátria da agressão dos fascistas, dos imperialistas e dos violentos", afirmou o presidente. A opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) considera a iniciativa uma "fraude" com a qual o governo tenta se perpetuar no poder, após 18 anos de governo chavista.

"Maduro quer transformar a Venezuela em Cuba e não podemos permitir. Por isso, neste domingo, devemos todos sair para votar", convocou Julio Borges, presidente do Parlamento, de maioria opositora. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, avaliou nesta sexta que a consulta popular promovida pela oposição pode "deter o colapso institucional" do país.

Em uma mensagem divulgada em vídeo, Almagro explica que o plebiscito é respaldado pela Constituição venezuelana de 1999, e que os cidadão poderão participar "para marcar o caminho de retorno à democracia". Em contrapartida, acrescentou, a Assembleia Constituinte convocada pelo governo para 30 de julho não encontra base legal na Constituição.

Sem o aval do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao governo, a MUD celebrará a consulta popular confiante de que milhões de pessoas votarão para demonstrar uma contundente rejeição à Constituinte. Neste dia o governo fará uma simulação das eleições à Constituinte organizada pelo CNE, cuja presidente Tibisay Lucena considera o plebiscito mais como um "protesto" ou "barricada".

Com a radicalização do conflito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta sexta em comunicado que as partes devem dialogar de maneira "urgente" para erradicar a violência e negociar um "caminho constitucional".

Votação atípica

Em meio à radicalização do conflito, em nenhuma das duas votações participarão as respectivas contrapartes. Portanto, ambos ganharão.

A oposição, o chavismo crítico liderado pelo procuradora-geral, Luisa Ortega, e a Igreja católica rejeitam a Constituinte por não ter havido consulta prévia.  Em seu pedido para que a população se rebele contra o que chama de "ditadura", a MUD vê o plebiscito como a "hora zero", um detonante da fase definitiva em que espera tirar Maduro do poder, com protestos em massa e simultâneos, ou uma greve geral.

"Já estou cheia, cansada de não conseguir comida, medicamentos ou salário não me basta. Estamos lutando pelo país que queremos", disse à AFP, em um protesto, uma enfermeira de 29 anos, escondendo seu rosto com um lenço.

Apoiado pelos poderes eleitoral e judicial e pelas Forças Armadas, Maduro acredita que terá a seu lado um "suprapoder" que regirá a Venezuela por tempo indefinido, podendo anular um Parlamento opositor e um Ministério Público rebelde.

No campo socioeconômico, o governo promete elevar a patamar constitucional os programas sociais, o controle de preços para frear a inflação - que o FMI calcula em 720% para 2017 - e o sistema de distribuição de alimentos subsidiados contra a grave escassez.

"Podemos estar insatisfeitos com a revolução por certas coisas que não estão funcionando. Não nos deixamos enveredar pela direita e vamos todos votar porque somos revolucionários", disse o dirigente juvenil Steven Márquez.

Luis Vicente León, presidente da Datanálisis, disse que "nessas duas votações atípicas não é importante no que as pessoas irão votar, e sim que elas vão votar".

O que está em jogo

Embora 80% dos venezolanos rejeitem o governo de Maduro, segundo León, a oposição tem o desafio de fazer do plebiscito um "motivador do protesto pacífico para conseguir a saída do governo".

Para Maduro, o objetivo é que a Constituinte, desaprovada por 70% dos venezuelanos segundo o Datanálisis, tenha "legitimidade", detenha a fissura no chavismo e a rejeição internacional, e consiga que "a revolução se mantenha, ainda que sendo minoritária", acrescentou.

"Será muito complicado para o governo dar viabilidade ou governabilidade a uma Constituinte que nasceria com uma grande abstenção, em contraste com uma consulta com participação alta", disse o analista Benigno Alarcón, para quem embora plebiscito "não seja legalmente vinculante, é politicamente vinculante".

O plebiscito também perguntará aos venezolanos se concordam com uma mudança dos poderes públicos, incluindo o governo, e sobre a exigência de que as Forças Armadas - principal base de sustentação de Maduro - respeitem a Constituição.

A oposição instalará para a consulta - apoiada pela ONU, pela OEA e com cinco ex-presidentes latino-americanos como observadores - cerca de 14,3 mil mesas de votação na Venezuela e aproximadamente 500 em 80 países; enquanto o poder eleitoral disponibilizará cerca de 2 mil urnas na simulação.


AFP e Correio do Povo

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