Serão instalados 1,6 mil locais de recolhimento de votos para plebiscito
Oposição anuncia "hora zero" em ofensiva contra Maduro | Foto: Federico Parra / AFP / CP
A oposição realizará em 16 de julho um plebiscito simbólico para que os venezuelanos decidam sobre a Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro, com a qual o líder chavista busca resolver a grave crise que abala o país. A consulta, sem a participação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acontecerá duas semanas antes da eleição dos legisladores da Constituinte, um "superpoder" que irá reger o país por tempo indeterminado.
No que chamaram de a "hora zero" em sua ofensiva contra Maduro, a oposição anunciou a consulta popular que marcará o início de um levantamento em massa e simultâneo em todo o país, durante um ato em Caracas com apoio de vários setores sociais. "Convocamos este 16 de julho para escolher o futuro do país neste processo nacional de decisão soberana", disse Julio Borges, presidente do Parlamento, em seu discurso.
A oposição instalará 1,6 mil locais de recolhimento de votos para o plebiscito, que acontecerá em paralelo com os protestos realizados há três meses e que já deixaram 89 mortos. A oposição considera a Assembleia Constituinte uma fraude com a qual o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), situação, pretende se perpetuar no poder e se esquivar das eleições, incluindo as presidenciais do fim de 2018.
Ponto de ruptura
Para o cientista político Luis Salamanca, trata-se de um ato "não vinculante" e "moralmente simbólico", embora não detenha a Constituinte: "serve para mobilizar as pessoas, ainda que o governo o ignore. Somente uma declaração da Força Armada poderia parar esta loucura", declarou.
Na consulta também perguntarão aos venezuelanos o papel que demandam aos funcionários e à Força Armada "para restituir a ordem constitucional" e se apoiam a "renovação dos poderes públicos que se encontram à margem da Constituição".
"É uma tática política que será feita com uma grande pergunta nacional, se fundamentando no princípio da soberania popular, buscando deslegitimar o regime, a Constituinte, Maduro, e buscar uma transição", afirmou o constitucionalista José Vicente Haro.
Segundo a empresa Datanálisis, sete em cada 10 venezuelanos rechaçam a Constituinte. O plebiscito será um cenário "para que as pessoas expressem o que o regime não lhes deixa expressar", apontou Salamanca. A oposição o assume como um "ponto de ruptura", segundo o deputado Freddy Guevara. "Vamos iniciar a fase final, todos os mecanismos de protestos em todo o país, ao mesmo tempo e de maneira indefinida", disse. "Estamos entrando na hora zero. O governo fixou 30 de julho para formalizar a ditadura e então temos que jogar tudo", advertiu o líder opositor Henrique Capriles.
A oposição convocou um bloqueio das ruas em todo o país nesta terça-feira para aumentar a "pressão e continuar encurralando a ditadura até que saia do poder", de acordo com Guevara.
Para defender a democracia
O presidente assegura que as manifestações buscam derrubá-lo com o apoio dos Estados Unidos e sustenta que a "Constituinte vai devolver a paz" e "trará a recuperação econômica" ao país. "É a solução para os problemas da Venezuela, é a solução porque é mais e a melhor democracia", expressou Maduro nesta segunda-feira em um ato de campanha para a Constituinte.
Aliados de Maduro adiantaram que a Constituinte anulará o Parlamento e terá o poder de destituir a procuradora-geral, Luisa Ortega. Na véspera de seu comparecimento ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que decidirá se irá abrir um julgamento que levaria a sua destituição, Ortega chamou os venezuelanos, e em particular o Parlamento, a lutar pelo restabelecimento da democracia.
"Agora, mais do que nunca, temos que nos unir, somar esforços para restituir o Estado de direito, a independência dos poderes públicos, a qualidade de vida e a paz que merecemos", disse Ortega em um vídeo gravado em seu gabinete e divulgado no Twitter.
Pouco antes, fez a mesma solicitação em um discurso inédito no Legislativo: "lutemos pela democracia. Não importa que pensem diferente de nós", pediu à ampla maioria opositora. Ortega denunciou nesta segunda que funcionários da Controladoria tentaram entrar à força na sede da Procuradoria em todo o país com a intenção de investigar o seu trabalho.
AFP e Correio do Po
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