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segunda-feira, 3 de julho de 2017

JBS usava supermercados para pagamentos em espécie a políticos

Paulo Whitaker - 1.jun.2017/Reuters

General view of Brazilian meatpacker JBS SA in the city of Jundiai, Brazil June 1, 2017. REUTERS/Paulo Whitaker ORG XMIT: PW100

Unidade do frigorífico JBS em Jundiaí, no interior de São Paulo

FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO

03/07/2017 02h02

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Ao lado de valores milionários e nomes de políticos dos mais variados partidos, supermercados. Planilhas de pagamentos do frigorífico JBS listam diversos redes varejistas pelo país como fontes de pagamentos em dinheiro vivo para campanhas eleitorais.

Segundo os delatores, o frigorífico combinava com os supermercados pagamentos pelos seus produtos em espécie e, a seguir, destinava as quantias diretamente a emissários dos políticos beneficiados.

O ex-executivo Ricardo Saud disse que os supermercados não sabiam do que tratavam esses pagamentos nem tiveram qualquer tipo de vantagem.

O ex-funcionário Florisvaldo Caetano de Oliveira, também delator, diz que o esquema envolvia até o transporte de quantias por meio de carros-fortes.

Entre os políticos apontados como beneficiados com pagamentos via supermercados, estavam o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD).

Ricardo Saud mencionou ainda uma entrega de R$ 1 milhão em um supermercado de Curitiba, em 2014, para um irmão do governador paranaense Beto Richa (PSDB), mas não explicou as circunstâncias desse pagamento.

Ao falar dos pagamentos para o senado tucano, o delator disse que quem recolhia o dinheiro nos varejistas era Frederico Pacheco, primo de Aécio que foi preso na Operação Patmos e permaneceu um mês na cadeia. O total em espécie para o tucano, por essa forma, disse, foi de R$ 4,3 milhões.

O delator afirmou que negociou com dois supermercados para fazer pagamentos à vista por produtos da JBS, pagos em parcelas pelos donos do supermercado. "Eu dizia: 'ó, o Fred vai aí, vai pegar um dinheiro para mim'".
Saud não citou o nome dessas empresas em seu depoimento, mas em uma planilha de pagamentos consta o nome "Super BH".

No caso de Cunha, Florisvaldo Caetano falou na rede Guanabara. Disse que foi buscar o dinheiro em uma loja no Rio em uma ocasião, em 2014, após se encontrar com Altair Pinto, braço-direito do ex-deputado e alvo na Patmos. A quantia, de cerca de R$ 500 mil, foi entregue em uma mala, disse o delator.

Com Colombo, a loja citada era do grupo Angeloni, em Florianópolis.

O ex-funcionário da JBS, que integrou o conselho fiscal do frigorífico até o ano passado, disse que "em vez de eles [mercados] pagarem a fatura, já ficava acertado que iriam me pagar o dinheiro em espécie".

Apontado por seus superiores como um dos principais entregadores de dinheiro da companhia, ele mencionou ainda em depoimento lojas que pertenciam à própria JBS.

"A JBS tem cem lojas de carnes [em São Paulo]. Quando tinha alguma necessidade [de dinheiro vivo], em vez de depositar, entregavam."

Ele falou que a sala de seu escritório de contabilidade era usada para entregar as quantias. Contou que recebia informações sobre os repasses de Saud ou dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Na delação, Ricardo Saud disse que a empresa também esquentou dinheiro dos pagamentos a políticos por meio de notas falsas para mais de cem escritórios de advocacia pelo país. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pediu em maio informações ao Supremo Tribunal Federal sobre o assunto e prometeu providências.

OUTRO LADO

Os políticos citados vêm negando as acusações feitas pelos delatores da JBS.

Aécio Neves, que chegou a ser afastado do mandato, disse que as afirmações dos executivos da empresa são "mentirosas" e que só recebeu do frigorífico doações oficiais, sem contrapartida.

Raimundo Colombo também afirmou que só recebeu doação oficial da empresa. O PSDB do Paraná também nega ilegalidade na campanha de Richa.

A direção dos Supermercados BH afirmou apenas que, em sua relação com a JBS, sempre agiu dentro da lei.

Procurada, a rede Angeloni disse, por meio de sua assessoria, que tem histórico de relacionamento com o frigorífico de "muitos anos" e que foi surpreendida com a declaração do delator.

"Os pagamentos são tradicionalmente realizados através de depósito bancário, embora não sejam incomuns pedidos de quitação em carteira, o que costuma ser autorizado, considerando a relação comercial entre as empresas", disse.

A rede Guanabara afirmou que todos os pagamentos foram feitos legalmente, respeitando assim as leis e regras vigentes no país.

Reprodução

Depoimento do delator Ricardo Saud, da empresa JBS

Depoimento do delator Ricardo Saud, da empresa JBS


Folha de S. Paulo

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