quinta-feira, 6 de julho de 2017

Facção de traficantes movimentava quase R$ 2 milhões por ano e assinava carteiras de trabalho no RS

Para garantir a segurança e conseguir informações privilegiadas, um sargento da Brigada Militar era uma das pessoas usadas pelo grupo

Por: Vitor Rosa


Facção de traficantes movimentava quase R$ 2 milhões por ano e assinava carteiras de trabalho no RS Ministério Público/Divulgação

Ação na região central do Estado prendeu 34 pessoas nesta quinta-feiraFoto: Ministério Público / Divulgação

Com esquemas sofisticados de transporte, segurança e contando até com "funcionários" com carteira assinada, a quadrilha de traficantes que teve 34 membros presos em Cachoeira do Sul, na manhã desta quinta-feira (6), conseguiu obter um grande lucro vendendo drogas na Região Central do Estado. A investigação do Ministério Público identificou que a movimentação financeira do bando girava entre R$ 30 e R$ 40 mil por semana, chegando a quase R$ 2 milhões por ano. As informações são da Rádio Gaúcha.

A droga era comprada de uma das maiores facções criminosas do Rio Grande do Sul, que tem como sede o Vale do Sinos. Além do produto a ser vendido, principalmente cocaína e maconha, os bandidos locais ainda recebiam orientações de como proteger seus líderes, montar as rotas e até a lidar com advogados.

— Nesses 11 meses, conseguimos realmente identificar que a quadrilha era muito organizada. Também vimos muitas peculiaridades desse esquema que nos causam estranheza, como o uso das empresas de comércio de veículos para lavar dinheiro e apoiar seus integrantes — comenta o responsável pela investigação, promotor João Beltrame, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.

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É no uso dessas empresas, duas de fachada e uma revenda de carros, que a facção da Região Metropolitana orientou os traficantes locais para como economizar caso alguém fosse preso. Para isso, pagavam com dinheiro ilícito o INSS. O objetivo era que os membros detidos pudessem receber o auxílio-reclusão, do governo federal, que paga um valor aos dependentes do segurado enquanto este está na cadeia.

— Havia casos em que eles contratavam, assinavam carteira de trabalho e recolhiam imposto, tudo dentro da normalidade. E em outros casos eles orientavam seus membros a que eles fizessem carteira de trabalho, e recolhessem como funcionários autônomos — detalha o promotor.

O valor recebido era dividido entre a família do preso e os advogados. Com isso, a quadrilha não precisava arcar com custos, pois já teria o próprio Estado pagando.

Com a ajuda de brigadiano

Para garantir a segurança e conseguir informações privilegiadas, um sargento da Brigada Militar era uma das pessoas usadas pelo grupo. Ele é cunhado do homem apontado como principal líder da organização, o que aproximou o laço entre o criminosos e o policial. Essa movimentação foi monitorada pela BM, que avisou o promotor, dando início à investigação que culminou na operação desta quinta-feira. O nome da ofensiva, inclusive, é alusiva a atuação do PM: Operação Vira-casaca.

O PM foi preso por posse ilegal de arma de fogo. A participação direta no tráfico, no entanto, ainda não foi apurada.

— A investigação começa com uma comunicação da Brigada aqui de Cachoeira de que um sargento da guarnição estava vinculado com seu cunhado, um traficante ligado a uma das maiores facções do Estado — comenta.

A partir disso, foram investigadas 64 pessoas, sendo comprovada a participação de 41. Destas, 36 são consideradas perigosas para a sociedade — as quais foram alvos da ação. Duas estão foragidas.

Durante a investigação, 20 quilos de drogas foram apreendidas. Hoje, R$ 50 mil foram encontrados nas casas dos bandidos. Os promotores também identificaram que o grupo era dividido entre chefe, gerente e outras quatro camadas de comando.

Entre os participantes, estão pelo menos quatro taxistas que faziam o recolhimento do dinheiro do dia nas "bocas" da quadrilha na cidade. Isso fazia com que o dinheiro ilegal passasse despercebido por brigadianos nas ruas. A investigação apurou que, em alguns casos, os usuários recebiam a droga dentro do táxi.

Próximos passos

A partir da ação desta quinta-feira, os promotores vão analisar toda a documentação, celulares e computadores apreendidos. O objetivo é juntar o máximo de provas e encaminhar ao Poder Judiciário. O prazo para a denúncia ser oferecida é de 15 dias.

Foto: Ministério Público – Divulgação


Zero Hora

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