segunda-feira, 31 de julho de 2017

Exército fará palestras em escolas estaduais sobre carreira militar

Programa pioneiro, chamado de Exército Vai às Escolas, recebeu críticas de educadores


A Secretaria Estadual da Educação e o Comando Militar do Sul firmaram uma parceria para levar ações do Exército para dentro das instituições de ensino da rede. O projeto pioneiro, chamado de Exército Vai às Escolas, irá começar com alunos do Ensino Médio de cinco colégios de Porto Alegre, que receberão palestras de militares ao longo do ano letivo. A ideia é ampliar a iniciativa para outros municípios a partir de 2018.

No site da Seduc, o projeto foi apresentado com os objetivos de "contribuir para o fortalecimento de valores fundamentais para a formação da cidadania e o desenvolvimento dos alunos da rede pública estadual". Diz ainda que a proposta prevê "aulas de civismo", o que motivou críticas de educadores.

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Um dos idealizadores da proposta, o coronel Ary de Albuquerque Gusmão Filho afirma que o projeto ainda está em elaboração, mas ressaltou que as escolas terão autonomia para decidir se querem ou não participar da iniciativa e, aquelas que aderirem, poderão escolher os temas que serão discutidos. A ideia é realizar palestras aos alunos do Ensino Médio sobre as ações que o Exército brasileiro desenvolve, como controle das fronteiras e missões de paz, e dar dicas para os adolescentes que pensam em seguir na carreira militar.

— Tínhamos um sentimento de que é importante falar para esses jovens na faixa dos 16, 17 anos, sobre os assuntos da vida militar. Muita gente tem dúvida sobre o serviço obrigatório, sobre o ingresso de mulheres na carreira, sobre o que fazemos. Como não tínhamos nenhum contato com esse público, decidimos fazer essa aproximação com a secretaria — explica.

O coronel integra o Núcleo de Assuntos Estratégicos do Comando Militar do Sul, setor das Forças Armadas criado em 2015 com o objetivo de difundir "a mentalidade de defesa" na sociedade, principalmente por meio de parcerias com instituições de ensino e pesquisadores. Gusmão afirma que temas como disciplina e hierarquia militar podem entrar na pauta das palestras nas escolas, que serão conduzidas por militares, mas diz que esse não será o enfoque. Questionado se o Exército daria aulas de civismo, ele nega:

— O material que foi divulgado pela secretaria causou essa impressão. Mas houve um mal-entendido, não queremos ministrar aula de nada, não vamos substituir os professores. Queremos divulgar o nosso trabalho. Até podemos falar sobre a disciplina militar, a hierarquia, que funcionam muito bem, por sinal, mas isso não será o objetivo principal.

As cinco escolas que integrarão o projeto-piloto serão escolhidas no começo do segundo semestre pela 1ª Coordenadoria Estadual da Educação. A proposta da Seduc é iniciar a parceria ainda este ano, mas o Exército prefere deixar para o início de 2018. Uma reunião entre a secretaria e o Comando Militar do Sul será feita nos próximos dias para definir quando vai começar e a estrutura do programa. Se houver boa aceitação pelos estudantes no projeto-piloto, a iniciativa será ampliada para outros municípios do RS.

Responsável pelo programa na Seduc, o assessor pedagógico Vitor Powaczruk diz que os conteúdos das palestras ainda não foram definidos e serão construídos em parceria com as escolas. Ele reconheceu que na reunião de 12 de julho foi tratada a questão do civismo e da disciplina militar, mas negou que o objetivo seja reproduzir nas escolas as tradições do Exército.

— O foco será divulgar como é o trabalho do Exército. Por exemplo, podemos ter um militar falando sobre como foi trabalhar em uma missão de paz no Haiti. Essa questão da disciplina, do civismo, não são objetivos que se possa colocar como atribuição do Exército na vida escolar.

Em nota após a divulgação do projeto, o Cpers-Sindicato disse que vê com preocupação a parceria, que lembra a matéria de Moral e Cívica presente nas escolas na época da ditadura militar. O representante da Seduc diz que não existe motivos para apreensão e que o projeto em elaboração vai deixar claro quais são os temas que poderão ser abordados.

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Coordenador do curso de Pedagogia da UFRGS, o professor Sérgio Franco entende que a abertura de escolas para instituições públicas, como o Exército, e movimentos sociais é bem-vinda, desde que a abordagem seja diversa.

— Se for trabalhado com clareza que cada instituição tem seus valores, e que nenhuma delas tem o modelo único para funcionamento da sociedade, acho válido. Conhecer esses valores pode ajudar no respeito à diversidade. Mas é preciso ter cuidado: mostrar como o Exército funciona é uma coisa, querer que a sociedade funcione como o Exército é outra — pondera o professor.

COMO VAI FUNCIONAR

— Até cinco escolas estaduais de Porto Alegre serão selecionadas para participar de um projeto-piloto que, dependendo dos resultados, será ampliado no ano que vem para instituições de ensino de outras cidades gaúchas.

— Uma reunião em agosto vai definir se as atividades começam ainda em 2017 ou no ano que vem.

— O foco será a realização de palestras a alunos do Ensino Médio dentro do espaço das escolas.

— Serão pelo menos quatro palestras por ano em cada escola, em datas pré-definidas.

— Os palestrantes serão militares escolhidos pelo Exército.

— Os temas das palestras ainda não foram definidos. Embora em encontro na Seduc tenham sido citados tópicos como civismo e cidadania, Exército e Seduc dizem que o foco será divulgar o trabalho das Forças Armadas e a carreira militar.

— As escolas terão autonomia para indicar os temas das palestras e também para recusar participação no projeto.


Zero Hora

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