Democratas e tucanos projetam a retomada de parceria e definem agenda comum caso Michel Temer permaneça no cargo até 2018
Pedro Venceslau, Marcelo Osakabe, Felipe Resk e Igor Gadelha, O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Em jantar com o governador Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na noite desta segunda-feira, 21, a cúpula do DEM informou ao tucano que o partido espera contar com pelo menos 50 deputados federais na janela de transferência partidária prevista para ocorrer no início de 2018. Ao menos 12 deles viriam do PSB, partido do vice-governador Márcio França, um dos principais aliados de Alckmin e que disputa a presidência nacional do partido.
No encontro que reuniu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), o ministro da Educação, Mendonça Filho (PE), o senador e presidente da sigla, José Agripino Maia (RN), o deputado Efraim Filho (PB), o secretário de Habitação do Estado, Rodrigo Garcia, e o prefeito de Salvador, ACM Neto, o tucano foi informado de que o DEM, que hoje tem 31 deputados, sendo 29 em exercício, calcula que vai chegar a 50 deputados, se tornando uma das maiores bancadas da Câmara e superando a do PSDB, que tem 46.
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), em evento em maio de 2017 Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO
Segundo um dos presentes, a reunião, que durou cerca de uma hora e meia, foi uma "deferência" ao governador, visto como um aliado "histórico" da sigla, e também serviu como uma sinalização de que o partido de Rodrigo Maia pode apoiar a candidatura de Alckmin em 2018. Os caciques também falaram sobre cenários locais, em especial o da Bahia, onde o prefeito de Salvador, ACM Neto, deve disputar o governo estadual com ampla aliança do campo governista. Para derrotar o PT, que governa o Estado, ACM deve reunir em seu palanque, em 2018, o PSDB, PMDB, PPS e o próprio DEM. O partido também deixou claro que pretende apoiar o candidato escolhido por Alckmin para disputar o governo paulista no ano que vem.
Procurado pelo Estado, Maia disse que o encontro desta segunda-feira tratou apenas de conjuntura politica, e não das eleições de 2018. "Tenho a maior admiracao por Geraldo, mas nao tratamos sobre 2018", disse Maia.
Aliados. Aliados desde a eleição presidencial de 1994, PSDB e DEM se afastaram após a divulgação de conversas entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o presidente Michel Temer.
Os atritos começaram no auge da crise política. Com Temer acuado no Palácio do Planalto, o PSDB passou a articular a candidatura do senador Tasso Jereissati (CE) à Presidência em caso de eleição indireta, enquanto o DEM defendia a “opção” Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.
Os dois lados avaliam que o peemedebista deve conseguir barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele na Câmara por corrupção passiva. A votação na Casa da aceitação ou não da denúncia está marcada para 2 de agosto.
Há dúvidas, porém, se Temer conseguiria sobreviver a uma segunda denúncia. A estratégia do DEM é reduzir a resistência do PSDB a uma eventual administração Maia no Palácio do Planalto e elaborar uma agenda comum para agir em bloco caso o presidente consiga se manter no cargo até 2018. “O governo precisa enfrentar as reformas da Previdência e política dentro do menor espaço de tempo possível para superá-las. Precisa encontrar o caminho da aprovação das reformas política e previdenciária”, disse ao Estado o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM.
Coerência. “Nós temos uma parceria que não é de hoje, uma parceria antiga do PSDB com o Democratas. No tempo do presidente Fernando Henrique tivemos sempre um trabalho conjunto. Nos governos do PT mantivemos a coerência de exercemos um papel importante de oposição – é tão patriótico ser governo quanto oposição”, afirmou Alckmin ontem.
No jantar, o governador paulista disse que o PSDB só deve desembarcar do governo federal após a aprovação da reforma da Previdência – a proposta já foi aprovada em comissão na Câmara e aguarda para ser pautada no plenário.
Para integrantes da cúpula do DEM, o posicionamento dos tucanos demonstrou que eles temem desembarcar sozinhos. Já os líderes do DEM previram que somente uma possível nova denúncia da Procuradoria-Geral da República com teor muito contundente teria potencial de derrubar Temer. Nesse cenário, a cúpula do partido informou que permanecerá na base e seguirá “monitorando” a situação do governo.
'Diálogo'. Um eventual afastamento de Temer da Presidência beneficiaria diretamente o partido. Isso porque quem assumiria o País seria Rodrigo Maia. “Foi um encontro para mantermos o canal de diálogo aberto”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho.
A conversa também abordou o futuro político das duas legendas. O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que há espaço para um partido “reformista de centro” e que espera “sinergia” entre o DEM e o PSDB. “Sintonizarmos nossas posições e preocupações”, afirmou Agripino Maia.
Estadão
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