terça-feira, 18 de julho de 2017

Como é a rotina de quem recorre aos albergues no inverno em Porto Alegre

Entre moradores de rua que esperam por vaga em abrigos, estão pessoas que perderam o emprego ou foram expulsas de casa pela violência

Por: Schirlei Alves


Como é a rotina de quem recorre aos albergues no inverno em Porto Alegre André Feltes/Especial

No Albergue Municipal, as filas começam a se formar no fim da tardeFoto: André Feltes / Especial

Há pouco mais de um mês em busca de emprego em Porto Alegre, Agnaldo José Pereira, 23 anos, depende dos albergues da cidade para abrigar a mulher grávida, Greice Aparecida Andrade, e o pequeno Arthur. Por conta da criança, que tem sete meses, a família consegue prioridade no albergue Felipe Diehl, no bairro Navegantes. O lugar sempre disponível, no entanto, não é regra: com a queda brusca das temperaturas, as 445 vagas do Albergue Municipal e das duas casas conveniadas (Felipe Diehl e Dias da Cruz) estão todas preenchidas.

Os pais do Arthur não podem correr o risco de passar a noite com ele na rua, como foi a primeira noite após a chegada à capital gaúcha. Por isso, ainda que tenham prioridade, fazem questão de chegar cedo — antes de as portas do Felipe Diehl serem abertas, às 19h desta segunda-feira, cerca de 50 pessoas faziam o mesmo. Durante o dia, a família fica no Centro Pop, onde recebe refeições e participa de atividades sociais.

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O casal morava em uma casa emprestada por familiares em Joaçaba, no oeste de Santa Catarina. A empresa em que Pereira trabalhava lá faliu, e ele perdeu o emprego. Além disso, parentes pediram a residência de volta.

— A nossa expectativa é conseguir um emprego para recuperar a vida que nós tínhamos lá em Joaçaba — disse confiante.

Agnaldo José Pereirae Greice Aparecida Andrade têm prioridade graças ao filho de sete mesesFoto: André Feltes / Especial

Quem também está a procura de trabalho é o porto-alegrense Robson Matos do Prado, 36 anos, que está em situação de rua desde que se separou da mulher, no ano passado. Com experiência em serviços gerais, pintura e manutenção, aproveita o dia para distribuir currículos. Mas, quando a noite chega, tenta uma vaga nos abrigos. Na noite desta segunda-feira (17), dormirá no Dias da Cruz, no bairro Azenha, onde já é cadastrado. Por 15 dias, a cama, o banho quente e o jantar estão garantidos. Após esse período, terá de procurar outro lugar — por pelo menos mais 15 dias, quando poderá retornar, conforme as ordens da casa. Ao lado de Prado, havia mais 10 pessoas garantido lugar na fila, quase duas horas antes de o albergue abrir.

— O meu sonho? Conseguir um emprego e alugar uma casa para morar — disse, com a voz embargada.

Robson Matos do Prado é cadastrado no Dias da CruzFoto: André Feltes / Especial

Entre os desempregados que procuram vaga nos albergues, também tem gente que foi expulsa de casa pelas facções criminosas que dominam vilas de Porto Alegre. Entre elas, está uma mulher de 40 anos que não será identificada por segurança. Ela foi obrigada a abandonar a casa onde morava numa ocupação no bairro Rubem Berta.

— Eles colocam uma arma na tua cabeça, né. Não tem o que fazer, tem que sair de casa — contou.

A mulher está há um ano em situação de rua. Normalmente, consegue vaga em um dos albergues da cidade. Lamenta pela pouca roupa e pede ajuda para se agasalhar nos dias frios. Ela não tem vergonha de contar sobre a vida difícil e, assim como a família de Joaçaba, não perde o sorriso no rosto.

— A gente dá risada e brinca, parece que não está acontecendo nada. A gente é um povo feliz — falou em nome dos colegas.

Segundo a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), 20% das vagas (90) são resultado de investimento de R$ 100 mil no período de inverno (até setembro).


Zero Hora

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