Julia Affonso e Fausto Macedo
São Paulo
Luis Ushirobira/Valor
O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, preso nesta quinta-feira (27), recolheu imposto de renda sobre a propina de R$ 3 milhões que recebeu da empreiteira Odebrecht para tentar despistar a Lava Jato, segundo investigadores. A estratégia, segundo agentes da Lava Jato, era dar um caráter formal a uma suposta consultoria prestada por ele e pelo publicitário André Gustavo Vieira, apontado como seu operador financeiro.
A defesa de Bendini rebate a informação da Procuradoria da República. O advogado Pierpaolo Bottini, que defende o ex-presidente da Petrobrás, disse que quem recolheu o tributo foi o publicitário André Gustavo Vieira, a quem a Procuradoria atribui o papel de 'operador' de Bendine. "O imposto não foi recolhido pelo Aldemir Bendine. Isso está na própria manifestação do Ministério Público Federal", afirmou o defensor.
Inicialmente, segundo a Operação Cobra, fase 42 da Lava Jato, Bendine exigiu R$ 17 milhões da Odebrecht. Nessa época, o executivo ocupava a presidência do Banco do Brasil e a Odebrecht Agro tinha interesse em rolar uma dívida com o banco. Marcelo Odebrecht, porém, decidiu não ceder à pressão de Bendine.
Em 2015, na véspera de assumir a presidência da Petrobras com a missão de implantar um sistema exemplar de governança na estatal petrolífera, Bendine voltou à carga e pediu um valor mais modesto ao empreiteiro, R$ 3 milhões.
As primeiras informações sobre a corrupção de Bendine foram reveladas à Lava Jato nas delações premiadas de Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, executivo da empreiteira.
Eles contaram que, em 6 de fevereiro de 2015, antes de sua nomeação na Petrobras, Bendine reiterou o pedido, por meio do operador.
Naquela ocasião, a Lava Jato já estava em pleno vapor, alcançando as diretorias estratégicas da Petrobras. Bendine, então, avisou que de uma forma ou outra poderia prejudicar a Odebrecht.
"A partir daí a Odebrecht avaliou que realmente poderia ser prejudicada e optou por pagar a propina", informou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.
O dinheiro foi pago pelo Setor de Operações Estruturadas, o famoso departamento de propinas da Odebrecht que abasteceu centenas de políticos e gestores públicos.
Intimidado, Marcelo Odebrecht --que seria preso quatro meses depois, em junho de 2015, na Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava Jato-- decidiu pagar os R$ 3 milhões, em três parcelas de R$ 1 milhão cada.
As investigações confirmaram encontros e reuniões de Bendine em São Paulo para tratar da propina.
Após o Supremo Tribunal Federal (STF) homologar a delação premiada do empreiteiro e do executivo Fernando Reis, o ex-presidente da Petrobras resolveu, então, pagar imposto de renda sobre o montante embolsado. Alegou ter realizado consultoria.
"Após a colaboração de Odebrecht ter sido publicizada pelo Supremo Tribunal Federal, o operador financeiro André Gustavo Vieira, em conluio com Bendine, resolveu recolher impostos sobre a suposta consultoria que havia sido prestada em 2015", destacou o procurador Athayde Costa.
"Dessa consultoria não houve contrato, nem justificativa do motivo da redução de R$ 17 milhões para R$ 3 milhões realmente pagos. Além disso, não fazia qualquer sentido qualquer recolhimento de impostos em 2017."
O procurador disse que o Ministério Público Federal considera o recolhimento dos impostos por parte de Bendine como tentativa de ocultar e dissimular a origem criminosa de valores para ludibriar a Justiça.
Outro lado
Para o advogado de Bendine, Pierpaolo Bottini, a prisão temporária é "desnecessária". "Desde o início das investigações, Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a regularidade de suas atividades. A cautelar é desnecessária. É arbitrário prender para depoimento alguém que manifestou sua disposição de colaborar com a Justiça desde o início", afirmou Bottini ao UOL.
Estadão Conteúdo e UOL Notícias
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