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sábado, 24 de junho de 2017

Tiro dado por criminoso pôs fim à história de amor entre os policiais Rodrigo e Raquel, em Gravataí (RS)

Rodrigo Wilsen da Silveira, escrivão, 39 anos, morreu nos braços da mulher e colega, Raquel Biscaglia, após ser baleado na cabeça em ação

Por: Humberto Trezzi, Eduardo Torres e Schirlei Alves


Tiro dado por criminoso pôs fim à história de amor entre os policiais Rodrigo e Raquel, em Gravataí Reprodução/Reprodução

Foto: Reprodução / Reprodução

Jovens e charmosos, Rodrigo e Raquel fariam bonito no cinema, mas respiravam vida real: sua rotina, como policiais civis, era tentar garantir segurança pública num país atormentado pelo crime. Namoravam e brincavam dentro e fora do serviço, na 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí. Criavam quatro filhos e atuavam com as mesmas funções, não só na burocracia infernal do cartório policial, mas também na parte mais aventureira da profissão, aquela em que o sujeito sai com arma e algemas, atrás de delinquentes. Nesta sexta-feira (23), vestiram coletes à prova de balas e, mais uma vez unidos, bateram à porta de um esconderijo de bandidos num edifício de classe média na cidade. Depararam com quadrilheiros decididos a resistir, que reagiram à bala. Só Raquel voltou.

Rodrigo Wilsen da Silveira, escrivão, 39 anos, tombou com um disparo na cabeça, que o colete não protegia. Morreu nos braços da companheira, a também escrivã policial Raquel Biscaglia. Desesperada e ainda em meio aos tiros, ela tentou arrastar o companheiro ferido para fora do apartamento, transformado num campo de batalha. Gritava para que fosse socorrido, mas ele morreu ali. Os colegas tiveram de recolher a arma de Raquel, que estava em choque. Foi apenas com a chegada de um psicólogo da Polícia Civil, enviado de helicóptero, que ela foi convencida a deixar o local e levada à casa dos pais do companheiro, igualmente traumatizados.

Às 5h30min, Rodrigo e Raquel, munidos de mandados judiciais, começaram buscas num apartamento suspeito de centralizar distribuição de drogas na Vila Planaltina, em Gravataí. Era um dos seis alvos de uma operação que contava com 30 policiais civis e oito guardas municipais. Eram mandados de busca e apreensão contra o tráfico de drogas.

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Estavam com Rodrigo e Raquel mais dois policiais civis e dois agentes da Guarda Municipal. Eles foram recebidos na sala principal do apartamento por uma idosa, nervosa. Alguém abriu a porta de um quarto, fechou e começou a disparar – tiros de pistola 9 mm e revólver .38 foram dados do quarto até a sala. Os policiais, atordoados, revidaram. Um solitário projétil dos criminosos acertou em cheio Rodrigo. Os agentes se reagruparam e intimaram os bandidos a se render.

A dona do imóvel, que seria a traficante, saiu de outro quarto com uma criança e foi presa, assim como os outros cinco ocupantes do apartamento, quatro deles com antecedentes criminais.

Raquel (centro) é consolada por colegas após ação que levou o marido à morte em GravataíFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Namoro entre armas e viaturas

O porto-alegrense Rodrigo gostava de ação. Fez concurso em 2010 e debutou na Polícia Civil em 2012. A carreira ia tão bem que, apesar de não ser veterano, já era chefe de investigações onde trabalhava, a 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí, a mesma onde iniciou a profissão. Esse é também o único posto de trabalho na carreira de Raquel. Natural de São Gabriel, ela virou policial em 2014.

Foi em Gravataí que, de uns dois anos para cá, os dois se conheceram, amaram e dividiram funções – e investigações. Criavam juntos os dois filhos pequenos dele e os dois dela. Faziam plantão unidos, iam e voltavam juntos do serviço. Rezavam também, pois ambos eram muito religiosos.

Os elogios são unanimidade no caso de Rodrigo da Silveira.

– Não tenho dúvida de que ele se tornaria um dos melhores policiais gaúchos. Extremamente preparado e conhecedor da função – resume um colega, o comissário Mário Viegas, 55 anos e 37 de profissão, que foi uma espécie de tutor na Polícia, para Rodrigo.

A escrivã Márcia Marques, líder da turma formada em 2012 e atualmente lotada em Alvorada, diz que a conquista do posto de chefe de Investigação da DP só comprova o quão dedicado Rodrigo era.

– Um cara pacífico e sempre proativo. Ver isso acontecer com alguém que ingressou na Polícia Civil junto comigo dá uma sensação de vulnerabilidade horrível. Quem sabe se tivéssemos escudos e outros equipamentos de segurança para operações, ele agora estivesse vivo – comenta ela.

O homem apontado como seu matador foi identificado como autor dos disparos, pelos próprios presos). Maicon de Mello Rosa, o Maiquinho, coleciona passagens criminais desde jovem. Só em 2013, foi apontado como envolvido em tráfico de drogas, duas tentativas de homicídio e um assalto. Foi preso três vezes desde então. Condenado,  fugiu cinco vezes da prisão. Os agentes não sabiam que ele estava no apartamento, na hora em que entraram no imóvel no Condomínio Paseo Centralle, centro de Gravataí. Tudo indica que, desesperado com a possibilidade de voltar à cadeia, Maiquinho disparou ao ver os policiais.

Acuados após a morte do policial, os cinco ocupantes do apartamento se renderam e foram presos. Com eles, foram apreendidas armas, munição, drogas e dois veículos – um roubado. O delegado Rafael Sobreiro, que coordenava a ação, definiu o dia como "o mais difícil da carreira".

– O Rodrigo nunca vai ser esquecido. Era uma pessoa diferenciada, um policial acima da média, que tombou como um herói, defendendo a sociedade – lamentou o delegado.

Conforme Sobreiro, não havia mandados de prisão, apenas de busca e apreensão eram cumpridos. A operação que mobilizou 30 servidores teria bom resultado, não fosse a morte uma sombra permanente na atividade policial. Foi assim que lembrou o chefe da Polícia Civil no Estado, Emerson Wendt, em coletiva de imprensa na qual não conteve as lágrimas.

– Ser policial é isso. É como se assinássemos um contrato com cláusula de vida – resumiu Wendt.


Zero Hora


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