Presidente se reuniu com a primeira-ministra Erna Solberg um dia após o governo norueguês anunciar que vai cortar o financiamento do combate ao desmatamento no Brasil
Por: Estadão Conteúdo
Cerca de 40 manifestantes protestaram contra Temer, nesta sexta-feira (23)Foto: Divulgação / Rainforest Foundation
Um dia depois de o governo da Noruega anunciar que vai cortar o envio de dinheiro para o combate ao desmatamento no Brasil, o presidente Michel Temer (PMDB) foi recebido sob protestos de ambientalistas ao se reunir com a primeira-ministra do país escandinavo, Erna Solberg. Grupos indígenas e organizações não governamentais (ONGs) europeias alertam que, diante do corte de recursos, a proteção ambiental e dos direitos indígenas deve sofrer.
Na manhã desta sexta-feira (23), cerca de 40 pessoas se posicionaram às portas da sede do governo, com cartazes e um coro de "Fora Temer". Ao sair do carro, o presidente chegou a olhar para o grupo e, rapidamente, entrou no edifício.
Leia mais
"Eu reconheço que há uma crise política", afirma Temer em visita à Noruega
Fachin envia inquérito contra Temer e PGR tem 5 dias para apresentar denúncia
"Brasil está deixando para trás uma severa crise", diz Temer
De acordo com os líderes ambientalistas, a administração de Temer tem dado apoio à banca ruralista no Congresso.
— Vemos um constante e sistemático ataque ao meio ambiente nesse governo — disse Sonia Guajajara, que comanda a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. — O Brasil era um exemplo ao mundo e hoje é um problema.
A líder indígena disse entender o corte de verbas pela Noruega. Mas admite que a redução de dinheiro terá "um impacto negativo".
— Muitos grupos indígenas são beneficiados pelos recursos. O corte, portanto, significa o enfraquecimento de iniciativas aos indígenas e problemas para a implementação de gestão territorial — admitiu.
Presidente Michel Temer e a primeira-ministra Erna SolbergFoto: Håkon Mosvold Larsen / NTB Scanpix
A redução do dinheiro foi anunciada por Oslo na quinta-feira (22), depois que o governo informou ao Brasil de que a taxa de desmatamento tem aumentado. Pelo acordo de 2008, o dinheiro liberado de mais de US$ 1,1 bilhão é reduzido sempre que isso ocorrer. Em dois anos, o Brasil já terá perdido R$ 196 milhões.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, culpou o governo passado e disse que só Deus poderia garantir que, no futuro, não haverá desmatamento.
— Pior que culpa passada é culpa de Deus — afirmou Sonia. — Querem arrumar um culpado. Não podem ficar empurrando com a barriga para outros. Para o Brasil, esse corte é uma vergonha. Há um enfraquecimento de políticas ambientas e 20 medidas para flexibilizar leis de proteção — disse.
Sarney Filho se reuniu ainda com três ONGs norueguesas e garantiu que não iria apoiar qualquer redução de áreas de proteção. Anna Lovold, da entidade Rainforest Foundation, foi uma das que esteve com o ministro.
— Ele disse que não aprovaria nenhuma lei que vá afetar a floresta e que não vai reconhecer nada que afete os indígenas. Não temos confiança, e a prova é a existência desse protesto. Temos dúvidas. Mas vamos esperar e ver — disse, com seu filho de dois anos no colo diante da sede do governo.
Foto: HAAKON MOSVOLD LARSEN / NTB Scanpix
Para ela, o recado da sociedade civil ao governo norueguês é de que, se o Brasil não mostrar resultados, o Fundo da Amazônia precisa fechar.
— Não vamos poder apoiar o fundo — disse.
O presidente da Rainforest Foundation, Lars Bjordnal, admitiu que o corte de dinheiro "é um risco".
— Mas isso aqui é uma cooperação. O que adianta se governo brasileiro quer minar os resultados. Tem de ter coerente — disse.
O ativista admitiu que os problemas começaram já nos últimos anos do governo de Dilma Rousseff (PT).
— Isso é verdade. Mas já são três anos de desmatamento. É preciso uma política forte — completou.
Leia as últimas notícias de Política
*Estadão Conteúdo
Zero Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário