sexta-feira, 23 de junho de 2017

O hormônio que pode ampliar expectativa de vida de homens em 10 anos

The New York Times

Carls Zimmer

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Uma mutação genética comum está ligada a um aumento de dez anos na expectativa de vida dos homens, apontaram pesquisadores na sexta-feira passada.

A mutação, descrita na revista científica "Science Advances", não parece apresentar o mesmo efeito nas mulheres. Ainda assim, ela se junta a uma pequena lista de variantes genéticas que parecem ter influência sobre a longevidade humana.

Ao estudar esses genes, os cientistas podem criar medicamentos capazes de imitar seus efeitos, desacelerando o envelhecimento. Contudo, a procura por esses genes tem sido lenta e difícil.

Quando o assunto é o limite da nossa existência, a criação é muito mais importante que a natureza. Em 1875, por exemplo, a expectativa de vida na Alemanha era de menos de 39 anos; atualmente é de mais de 80 anos.

Os alemães não ganharam esses anos a mais por causa da evolução, ou por mudanças genéticas que aumentam a expectativa de vida. Ao invés disso, passaram a ter acesso à água limpa, a medicamentos modernos e outras medidas que ajudam a proteger a vida.

Mesmo assim, a hereditariedade ainda tem um pequeno papel na expectativa de vida dos seres humanos. Por exemplo, uma série de estudos recentes mostra que gêmeos idênticos – que compartilham os mesmos genes – tendem a ter expectativas de vida mais similares do que gêmeos fraternos.

Em 2001, durante um estudo envolvendo agricultores amish da Pensilvânia, os pesquisadores revelaram que parentes próximos tinham mais chances de viver até idades similares, quando comparados a parentes distantes.

O efeito da hereditariedade sobre a expectativa de vida revelou-se tão grande quanto sobre as chances de um indivíduo ter pressão sanguínea elevada. Contudo, pesquisas de larga escala envolvendo o DNA humano revelaram poucos genes com influência clara sobre a longevidade.

"Ficamos realmente muito desapontados", afirmou Nir Barzilai, geneticista da Faculdade de Medicina Albert Einstein.

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O crescimento importa

Os pesquisadores que seguem as pistas deixadas pela biologia básica parecem ter mais sorte. Em muitas espécies, por exemplo, existe uma relação entre o tamanho do animal e sua expectativa de vida.

"Se observarmos cães, moscas, camundongos, seja lá o que for, animais pequenos costumam viver mais", afirmou Gil Atzmon, geneticista da Universidade de Haifa, em Israel, que colaborou com Barzilai.

Resultados como esses levaram os pesquisadores a observar de perto as moléculas que induzem ao crescimento dos nossos corpos. Uma das mais importantes é a dos hormônios do crescimento, produzidos pelo cérebro e espalhados por todo o corpo.

O hormônio se prende às células, ligando-se às moléculas receptoras de hormônio do crescimento em sua superfície. O sinal gerado é capaz de acelerar o crescimento celular. As células também podem liberar moléculas conhecidas como fatores de crescimento.

Cerca de um quarto das pessoas possuem uma mutação no gene dos receptores de hormônios do crescimento – uma parte do DNA não está presente nesses indivíduos.

Pessoas com essa mutação são capazes de produzir receptores funcionais, mas seu formato é ligeiramente diferente. Estudos realizados em meados dos anos 2000 sugerem que essa mutação pode tornar as crianças mais baixas.

A relação entre a altura e a longevidade levou Atzmon e seus colaboradores a se questionar se a mutação também influenciaria a expectativa de vida.

Os pesquisadores sequenciaram o gene dos receptores de hormônios do crescimento em 567 judeus asquenazes com mais de 60 anos e seus filhos, que são objeto de estudo de Barzilai há anos.

Eles revelaram que a mutação estava presente em 12% dos homens com mais de 100 anos de idade. Esse índice era cerca de três vezes maior do que entre os homens com mais de 70 anos.

Todavia, nas mulheres a mutação ocorria basicamente na mesma frequência em ambas as faixas etárias.

Atzmon e seus colaboradores fizeram em seguida um exame do gene entre norte-americanos idosos, repetindo o teste na França e na comunidade amish, elevando o total de indivíduos estudados para 814.

Nos três grupos, observaram o mesmo efeito. Entre os homens, a mutação genética dos receptores de hormônios do crescimento estava ligada a vidas consideravelmente mais longas.

"Os resultados parecem convincentes para mim", afirmou Ali Torkamani, diretor de informática do genoma no Instituto Scripps de Ciência Translacional em La Jolla, Califórnia.

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Muito ainda a descobrir

Torkamani, que não participou do novo estudo, afirmou que essa foi a primeira pesquisa a estabelecer uma conexão entre os receptores de hormônios do crescimento e a longevidade.

"Acho que ainda tem muito pano para manga aí", afirmou P. Eline Slagboom, geneticista do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda.

Entretanto, ela é cautelosa em relação aos resultados, já que apenas homens demonstraram o efeito e o estudo foi relativamente pequeno.

"Temos bons motivos para fazer um estudo de grande proporção", afirmou.

Em 2008, Barzilai e seus colaboradores descobriram que uma mutação em outro gene ligado ao crescimento poderia prolongar a vida – desta vez apenas entre as mulheres. Ao lado do novo estudo, essa pesquisa sugere que homens e mulheres tomam caminhos diferentes em relação à expectativa de vida.

Porém, os pesquisadores não sabem quais são esses caminhos. "A verdade é que ficamos bastante chocados com os resultados", afirmou Barzilai.

O novo estudo também mostra que a conexão entre a expectativa de vida e a altura é mais complexa do que os cientistas poderiam prever.

Eles esperavam que homens idosos com a mutação genética fossem mais baixos. Entretanto, o que se revelou foi justamente o contrário: a mutação parecia elevar a média de altura desses homens em cerca de 2,5 centímetros.

Barzilai e seus colaboradores acreditam que a mutação dê início a um efeito em cascata, mudando a forma como os sinais dados pelos hormônios de crescimento agem no corpo dos homens e tornando as células menos sensíveis a níveis baixos de hormônios do crescimento.

Porém, quando há um aumento na presença de hormônios, as células se dividem mais rapidamente do que entre homens sem a mutação. De alguma maneira, o receptor amplifica o sinal de crescimento.

Essa sensibilidade pode dar início ao crescimento dos meninos durante a adolescência, quando seus corpos são inundados por hormônios do crescimento. Porém, à medida que os níveis hormonais caem na idade adulta, suas células passam a se dividir mais lentamente, interrompendo a produção de moléculas que levam ao crescimento.

Inúmeros estudos sugerem que os sinais de crescimento ajudam a acelerar o processo de envelhecimento. Uma teoria é a de que exista uma troca no corpo entre o crescimento e a reparação do dano molecular nas células.

Homens com a mutação nos receptores de hormônios do crescimento podem alocar mais recursos para a reparação de células dos seus corpos, efetivamente desacelerando o processo de envelhecimento.

Crescer ou envelhecer?

Nos últimos anos, alguns médicos passaram a prescrever hormônios do crescimento para pacientes com o objetivo de dar mais força e vitalidade. Barzilai afirma que o novo estudo sugere que manter níveis baixos de hormônios do crescimento pode ser uma estratégia mais eficaz para viver mais tempo.

"Temos medo de aplicar tratamentos que provavelmente farão justamente o oposto", afirmou.

Barzilai e seus colegas esperam agora utilizar o efeito da mutação recém-descoberta, reduzindo a presença de hormônios do crescimento em pessoas idosas.

Eles já tiveram alguns resultados promissores em estudos com animais, utilizando um medicamento para o controle do diabetes chamado metformina.

"Não está longe da realidade", afirmou Barzilai.


UOL Notícias

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