quarta-feira, 8 de março de 2017

Temer dá posse a ministros e destaca desafio de retomada do desenvolvimento

Brasília - Presidente Michel Temer dá posse aos novos ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e da Justiça e Segurança Pública, Osmar Serraglio, em cerimônia no Planalto (Valter Campanato/Agência Brasil)

Presidente Michel Temer dá posse aos novos ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e da Justiça e Segurança Pública, Osmar Serraglio, em cerimônia no Planalto Valter Campanato/Agência Brasil

Ao dar posse hoje (7) a Aloysio Nunes no cargo de ministro das Relações Exteriores e a Osmar Serraglio como ministro da Justiça e Segurança Pública, o presidente Michel Temer disse que ambos são qualificados para os novos desafios.

Segundo ele, a tarefa de "recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento é enorme". Durante o discurso, Temer elogiou a parceria que tem mantido com o Congresso Nacional para a aprovação de medidas de interesse do governo, classificando-a de "presidencialismo verdadeiro".

A Osmar Serraglio, Temer disse que ele terá um "trabalho pesadíssimo". "Não haverá sábado, não haverá domingo. Não quero assustar sua família, mas é assim que as coisas se passam", disse, destacando os desafios atuais da segurança pública e a iniciativa da União de atuar em casos que, de acordo com ele, são de responsabilidade inicial dos governos estaduais.

Participaram da posse, além de outros ministros, senadores e deputados de vários partidos. Ao mencionar as reformas encaminhadas ao Congresso pelo Palácio do Planalto, dirigindo-se aos parlamentares, o presidente disse ter "absoluta convicção" de que alcançará as vitórias "em nome do país".

Sobre os desafios do novo chefe do Itamaraty, Temer disse que ele deve continuar desempenhando o papel de José Serra no sentido de universalizar as relações internacionais. "Não vamos segmentá-las em nome de interesses dessa ou daquela qualidade. Devemos ter uma relação institucional entre Estados", defendeu.

Aloysio Nunes Ferreira assumiu o lugar do também senador José Serra (PSDB-SP), que há duas semanas pediu demissão por problemas de saúde. Já Osmar Serraglio substituirá Alexandre de Moraes, que assumirá a vaga deixada por Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF). Teori morreu em um acidente aéreo no dia 19 de janeiro.

Serra e Moraes faziam parte da equipe de Temer desde que ele assumiu a Presidência ainda na interinidade, em maio do ano passado.

 

Agência Brasil

 

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“O feminismo avançou, mas não consolidou os avanços”, diz socióloga Eva Blay

 

Elaine Patricia Cruz* – Repórter da Agência Brasil

Para explicar a importância da igualdade entre gêneros para os homens, a socióloga Eva Blay diz que sempre conta uma historinha. “Eu fazia a conta. Você [homem] ganha R$ 20. A tua mulher ganha R$ 10. Quanto entrou na sua casa? R$ 30. Então ficou faltando quanto? Quem ficou com esses R$ 10 [que estão faltando]? Quando você joga essa pergunta: 'quem ficou com os R$ 10?' – e não foi nem você, nem sua mulher nem sua casa – era fantástico”, disse, em entrevista dada àAgência Brasil, na semana passada, no campus da Universidade de São Paulo (USP), na sede do escritório da USP Mulheres.

Eva prefere não falar de si, mas sua história de luta pelos direitos das mulheres é longa. Socióloga e professora titular da Universidade de São Paulo (USP), Eva Blay, 79 anos, foi senadora e atualmente coordena o Escritório USP Mulheres, que trabalha para o enfrentamento da violência contra a mulher, para a garantia da igualdade de gênero no Brasil e conta com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para ela, o feminismo avançou muito ao longo dos anos, mas a consolidação dos direitos das mulheres no mundo nunca foi, de fato, consagrada. “Na sociedade não existe, nunca [houve] uma consolidação. O que existe é sempre um processo”, destacou.

Na entrevista, Eva fala sobre o surgimento do Dia Internacional da Mulher e diz que a data remonta a várias lutas femininas.

Ela destaca que a violência contra a mulher continua em todo o mundo, mas que no Brasil a distorção é ainda pior. “O Brasil está em quinto lugar no assassinato de mulheres”, destaca.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Agência Brasil: Como teve início as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher?
Eva Blay: O dia 8 de março não começou no dia 8 de março. Começou com a Clara Zetkin, uma socialista que apresentou em um congresso socialista [2º Congresso Internacional de Mulheres Socialistas], em 1911, uma proposta de um dia internacional para as mulheres. Então, como socialista, ela queria uma coisa geral. Naquela época, mais ou menos como agora, havia uma série de dificuldades. Mas acho que, naquela época, a situação era pior. As mulheres não tinham horário de trabalho. Então, trabalhava 12 horas, 15 horas, as crianças trabalhavam. Quando as mulheres, naquela época, saíram às ruas com essa proposta - ainda era época do czar - elas achavam, e aí já não eram as socialistas, que podiam conseguir do czar um certo apoio, uma certa redução da jornada, mas ele mandou a polícia para cima delas e foi um morticínio total. Depois disso, sempre do ponto de vista político, as mulheres continuaram a lutar por um dia de reivindicação, um dia de luta, não festivo. Mas em vez de pensar em luta, o que a sociedade capitalista inventou? Vamos dar bombons e flores. Ora, nós não queremos bombons e flores apenas. Venham os bombons e as flores, mas não só isso. O que nós queremos é a igualdade de direitos e de deveres como está na Constituição de 1988.

Agência Brasil: E quais foram os avanços conquistados pelas mulheres desde então?
Eva: Homens e mulheres são iguais perante a lei. E ser igual significa o que? As mesmas oportunidades de estudar, de não ter limitações nas carreiras, de não ter um teto de vidro que limita a ascensão das mulheres nas carreiras. Enfim, uma mudança geral na estrutura da sociedade. E estou falando especialmente da brasileira. Mas isso acontece em todas as outras sociedades. Por volta dos anos 50, essa reivindicação tornou-se o centro do movimento feminista no mundo todo. Não era só socialista, era feminista, era suprapartidária. E o movimento feminista incluiu todas essas reivindicações: a igualdade de direitos, a igualdade sobre, por exemplo, na família, de a mulher poder dizer quem é seu filho e quem é o pai do seu filho. Nós não podíamos fazer isso. A mulher, para trabalhar, precisava de autorização do marido. Para viajar, precisava de autorização. Ela não podia nem usar o próprio dinheiro. O movimento feminista começou a trabalhar todas essas questões. E, de uma certa maneira, avançamos. Avançamos do ponto de vista do direito, do ponto de vista da educação, as mulheres se tornaram altamente escolarizadas comparando com os homens e muitas foram para a universidade. O caminho da universidade é mais ou menos heterogêneo. Nas carreiras que são das ciências chamadas duras ou exatas, temos menos mulheres que homens. Mas estamos fazendo muita força para ampliar isso.

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Agência Brasil: E o que falta conquistar?
Eva: Qual foi a área que não avançou? A violência. Na violência, nós não conseguimos avançar. Ela continua. Na pior situação, há o assassinato de mulheres, a violência dentro de casa, o estupro, o incesto. Tudo isso continua acontecendo e esta é a área que a gente menos conseguiu avançar. Não só no Brasil como na América Latina toda e no mundo, de forma geral. Mas aqui a distorção é muito pior.

Agência Brasil: Por que você diz que aqui é muito pior?
Eva: Por causa do número de mulheres. O Brasil está em quinto lugar no assassinato de mulheres.

Agência Brasil: A senhora tem escrito artigos destacando esse momento que o mundo vive com Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos] e Putin [Vladimir Putin, da Rússia]. Como a senhora enxerga épocas como essa que parecem de retrocesso?
Eva: Acho que vivemos um momento em que há várias forças em atuação. Evidentemente, quando você pega alguns grupos religiosos ou alguns indivíduos conservadores e muito conservadores, eles não admitem os avanços que nós conseguimos. Tem um aí que acha que a mulher tem que ser subserviente ao homem. Ou ele acha que o casamento entre homossexuais é uma aberração. Não concorda com o aborto mesmo em caso de anencéfalos. Até em coisas que já avançamos existem aqueles que querem voltar atrás. Por isso, acho muito importante a gente nunca perder de vista que o feminismo avançou, mas não consagrou os avanços. Você tem que estar sempre alerta porque senão volta para trás. Vide o Trump que, nos Estados Unidos, quem imaginaria que ia fazer as propostas tão retrógradas como ele está fazendo?

Agência Brasil: Há como recuperar o Dia Internacional da Mulher como um evento de luta? Esse ano parece um ano especial, de mobilização e de greves, em nível internacional. Tem como voltar a marca do dia de luta e não do dia de bombons?
Eva: Acho que hoje em dia ninguém ousa pensar o Dia Internacional da Mulher como o dia do bombom. Eu não vejo mais isso não. Se você andar pela rua ou mesmo aqui pelo campus [da USP], o que você vê? Frases e cartazes assim [ela mostra postais com frases que pedem o fim do assédio e da violência contra a mulher], de que isso tem que parar. A violência sexual tem que parar. Elas podem ser chefes no trabalho, elas podem andar como quiserem. Você deve apoiá-las. Isso nós estamos fazendo. Agora, elas podem sair à noite sozinhas. Hoje você pega uma adolescente e ela não aceita mais vir com essa conversa. Ela quer andar de shorts sim, decotada sim e ninguém tem nada a ver com isso. Elas já absorveram esse feminismo.

Agência Brasil: Esse é o momento que você falou que está faltando, da consolidação do feminismo?
Eva: Na sociedade não existe, nunca [houve] uma consolidação. O que existe é sempre um processo. É um processo que pode ir e voltar. Se você comparar hoje com, por exemplo, quando conquistamos o direito ao voto, quando a Bertha Lutz [biológa] lutou pelo direito ao voto, em 1920. Sabia que ela jogava panfletos por avião? Quem tinha avião naquela época? Ela fez todo um trabalho de direito ao voto. Então já era uma coisa forte. Havia muitas jornalistas feministas. Se você pegar de 1850 para frente, o número de mulheres jornalistas e feministas era muito grande. E depois teve um retrocesso.

Agência Brasil: As adolescentes podem ser um novo [avanço]?
Eva: Acho que estamos avançando. Por exemplo, na violência, a gente não superou os limites. Mas a gente tem a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. Mas agora é uma questão de cultura. Você tem a lei, mas não tem ainda a cultura para implantar isso.

Agência Brasil: Tem alguma lei que pode ajudar?
Eva: Lei não adianta. A lei ajuda. Ela pune. Isso é importante. Mas nós vivemos em uma cultura patriarcal, uma cultura machista. Então, enquanto você viver em uma cultura machista, você não consegue acabar com isso. Vou dar um exemplo. Tem um fulano, que não quero citar, que matou a mulher e era uma pessoa notória porque ganha dinheiro. Dois dias depois, o que vejo nos jornais? A seguinte frase: 'fulano de tal [ela não diz o nome, mas ela está falando do goleiro Bruno, condenado por assassinato] está muito magoado com seus companheiros que não foram visitá-lo na prisão'.  Eu acho que os companheiros não foram visitá-lo na prisão porque não estavam de acordo por ele ser um assassino. Mas a mídia não está passando isso. A mídia está passando 'coitado, ele pagou o seu crime, então agora ele tem que ser recepcionado'. Você colocar na mídia essa tentativa de dizer vamos recuperá-lo? A moça sumiu. Nunca se achou o corpo dela.

Agência Brasil: E as transgêneras?
Eva: Gênero significa o seguinte: quando você está pensando em uma pessoa, em um corpo, até agora a gente pensava apenas do ponto de vista biológico. Hoje não pensamos mais do ponto de vista biológico. Hoje pensamos mais. Você vive em uma sociedade e é a sociedade que tem uma cultura que vai ensinar para você a ser mulher, a ser homem. Isso é gênero. Gênero é o contexto dentro do qual as pessoas estão. Ao lado disso você tem homens que podem ser biologicamente homens, mas não se sentem homens, se sentem mulheres. E vice-versa. Homens que são bissexuais, mulheres que são bissexuais. Hoje tem os crossdresser [termo que designa pessoas que se vestem com roupas associados ao sexo oposto], que é uma coisa muito interessante, que são homens que se vestem como mulheres. É raríssimo o caso contrário, mas tem também. Você vive em uma sociedade que, felizmente, as coisas agora estão aparecendo. Em vez de o cara ficar enrustido ou se suicidar, em vez de ele ficar sofrendo, hoje em dia não. Claro que não é todo mundo que hoje em dia aceita essa decisão. Porque a pessoa é o que ela é. Não importa. Desde os 3, 4 anos de idade, ela já começa a se definir. Ela não está escolhendo. Faz parte dela essa atuação, essa maneira de ser. 

Agência Brasil: O 8 de março é um dia de luta também para a mulher trans?
Eva: Elas podem, por que não? Acho que sendo um dia internacional, cada um vai para a rua fazer o que quer.

 

Agência Brasil

 

Fundadora do Ni Una Menos diz que luta contra violência machista leva tempo

 

Monica Yanakiew – Correspondente da Agência Brasil

Movimento Ni Una Menos mobilizou multidões em outubro do ano passado na Argentina

Movimento Ni Una Menos mobilizou multidões em outubro do ano passado na Argentina Osvaldo Fantón/Télam

As argentinas prometem fazer barulho nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Ao meio-dia, elas farão uma pausa e sairão às ruas para apitar, bater palma e tocar tambor - ou qualquer coisa que contribua para o “ruidazo” (ruído enorme). No final da tarde, elas prometem marchar contra a violência machista que, na Argentina, mata uma mulher a cada 37 horas.

A manifestação foi convocada pelo movimento Ni Una Menos (Nem Uma a Menos), que nasceu na Argentina em 2015, depois de um assassinato que chocou o país. Chiara Paez, de 14 anos, foi morta a pauladas pelo namorado, de 16. O corpo da adolescente grávida foi encontrado na casa dos avós do rapaz, levando a Justiça a suspeitar de que ele teria cometido o crime com a ajuda dos parentes.
Dois anos mais tarde, o movimento argentino cruzou fronteiras, inspirando outros na América Latina e na Espanha, e seu slogan foi incorporado à fala de políticos.

No discurso de abertura das sessões legislativas, na última quarta-feira (1º), Macri prometeu combater a pobreza, a inflação, a corrupção, o narcotráfico – e também o feminicídio. “Todos nos unimos ao grito Ni Una Menos”, disse.

A jornalista e escritora Marta Dillon, uma das fundadoras do movimento, diz que a violência machista não se restringe ao feminicídio: abarca toda forma de violência física, psicológica, social e econômica.

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Ela conta que participava de um grupo de intelectuais que se reunia para debater questões como o direito ao aborto. Mas sucessivos casos de mulheres assassinadas e encontradas em sacos de lixo fez com que decidissem sair às ruas. A gota d’água foi a morte de Chiara Paez que, em junho de 2015, mobilizou multidões, aos gritos de “Ni Una Menos”.

“É uma causa que unifica. Muitos são contra o aborto, mas quem vai ser contra um movimento que defende a vida das mulheres?” , pergunta Marta.

Apesar do consenso – e de milhares terem voltado às ruas em outubro passado, vestidas de luto –, a violência de gênero persiste.

“Não é algo que se pode mudar de um dia para o outro”, diz Marta. “Qualquer mudança, que mexe nas estruturas, leva tempo e provoca reações. Temos que continuar a luta”, acrescentou.

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, Marta Dillon conversou com a reportagem daAgência Brasil. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

Agência Brasil: Que outras reivindicações farão no Dia da Mulher?
Marta Dillon: Somos contra um sistema patriarcal, que subjuga a mulher, não apenas com a violência, mas também pagando menos pelo mesmo trabalho. As mulheres trabalham, em média, três horas a mais que os homens, se contarmos o tempo que dedicam às tarefas domésticas e à família. E ganham 27% a menos. Ou seja, se fizermos os cálculos e formos comparar, trabalhamos cinco horas por dia sem qualquer remuneração.

Agência Brasil: Como será a greve do dia 8?
Marta: Aqui, na Argentina, será uma greve simbólica, porque entendemos que na atual conjuntura econômica, nem todo mundo pode parar. Mas pedimos que quem possa pare pelo menos uma hora, só para chamar a atenção para a situação da mulher. Não queremos flores. Queremos respeito no mercado de trabalho.

Agência Brasil: Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, apesar da divulgação de uma gravação com comentários ofensivos em relação às mulheres. Na Argentina, a violência de gênero continua sendo notícia, apesar de o país ter uma vice-presidente mulher e até uma lei proibindo cantadas ofensivas. Você acha que, na prática, houve alguma mudança?
Marta: Nos Estados Unidos, Trump foi eleito presidente, mas no dia seguinte houve uma enorme manifestação, convocada pelas mulheres. E [o protesto] não foi apenas contra seu discurso misógino, mas também contra todo tipo de discriminação. E tanto a gravação, como as críticas aos comentários de Trump, foram notícia no mundo. Não passaram desapercebidas, como algo comum ou natural.
Isso é sinal de que está havendo uma mexida nas bases da sociedade e isso incomoda muita gente. As pessoas têm medo do novo e o que estamos propondo é uma mudança numa estrutura que sempre foi patriarcal. Na Argentina, chama a atenção a brutalidade de alguns desses crimes contra as mulheres. É como se os homens sentissem a necessidade de usar mais violência para mostrar que ainda podem domesticar as mulheres. Mas nenhuma mudança cultural é feita de um dia para outro.

Agência Brasil: Quais os planos para conseguir o que querem?
Marta: As Mães da Praça de Maio marcharam 40 anos para conseguir colocar os repressores da ditadura (1976-1983), responsáveis pela morte de seus filhos, atrás das grades. Espero não termos que marchar 40 anos para ver uma mudança (risos). Mas se for necessário, marcharemos.

 

 

Agência Brasil

 

EUA: diferença salarial entre homens e mulheres só deve desaparecer em 135 anos

 

Leandra Felipe – Correspondente da Agência Brasil

Mesmo após mais de um século de luta por igualdade de condições entre homens e mulheres nos Estados Unidos, elas só deverão ter salários equiparados aos deles daqui a 135 anos, em 2152, segundo projeção divulgada na semana passada pela Associação Americana de Mulheres Universitárias (American Association of University Women – AAUW).

O estudo Simple Truth about the Gender Pay GAP (A Simples Verdade Sobre a Desigualdade Salarial de Gêneros, em tradução livre) aponta que, em 2015, as trabalhadoras em tempo integral nos Estados Unidos ganhavam 80% menos que os homens.

Apesar do valor menor, o salário já era reflexo de melhorias constantes para as mulheres no período de 1960 até 2000. Entretanto, desde 2001, observa-se maior lentidão na tentativa de deixar os salários menos desiguais – o que só permitiria que fossem igualados em 2152.

De acordo com o estudo, a diminuição das desigualdades registradas de 1960 em diante estava diretamente ligada ao aumento da escolaridade das mulheres.

O estudo mostra que a brecha salarial, o chamado “gap” (em inglês), tem efeitos negativos financeiros duradouros. Em 2015, 14% das mulheres norte-americanas entre 18 e 64 anos de idade, viviam abaixo da linha de miséria, enquanto esse percentual entre os homens é de 11%.

Mudanças nas estruturas familiares também têm afetado a vida das mulheres. Em 2012, a proporção de mulheres chefes de família atingiu o patamar de 40%. Por isso, diz o documento, os índices de pobreza aumentaram, porque cada vez mais mulheres passam a sustentar sozinhas a família, sem uma melhoria salarial equiparada à condição dos trabalhadores.

Sem igualdade

Em outra estimativa baseada na participação por gênero, o Centro de Pesquisa Pew Reseacher avalia que a participação das mulheres no mercado de trabalho deve atingir o percentual máximo em alguns anos, mas deve seguir uma tendência de ser sempre minoria e nunca chegar aos 50% da força laboral norte-americana.

A conclusão do Pew Reseacher baseou-se em números oficiais do Bureau of Labor Statistist. Na análise do centro de pesquisa, a participação de mulheres no mercado vem crescendo e poderá atingir o pico de 47,5% em 2025 e depois começar a diminuir.

A pesquisa mostra que o crescimento das mulheres como força de trabalho foi constante até o começo dos anos 2000. Depois iniciou-se um período de estagnação e ligeira queda.

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Durante a década de 1960, a força de trabalho das mulheres aumentou, em média, três vezes mais rápido que a masculina. Em 2000, 59,9% das mulheres estavam no mercado de trabalho, contra 37,7% em 1960.

Mas após os anos 2000 iniciou-se um declínio. Para os pesquisadores, a principal razão é a maternidade. Mães com filhos menores de 18 anos têm menos possibilidade de ter um trabalho em tempo integral.

Nos Estados Unidos, a educação só é universal e gratuita a partir dos 5 anos, na pré-alfabetização. A mãe que trabalha fora e tem filhos pequenos precisa pagar por serviços de creche ou babás que costumam ser caros no país.

Várias mulheres abandonam o trabalho nesta fase ou partem para funções de meio-período, que dificilmente levam a promoções internas nas empresas.

Jennifer Marilyson, de 34 anos, têm dois filhos: uma de 4 anos e outro de 1 ano e meio.

Ela conta que deixou o cargo de gerente de banco quando engravidou da filha mais velha.

“No começo, eu pensei em ficar. Mas a licença maternidade era de 14 semanas e eu fiquei muito triste de ter de deixar minha filha.”

Ela disse que conversou com o marido e, depois de fazer várias contas, viu que seria mais caro pagar um serviço para cuidar da filha pequena do que ficar em casa.

Jennifer diz que não se arrependeu no começo e que olhava para a filha pequena e sentia que havia feito a escolha certa. Mas depois, ao engravidar do segundo filho, ela  viu mais distante o projeto de voltar a trabalhar.

“Eu queria ter outro filho, mas se eu não conseguia pagar creche para um, imagine para dois”, disse, sorrindo.

Jennifer agora espera voltar a trabalhar quando seu filho mais novo completar 5 anos e meio, idade necessária para a entrada no “kindergarden”, jardim de infância das escolas públicas norte-americanas.

Ela diz que até lá terá completado pelo menos nove anos fora do mercado de trabalho.

“Às vezes eu sinto falta de trabalhar. E penso que é muito cruel. Como gerente, eu ganhava menos que outros gerentes homens e, agora, quando eu voltar a trabalhar, tenho que começar tudo de novo, provavelmente, ganhando menos de novo e eles vão estar à frente”, comenta.

 

Agência Brasil

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