Da Agência Brasil*
Manifestantes foram às ruas em várias cidades neste domingo (26) em apoio à Operação Lava Jato e contra a corrupção. Em muitas capitais, os manifestantes também protestaram contra a lista fechada, modelo de sistema eleitoral que está em discussão. De acordo com os organizadores, os movimentos Vem Pra Rua e Brasil Livre, foram programados atos em 130 cidades.
São Paulo
Os manifestantes reuniram-se na Avenida Paulista, região central da capital paulista, para protestar a favor da Operação Lava Jato, contra o financiamento público de campanha, o voto em lista fechada e o foro privilegiado. Vestidos e verde e amarelo, os participantes concentraram-se próximos a oito carros de som espalhados pela avenida. Uma faixa de 100 metros com os dizeres "fim do foro privilegiado" foi esticada na avenida.
Manifestação na Avenida Paulista pediu o fim do foro privilegiadoRovena Rosa/Agência Brasil
O ato começou por volta das 14h e foi convocado por meio das redes sociais. Às 16h, os manifestantes se dividiram. A maior concentração ocorreu em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), onde estava o carro do Vem pra Rua, um dos organizadores da manifestação. O ato foi pacífico e terminou por volta das 18h - horário em que a avenida é reaberta para circulação de veículos. A Polícia Militar e os organizadores não divulgaram números de participantes.
"A combinação dessas coisas resulta em impunidade e confirma privilégios para o futuro. É a perpetuação de poder para os políticos que estão ajudando a levar o Brasil para o pior caminho possível. Não são todos, mas é a maioria. Nós não somos contra a classe política. Nós precisamos deles para nossa democracia, mas precisamos de partidos e políticos que pensem no povo e não nos próprios interesses como é hoje", disse o coordenador do Vem pra Rua, Rogério Chequer.
Para o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, outro grupo organizador do protesto, o financiamento público das campanhas políticas significa obrigar a todos a financiar em um momento de crise econômica. "Também não concordamos com a lista fechada porque ela diminui o poder de escolha do eleitor, que não escolherá o candidato, mas sim a legenda."
O MBL levou uma pauta específica que trata da aprovação do Projeto de Lei 722, que suprime um dos artigos do Estatuto do Desarmamento, e uma emenda para a Reforma da Previdência, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que cria um novo sistema previdenciário para os nascidos a partir do ano 2000.
A dona de casa Sandra Salatini foi ao ato com o marido e a filha de 16 anos por não concordar com o atual cenário político. "Do jeito que está não dá. Não podemos mais ficar calados, temos que tomar um atitude, já que não podemos confiar em nenhum político. Eles só ficam legislando em causa própria para se precaver do que pode ser feito contra eles".
O empresário Oscar Antônio Neto acredita que chegou a hora de "a população ir para as ruas e batalhar por um país melhor".
Ocorreram também manifestações no interior do estado. A maior foi em Campinas, onde os organizadores estimam que 2,5 mil pessoas participaram do ato. Em Jundiaí, estima-se que mais de 1 mil pessoas tenham ido às ruas - a polícia não divulgou números.
Belo Horizonte
Na capital mineira, a manifestação ocorreu na Praça da Liberdade. A mobilização foi realizada pelos grupos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre (MBL) e Patriotas, que lideraram os atos a favor do impeachment de Dilma Rousseff no ano passado.
Os manifestantes contaram com um palco e dois carros de som para fazer discursar. Os organizadores calcularam em 4 mil participantes. A Polícia Militar não fez estimativa de público.
Uma das bandeiras apresentadas no ato foi o fim do foro privilegiado. Segundo Silas Valadão, líder dos Patriotas, seria uma forma de impedir seletividade dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF), retirando a prerrogativa dos deputados, senadores, ministros e presidente da República de serem julgados unicamente pela Corte.
Protesto a favor da Lava Jato em Belo Horizonte Divulgação/Vem Pra Rua
Os manifestantes também protestaram contra a lista fechada nas eleições, a anistia ao caixa 2 e o aumento dos recursos do fundo partidário. Segundo a médica Kátia Pegos, líder do Vem Pra Rua em Minas Gerais, os parlamentares estão se movimentando para se blindar da Operação Lava Jato. "Eles querem manter o foro privilegiado e agora estão se articulando para aprovar o voto em lista, o que seria um grande retrocesso em um país que já saiu às ruas para pedir Diretas Já. Você vota no partido e o partido coloca os caciques de sempre, muitos dos que estão sendo investigados". Os manifestantes não fizeram críticas ao presidente Michel Temer.
Sobre a reforma da Previdência, os grupos ainda não têm posição fechada. Para o Vem pra Rua, reformas são necessárias, mas não devem ser feitas sem participação popular. "Não dá para manter benefícios para os políticos, o Judiciário, os militares. A regra tem que valer para todos. E também achamos pesado 49 anos de contribuição para alcançar a aposentadoria integral. É o que posso te adiantar, mas ainda não temos uma posição fechada e estamos estudando", diz Kátia Pegos.
Por outro lado, Silas Valadão vê avanços na proposta que tramita no Congresso. "Estão pegando pontos mais frágeis e mais discutíveis para demonizá-la e ignoram os pontos positivos que deixarão a Previdência mais enxuta. Hoje, o cidadão fica fazendo plano de previdência privada porque sua aposentadoria não dá para nada", disse, acrescentando que defende o projeto de terceirização aprovado na Câmara, como forma de geração de emprego e adequação do Brasil à uma realidade mundial.
O governador Fernando Pimentel também foi alvo da manifestação. "Nós esperávamos que o judiciário fosse mais célere para nos poupar desse governo. Estamos incomodados com a cooperação institucional para sua manutenção no poder", diz Kátia Pegos.
Pimentel foi denunciado em maio pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Acrônimo. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a abertura de uma ação penal contra o governador dependeriada autorização de dois terços dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O assunto será analisado pelo STF em abril.
Recife
No Recife, os manifestantes se concentraram na Avenida Boa Viagem, na zona sul da cidade, por volta das 10h. Usando roupas verde e amarela, levavam faixas em apoio à Operação Lava Jato e ao juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações na Justiça Federal. A manifestação seguiu pela orla até o 2° Jardim, onde se dispersou por volta das 12h30. Os organizadores e a polícia não divulgaram número de participantes.
Brasília
Na capital federal, os manifestantes reuniram-se na Esplanada dos Ministérios. Uma das principais pautas de reivindicação foi contra a lista fechada, que vem sendo defendida por vários políticos. O juiz federal Sérgio Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no MP, Deltan Dallagnol, foram lembrados. O protesto começou às 10h e terminou ao meio-dia, com um enterro simbólico do que os manifestantes chamaram de “velha política”. As lápides foram levadas para a frente do espelho d'água do Congresso Nacional. Em cada uma, havia a foto de um político. De acordo com a Polícia Militar, 630 pessoas participaram do ato.
Em Brasília, manifestantes fizeram enterro simbólico "da velha política"Antonio Cruz/Agência Brasil
Rio de Janeiro
Em apoio à Operação Lava Jato da Polícia Federal e contra o fim do foro privilegiado e da impunidade, os manifestantes percorreram a orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A advogada Adriana Balthazar, porta-voz do Vem Pra Rua no estado, disse que o grupo também é contrário ao voto em lista fechada e o aumento do fundo partidário “que são as coisas que impediriam a renovação. O foro privilegiado manteria essa turma que está aí [no Congresso Nacional]”, disse.
Manifestação em Copacabana pede fim da impunidade e do foro privilegiadoFernando Frazão/Agência Brasil
* Texto atualizado às 18h43.
*Reportagem de Flávia Albuquerque (São Paulo), Léo Rodrigues (Belo Horizonte), Sumaia Villela (Recife), Marcelo Brandão (Brasília) e Alana Gandra (Rio de Janeiro)
Os liberais precisam reagir ao “economicismo”, nem que peçam ajuda aos conservadores para tanto!
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