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quarta-feira, 1 de março de 2017

EUA e o impacto da Revolução Cubana – O foquismo revolucionário

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Para as esquerdas em geral, Fidel Castro e seus companheiros da Sierra Maestra, haviam descoberto a álgebra da revolução. O sonho dos missionários da redenção continental materializou-se especialmente na pessoa do segundo homem da revolução cubana, Ernesto Che Guevara, o herói par excelence- que, como um cavaleiro andante, carregava a chama da insurgência, espalhando a esperança da igualdade social através da luta anti-imperialista. As novas esquerdas, particularmente compostas por estuantes e intelectuais, afastavam-se dos moderadíssimos Partidos Comunistas latino-americanos, já profundamente abalados e divididos pelo conflito ideológico entre a URSS e a China, aderindo à teoria do foquismo defendida por Che Guevara. Segundo a evidência exposta a a partir da experiência cubana, um grupo corajoso e audaz de revolucionários decididos a tudo, bravos e determinados, sem levar em considerações as condições objetivas mais gerais, poderia deflagrar a luta insurrecional num ponto qualquer de um país e, a partir dali, com seu exemplo heroico, incendiar os ânimos das massas para a causa da Revolução, tratava-se, para os demais revolucionários do continente, que começaram a brotar de todos os lados, de levar à prática o desejo de Guevara em vir a “transformar os Andes numa nova Sierra Maestra”.

O verdadeiro revolucionário, pois, devia dar as costas às práticas parlamentares tradicionais e ao jogo dos sistemas democráticos e embarcar logo na estrada da revolução armada. O que transformaria a sempre injusta realidade social latino-americana era o fuzil e não a palavra. A América Ltina por inteiro poderia ser convulsionada a partir de um foco revolucionário, tal como uma minúscula fogueira acesa numa clareira facilmente incendeia uma floresta. A crescente polarização das forças políticas, decorrente da Revolução Cubana, tornou-se impossível aos norte-americanos sustentarem políticas reformistas, mesmo que fossem modestas. Para as esquerdas latino-americanas elas eram insuficientes, não passavam de manobra propagandística ou senão paliativos inconsequentes, feitos apenas para dar uma boa publicidade aos norte-americanos junto à opinião pública internacional. Para a direita, mesmo a mais modesta concessão no campo econômico ou político era sinônimo de subversão social, um convite aberto à insubordinação das massas para com seus dirigentes, era abrir a perigosa Caixa de Pandora Social, liberando demandas que eram impossíveis de serem atendidas. A reforma, qualquer que fosse era o vestíbulo da revolução, a antessala do desastre. A prova da opção por uma política cada vez mais conservadora, já manifesta na etapa final do governo Kennedy, foi a gradativa adoção pela administração democrata dos pontos de vista defendidos por John Davis, um ex-diplomata que afirmava: “A questão básica não é ser o governo ditatorial ou representativo e constitucional. A questão é se o governo, a despeito do seu caráter, pode manter a sociedade estruturada o bastante para fazer a transição”. Desta maniera, já em 1963, estavam lançados os princípios fundamentais para a adoção dos ponto de vista de Thomas Mann, subsecretário de estado (em 1964), e do secretário de estado Robert McNamara (em 1967), que concordavam em sacrificar a democracia em favor da segurança continental. Se o que se alastrou por toda a América Latino nos anos de 60 do século passado, foi o responsável pelo congelamento e depois abandono da Terceira Via, não se deve esquecer a tradicional incapacidade política norte-americana em liderar reformas. Além disso, a política das reformas previstas pela Terceira Via deveria receber a entusiástica adesão por parte das oligarquias latino-americanas. Afinal, delas é que partiria parte ponderável dos recursos necessários às transformações pretendidas pela Aliança para o Progresso. Ora, tradicionalmente, estas oligarquias, sempre que ameaçadas pelas classes subalternos, inclinaram-se pela repressão e não pela reforma social.

7 SCHLESINGER Jr., A. Op. Cit, p. 201.

Uma política de improvisação

É, pois, suspeita a versão de que a Aliança para o Progresso teria sido uma continuidade da política de Boa Vizinhança de F. D. Roosevelt. Foi, muito antes, um improviso adotado por John Kennedy por temer sofrer uma derrota estratégica para os soviéticos numa região historicamente tributária dos Estados Unidos. Ela não passava, pois, de uma inversão abrandada da Doutrina de Segurança Nacional, da época de Harry Truman, podendo ser entendida como a continuação da Guerra Fria por outros meios.

Lázaro Cárdenas, o ex-presidente mexicano que ainda vivia aquela época, talvez tenha percebido com mais agudeza o que o governo Kennedy realmente desejou, quando definiu a Aliança para o Progresso ser “uma imoral tentativa de comprar as consciências latino-americanas para que assistissem sem mover um dedo ao estrangulamento de uma república irmã” [Cuba], pronosticando em seguida em seu total fracasso.

8KAROL, K. S. Los guerrilheiros em el poder. Barcelona: Seix Barral, 1972, p. 271.

Fonte: http://educaterra.com.br/voltaire/mundo/2002/08/12/000.htm

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