quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O que foi ou é o Lulo-Petismo

As principais tendências do PT:

· CNB é a tendência majoritária, ou Construindo um Novo Brasil. ...

· Articulação de Esquerda. Tendência criada em 1993 como dissidência do Campo Majoritário, tendo Valter Pomar como seu principal expoente. ...

· Democracia Socialista. ...

· Movimento PT.

· O Trabalho.

           Agora que o PT é mais lembrança do que ação,  vale ter uma ideia geral da composição dos governos petistas e a lógica da partilha entre seus partidos e correntes internas. 

           No mandato de Dilma Rousseff como presidente da República, a corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil (CNB, antiga Articulação dos 113), teria perdido espaço para outras correntes,  denominadas “tendências”, e que sempre estiveram presentes no PT. Os motivos foram vários. No final dos anos 1970, a proposta de criação do partido de trabalhadores  circulava por muitos agrupamentos.  É possível citar a Liga Operária que, em 1973, na Argentina, queria um partido amplo, de massas, democrático e socialista que já  hávia no mundo das  organizações de partidárias como o Socialist Workers Party, dos Estados Unidos , fundado em 1938, o Partido de los Trabajadores de España ,em 1979. Mais tarde, outros partidos: no Uruguai, em 1984; na Costa Rica, em 2012;  o Partido Socialista dos Trabalhadores, da Argentina, de orientação trotskista. A sigla Partido Socialista dos Trabalhadores é encontrada  na Colômbia, em 1977, no  México (1975), Panamá (1983),  Peru e Reino Unido.

O  caso brasileiro, por  indicação da Liga Operária, surgiu, em 1978, o Movimento Convergência  Socialista, com a intenção de criar tal partido.  A Liga Operária, formada por militantes da Ação Popular, do Partido Comunista Revolucionário e pelo Movimento Nacionalista Revolucionário eram vozes importantes na esquerda. Em 1978, o Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP) também queria um PT, como partido independente , e teve aval do Congresso dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, em Lins, uma época ainda mergulhada em estruturas de resistência e combate aos governos de  militares de generais,  para reconstruir-se a partir de 1974, após os grupos armados serem dizimados.

O PT não era uma ideia apenas trotskista, nem exclusiva de organizações comunistas não trotskistas, era também da experiência das esquerdas  como uma espécie de federação de coletivos  no interior de um amplo guarda-chuva legalizado. Em 1986, o IV Encontro Nacional do partido reconheceu o direito de tendência, que é  a possibilidade de fazer oposição, diferente do centralismo democrático dos bolchevistas. Porém , José Dirceu iniciou uma forte campanha pelo enquadramento ou expulsão da Convergência Socialista e do Partido Revolucionário Comunista, que tinha José  Genoíno como sua principal liderança. Em 1991, durante o Primeiro Congresso Nacional do PT, registraram-se 16 tendências internas das quais podem ser citadas:

CNB

A tendência majoritária, ou Construindo um Novo Brasil, cujos  líderes mais conhecidos  eram  Lula e José Dirceu. Em 1983, centro e treze dirigentes petistas assinaram um manifesto que procurava superar as divisões para se constituir numa proposta socialista, massiva,  como um partido vanguardista como um divisor de  águas, motivando  a criação de um partido não classista para vitalizar os núcleos de base com caráter deliberativo e a formação política e cultural dos militantes, com foco prioritário de atuação nos movimentos sociais. Dentre seus articuladores nacionais, destacaram-se Humberto Costa, Marco Aurélio Garcia, Maria do Carmo Lara, Paulo Frateschi, Ricardo Berzoini, Luiz Dulci, Benedita da Silva, João Vaccari, José Dirceu e Lula, que prevaleceram como grandes dirigentes.

Articulação de Esquerda

Lançou seu manifesto denominado “A hora da verdade” e se consolidou (entre 1993-1995) como força majoritária no diretório nacional do PT. Sua principal crítica foi o que se intitulou de “giro para a direita” da cúpula da Articulação dos 113, que se materializaria no apoio ao governo Itamar, na defesa do parlamentarismo.

Democracia Socialista

Em agosto de 1993, a Articulação de Esquerda aliou-se á  Democracia Socialista ( de origem trotskista, para formar  chapa, também unida à  “Na Luta PT”. Rui Falcão era o dirigente da Articulação de Esquerda, eleito vice-presidente nacional da sigla, assumindo a presidência em 1994. Rui Falcão, Cândido Vacarezza, que ficaria famoso mais tarde, uniram-se a José  Dirceu e venceram as eleições internas. Mas perderam o controle.  Arlindo Chinaglia abandonou a Articulação de Esquerda  em 1997,  discordando da criação de uma nova setorial sindical .Surgiu um novo racha em função de militantes que formariam a Consulta Popular,  que não concordavam com o foco no processo eleitoral e institucional.

Em 2005, Tarso Genro, ante às denúncias envolvendo o então ministro José  Dirceu em casos de corrupção, rompeu com a direção partidária e  deixou públicas as suas críticas,  que se denominava internamente CNB. Outra corrente, a  Democracia Socialista (DS),  incorporou duas correntes regionais, Alternativa Socialista e Movimento Socialista e se aliou com alguns expoentes petistas como Paul Singer, José Eduardo Cardoso, Tarso Genro, Fernando Haddad,  Eduardo Suplicy e Marcelo Deda para lançar a tese “Mensagem ao Partido”. A tese destacava a necessidade da recuperação ética do PT e propôs a “revolução democrática” e o “republicanismo” para a construção da sociedade socialista. Assim,  rompia, a partir daí, com a Quarta Internacional Trotskistas e atraía outros intelectuais petistas, como Marilena Chauí e Maria Victória Benevides. A DS, comandada por Raul Pont e Miguel Rosseto e tendo dirigentes nacionais e intelectuais como Juarez Guimarães (UFMG) e Joaquim Soriano como expoentes históricos concentravam-se na gestão pública e na construção do que seria a governabilidade mais à esquerda com seus temas prioritários no interior da Mensagem ao Partido.

Em muitos casos, essa tendência interna foi utilizada como “válvula de escape” para superar lideranças regionais, como é caso de Minas Gerais. Assim,  críticas públicas sobrepujaram os  processos internos de definição política do PT e as políticas adotadas pelo governo Dilma. Em 2013, um vendaval dos protestos explicitou  que afirmava que setores do PMDB  dificultavam a implantação da agenda de mudanças e destacava  a reforma política e a democratização dos meios de comunicação. O  anúncio de Joaquim Levy para o comando da política econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff gerou críticas .Tarso Genro, sustentando que ele não preenchia o perfil de continuidade da política econômica adotada por Guido Mantega.

Democracia Socialista

A fundação da Democracia Socialista como organização trotskista contou, originalmente, com a participação de militantes do Partido Operário Comunista (POC) e do Comando de Libertação Nacional (COLINA), mas na sua maioria, agregou militantes de organizações do Rio Grande do Sul e Minas Gerais que eram conhecidos pela abreviatura O (de “organização”). Seu surgimento tem relação com o movimento estudantil do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais (correntes Peleia e Centelha) e do movimento sindical dos bancários, dos trabalhadores da educação e dos metalúrgicos. Dirigiu a UNE com Milton Pantaleão (gestão 1987/88), Darlan Montenegro, Tiago Silva (gestão 2009-2011), Clarissa da Cunha (gestão 2011-2013) e Mitã Chalfun (2013-2015).

Movimento PT

Vinculado originalmente a Marta Suplicy, Maria do Rosário, Geraldo Magela e Arlindo Chinaglia, tem como expoente a família Tatto, de São Paulo. Aliou-se a outras tendências, como “Novos rumos para o PT” e “PT de Lutas e de Massa”. Sua crítica maior se aferra ao que denomina burocratismo e a falta de democracia interna das correntes tradicionais petistas. Mostrou o descontentamento de Marta Suplicy com o governo Dilma Rousseff e  sua intenção de ser candidata a Prefeita de São Paulo em 2016 , contrariando a candidatura para reeleição do prefeito Fernando Haddad, enquanto  alimentou boatos prévios  de sua transferência do PT para o PMDB.

O Trabalho

É uma Tendência com orientação trotskista, tendo como principais líderes José Carlos Miranda e Markus Sokol. Muitos são os expoentes que integram esta tendência interna que atrai setores moderadamente críticos à tendência majoritária do PT. Entre elas: Alessandro Molon (Deputado Federal do RJ), Ana Carepa (ex-governadora do Pará), André Singer, Arlete Sampaio, Carlos Minc, , Eduardo Valdoski (Juventude PT), Eloi Pietá, Estilac Xavier (ex-Casa Civil), Gilmar Machado, Hamilton Pereira, Guilherme Cassell (ex-Ministro MDA), João Coser (ex-prefeito de Vitória), João da Costa (ex-prefeito de Recife), Jorge Bittar, Margarida Salomão (ex-reitora UFJF), Paulo Vannuchi, Pepe Vargas, Walter Pinheiro, Antonio Carlos Biscaia, e outros.

Resumo da ópera:

            O PT de hoje e talvez de sempre, reflete um momento anterior dos idos de 1968, com múltiplas tendências de esquerda em conflito. O elo era o Lula, a coordenação de José Dirceu, mas como visto a facção da Igreja esteve sempre presente. Alguns líderes estão velhos  ou morrendo, os líderes que alentaram um proposta socialista, mais à esquerda ou não não têm mais o poder de governo. Dos vários nomes citados  é provável que muitos sobrevivam, porque são ainda jovens em outros partidos,  como oposição. O certo é que o socialismo marxista é fogo morto. Os nomes das correntes variaram em aproximações táticas entre os que querem dominar e ter poder no Partido dos Trabalhadores, mas , escorregadios, muitos já saíram do barco, porque a operação  Lava Lato ainda pode fazer muito estrago como um gato velho na rataria. Seria sensato separar  as tendências lulistas e petistas propriamente ditas? Para Lula, claro que não, tudo gira em torno dele, mas elas são coisas diferentes em seu arcabouço, Entretanto difícil  de se serem entendidas quando se trata de dividir o poder, mais ainda porque ele já não está às mãos, as eleições de 2014 já mostraram isso nas prefeituras..

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