Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal e originalmente no blog do autor
Se você não se interessa por política (em sentido amplo, significando a relação entre governantes e governados e os limites da atuação daqueles sobre estes, sem necessariamente mencionar partidos ou nomes de políticos em específico); se quando este assunto ganha uma roda de conversa, faz que vai pegar um café e nem volta; se acha que as vertentes ideológicas são todas equivalentes e não fazem jus, portanto, que você canalize esforço algum no sentido de tentar melhor compreendê-las; se considera infrutífero o debate entre esquerda e direita, e que o ideal seria “andar para frente”, tenho algumas notícias para você – pouco alvissareiras, diga-se.
Primeiramente, a mais grave: você, possivelmente, não deveria segurar um cartaz com frases como “nem esquerda, nem direita”. O motivo: sem dar-se conta ou mesmo sentir qualquer arrepio, você é bombardeado diuturnamente com conceitos de esquerda, seja na televisão, nos jornais, no cinema, na literatura de ficção ou ouvindo músicas – para não mencionar as aulas no colégio ou na faculdade. Caso tenha internalizado em sua consciência as premissas normalmente emitidas por estes veículos de comunicação, dificilmente suas opiniões, hoje, não façam de você um esquerdista.
Se duvida, faça um teste: existem diversos questionários na Internet que visam enquadrar suas convicções no espectro político. Nenhum deles é perfeito, mas permitem traçar um perfil básico do usuário no que tange a seus posicionamentos. Alguns, inclusive, comparam seu resultado com o de figuras históricas. Sugiro este aqui, e compartilho o resultado que obtive, a título de exemplo – situado entre o conservadorismo (comunitarismo) e o liberalismo, dividindo espaço com Ronald Reagan. Responda aos 36 questionamentos e depois confira a conceituação de cada quadrante (diferenciados por cores):
http://www.celebritytypes.com/pt/coordenadas-politicas/teste.php
Fez o quiz e constatou que tenho razão? Você jurava ser “neutro” na política mas foi classificado entre o Obama e o Bill Clinton? É isso mesmo: sua omissão em buscar informações sobre as reais intenções e propostas efetivas de cada ideologia acabou servindo aos interesses da esquerda. E isso ocorre porque se você não procurar fontes alternativas de conhecimento, ficará exposto durante todo o tempo em que estiver acordado – e talvez até em seus sonhos – ao ideário “progressista”, especialmente se possuir a Globonews ou a CNN em sua grade de canais¹.
“Puxa, mas eu odeio o PT e o Lula, como isso é possível”? Elementar: você continua acreditando em princípios tais quais “o governo deve regular a economia para reduzir a desigualdade”, tal qual aprendeu com a professora de História na 7º série, e apenas não vê mais estes ideais na estrela vermelha carimbada com o 13, nem tampouco gostou de saber que os autoproclamados combatentes da miséria estavam de braços dados com “o capital”. É bem provável, pois, que personagens como Ciro Gomes ou Marina Silva conquistem sua simpatia em um futuro próximo, pois as coordenadas políticas deles devem coincidir perfeitamente com a dos petistas.
Convenhamos que deve ser doído, após décadas de disseminação de cultura da esquerda em nosso país, ler afirmações, no teste, como “Reabilitar criminosos é mais importante que puni-los” e ter de discordar. Mais difícil ainda corroborar com a assertiva “De uma forma geral, o salário mínimo causa mais mal do que bem”. Pessoas bem intencionadas e desconectadas da política, no geral, concordam com a primeira sentença e discordam da segunda. Há uma significativa parcela de indivíduos que preferem arregaçar as mangas e trabalhar em vez de envolver-se em discussões políticas, em uma atitude absolutamente louvável e, no mais das vezes, necessária a sua subsistência, mas que os torna presas fáceis para manipuladores da opinião pública, dada sua incapacidade de refutar tais dogmas assistencialistas e vitimistas, e que os impelem, invariavelmente, a favorecer medidas populistas, e a apoiar aqueles políticos que dizem “dar voz às minorias” – seja lá o que isso signifique.
Atingir um nível de entendimento que permita pensar de forma diversa exige algum estudo paralelo, e os websites de produtores independentes desempenham um papel crucial nesta empreitada. Por outro lado, caso prefira manter-se entre aqueles que preferem ver no estado a solução para todos os problemas (inclusive aqueles criados pelo excesso de estado), daí fica tudo mais fácil: não precisa fazer rigorosamente nada.
Simplesmente deixe-se levar pela maré, pelos ventos que levam ao assistencialismo e ao paternalismo estatal. Apenas abra os olhos pela manhã e, antes mesmo de levantar da cama, já estará sendo trazido pela mão para o lado daqueles que acham que o desenvolvimento de alguma nação pode advir de ações do governo que não sejam sair do caminho dos investidores e gerar ordem na sociedade. Em suma: quer combater o establishment? Pesquise sobre os fundamentos do liberalismo e do conservadorismo. Quer manter o status quo? Apenas respire e siga sua vida normalmente, lendo a Folha de São Paulo e assistindo ao programa da Fátima Bernardes. É a garantia de que nada vai mudar (para melhor, ao menos) em sua vida.
Levando em conta, ainda, que o brasileiro é um povo bastante emotivo, e que as ideias de esquerda costumam ser absorvidas pela emoção, e não pela razão (daí aquele provérbio que reza que “quem não foi socialista na juventude não teve coração, e quem é socialista na idade adulta não tem cérebro”), fica ainda mais fácil ser captado pelo movimento coletivista caso você apenas submeta-se à sua propaganda, sem questioná-la com argumentos calcados na lógica.
A contrario senso, pare para refletir racionalmente por alguns minutos sobre temas que você considera incontroversos, como a importância dos sindicatos para os trabalhadores e a efetividade dos vários “direitos” do cidadão previstos na Constituição Federal, apoiado por materiais produzidos por aqueles que nadam contra a maré, e ficará surpreso com as novas conclusões a que irá chegar. Uma epifania definitiva o aguarda, tendo em vista que o caminho da esquerda para a direita (seja lá em que ponto deste trajeto você decidirá parar) é a regra; o contrário não costuma ser verificado. Talvez em casos de AVC.
E ainda que você seja daqueles que prefere não imiscuir-se nesta pendenga entre esquerda e direta por ser, simplesmente, um defensor da liberdade, tanto melhor: a nomenclatura, de fato, não é relevante para o debate – até porque, mais de uma vez, termos usualmente associados a um lado passaram a caracterizar o outro, sendo a palavra “liberal” nos Estados Unidos o melhor exemplo. Foque no discurso, independente se quiserem chamar de Norte-Sul, em cima-embaixo, o que seja. Vejamos o exemplo da Nova Zelândia, onde um partido tradicionalmente de esquerda promoveu contenção de gastos, enxugamento do estado e desregulamentações sem precedentes na história daquele país, conduzindo a nação a um nível de desenvolvimento nunca antes observado². E para que exemplo melhor do que o atual prefeito de São Paulo, filiado a um partido que professa a social-democracia, mas cuja atuação deixaria Margaret Thatcher orgulhosa?
Você quer ir para frente, e não marcar passo, indo para esquerda ou direita? Ótimo: comece este processo saindo da Matrix, tomando a pílula vermelha, como costuma dizer Paul Joseph Watson em seu Twitter. Apenas dê uma chance aos pressupostos sustentados por aqueles que defendem a liberdade e a preservação de marcos civilizatórios da humanidade (também alcunhados de “tabus”). Não precisa concordar com todos eles. Nem estas pessoas concordam todas entre si. Mas eu duvido que você continue vendo o mundo com os mesmos olhos. Ou seja, a boa notícia é que há cura para aquele seu desempenho lamentável no quiz, e custa pouco ou nada.
Quer viver uma nova experiência, sair da rotina, escapar do tédio, da mesmice? Muito bom: comece com as seis lições de Mises, e prepare-se para uma aventura intelectual. Boa leitura!
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