Campeã da última edição, Canto da Alvorada não vai desfilar este ano no carnaval de Belo HorizonteJulia Lanari/Belotur/Divulgação
Os blocos de rua, que vêm assumindo o protagonismo do carnaval de Belo Horizonte desde 2009, não são as únicas atrações da folia da cidade. Durante a maior parte da década de 2000, foram as escolas de samba que exerceram papel importante para garantir que a festa mais popular do país não passasse em branco na capital mineira. Carregando uma tradição de 80 anos, as agremiações continuam como peça importante na programação oficial do carnaval da cidade e desfilam hoje (28) à noite.
Quatro escolas – Estrela do Vale, Imperavi de Ouros, Acadêmicos de Venda Nova e Cidade Jardim – vão se apresentar na Avenida Afonso Pena, nesta ordem, a partir das 20h. As três melhores na opinião do júri serão anunciadas na sexta-feira (2) e receberão prêmios de R$50 mil, R$25 mil e R$12,5 mil. Os quesitos avaliados serão bateria, samba-enredo, enredo, conjunto harmônico, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente e desempenho do mestre-sala e da porta-bandeira.
Detentora de 14 títulos e vencedora da edição de 2016, a Canto da Alvorada não desfilará neste ano. Segundo nota publicada página da agremiação, a decisão se deu pela “falta de reconhecimento pelo poder público e pelas condições apresentadas”. Por outro lado, está garantida a presença da Escola de Samba Cidade Jardim, que soma 16 títulos e é a maior campeã. Criada em 1961, ela é a mais antiga agremiação de Belo Horizonte ainda em atividade.
A origem das escolas de samba de Belo Horizonte remete a 1937, quando foi fundada a Pedreira Unida. A agremiação reunia carnavalescos da favela Pedreira Prado Lopes e completaria 80 anos em 2017, mas já está extinta. “O Rio de Janeiro foi a vanguarda nesse processo no país, mas é interessante notar que a Pedreira Unida surgiu menos de dez anos após a criação das primeiras agremiações cariocas no final da década de 1920, como Deixa Falar, Mangueira e Portela”, conta o historiador Marcos Maia.
A novidade foi saudada pela imprensa mineira, que anunciou em manchetes a substituição dos clarins e dos instrumentos de sopro pelos instrumentos de percussão. Outras escolas também surgiriam e, em 1956, três delas se organizaram para se apresentarem guiadas por samba-enredo. Até então, o samba do desfile era improvisado pelas baterias. Segundo Marcos Maia, no início da década de 1980, as escolas de samba de Belo Horizonte haviam atingido um desenvolvimento que só perdiam para as do Rio de Janeiro em termos de luxo e quantidade de integrantes.
Blocos caricatos
Além das escolas de samba, Belo Horizonte tem outra categoria de desfile: os blocos caricatos. Nove deles desfilaram ontem (27) à noite, também na Avenida Afonso Pena. Hoje (28), mais um se apresentará, após as escolas de samba. O júri também elegerá os três melhores, que serão anunciados na sexta-feira (3) e receberão, respectivamente, prêmios de R$25 mil, R$12,5 mil e R$6,25 mil.
Peculiaridade de Belo Horizonte, a origem dos blocos caricatos ainda não é totalmente conhecida dos historiadores. Entre algumas hipóteses, eles podem ter influência dos carros alegóricos que partiam dos clubes e sociedades no início do século 20 ou do corso, que existia desde a fundação da cidade, em 1897. No corso, famílias desfilavam fantasiadas em seus carros particulares, numa época em que os veículos eram mais abertos e as pessoas conseguiam ficar de pé nas laterais.
Nos blocos caricatos, a bateria fica em cima de um caminhão e os instrumentos ficam presos no veículo. “É uma particularidade de Belo Horizonte, mas também existiam em São João del Rei. É possível que tenha nascido na capital e ido para outras cidades, mas também é possível que o caminho tenha sido inverso”, diz Marcos Maia.
Tradição
Embora a primeira escola de samba tenha surgido em 1937, as origens do carnaval em Belo Horizonte são bem mais antigas. “Há indícios de que, já no século 19, antes da fundação da cidade, as pessoas pulavam carnaval. Nesta época, aqui existia o arraial do Curral del Rey. Um livro escrito por um padre da época, chamado Francisco Martins, traz um capítulo sobre festas profanas e cita, de maneira negativa, o carnaval, onde rapazes estariam desencaminhando as moças. Ele inclusive menciona o termo batuques”, afirma o historiador.
É provável que o padre estivesse se referindo ao entrudo, modalidade de carnaval que veio com os portugueses no período colonial e que ainda se praticava no Brasil no século 19. Trata-se de uma brincadeira em que as pessoas jogavam umas nas outras farinha, baldes de água, limões-de-cheiro, areia e outros produtos.
Belo Horizonte foi fundada em dezembro de 1897 e já em 1898 há registros tanto do entrudo, como de festas com mascarados nas ruas. “Em 1899, a exemplo do Rio de Janeiro, a capital mineira já contava com o primeiro clube, criado por uma sociedade de empresários e profissionais liberais para a realização de festas. Neste ano, pouco mais de dez carros alegóricos desfilaram saindo deste clube. Também havia cavalos e clarins. Eles se intitulavam Diabos de Luneta. Nos anos seguintes novos clubes surgiriam, assim como posteriormente blocos de rua, ranchos carnavalescos e as escolas”, conta Marcos Maia.
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