Por Adolfo Sachsida
Novas tecnologias sempre enfrentam uma resistência em seu início. Isso ocorre pois a nova tecnologia tende a tirar uma ampla gama de pessoas e empresas de sua zona de conforto. A nova tecnologia imediatamente causa um aumento de bem estar dos consumidores. Afinal, não fosse assim a nova tecnologia não ganharia espaço no mercado. A nova tecnologia só ganha consumidores pois estes a preferem em relação a antiga. Por outro lado, os fornecedores da tecnologia antiga perdem dinheiro, empregos e espaço no mercado. Daí a revolta de determinados setores quando são obrigados a enfrentar a concorrência de uma nova tecnologia.
Imaginem a quantidade de desemprego que foi gerada pela locomotiva a vapor. Milhares de carroceiros perderam seus empregos, pois agora era mais eficiente o despacho das mercadorias pelo trem (e não mais por carroças). Essa é o efeito que se vê. Mas existe um outro efeito que não se vê: ao baratear o custo de transporte a locomotiva a vapor tornou viável um rol enorme de outros empregos e de outras atividades econômicas.
De maneira similar, softwares de edição de texto desempregaram os datilógrafos. Acaso alguém sugere que softwares de edição de texto sejam proibidos? O restaurante self-service foi uma inovação que desempregou milhares de garçons. Acaso alguém quer proibir tais restaurantes?
Toda nova tecnologia gera custos (desemprego, fechamento de empresas) em determinado setor, esse é o efeito que se vê. Mas, ao mesmo tempo, essa nova tecnologia cria dezenas de milhares de novas oportunidades que até então eram tecnicamente, ou financeiramente, inviáveis. Esse é o efeito que não se vê.
Com o UBER não é diferente. Essa nova tecnologia representou um ganho imediato de bem estar aos consumidores. Afinal os consumidores não são obrigados a usar o UBER, se o usam é porque lhes é vantajoso. Ao mesmo tempo, vários taxistas acabam se sentindo prejudicados pois parte de seus antigos clientes migram para o UBER. Ora, se isso for motivo para proibirmos o UBER deveríamos proibir igualmente o computador, o restaurante self service, bem como qualquer inovação tecnológica.
O caminho a ser perseguido não é proibir o UBER, pelo contrário, deve-se sim estimular a competição e o uso de novas tecnologias. Que tal os taxistas se reunirem e criarem outro aplicativo para competir? Que tal liberarmos o mercado de transporte público para que esse receba cada vez mais competição? Barrar o uso lícito de novas tecnologias é economicamente ineficiente, e moralmente absurdo. Qual a justificativa moral para criarmos uma reserva de mercado para os taxistas? Já pensou se a moda pega. Cada sindicato, cada setor, cada trabalhador e cada empresário da economia exigiriam o mesmo benefício para si mesmo. Tal comportamento levaria, ao longo do tempo, a uma estagnação tecnológica que por sua vez se traduziria numa sociedade cada vez mais pobre, e mais avessa a novas tecnologias.
O UBER é apenas a ponta do iceberg. A revolução na tecnologia da informação permite um rol amplo de inovações. Por exemplo, em breve teremos os donos de redes hoteleiras reclamando do Airbnb, um aplicativo que permite o aluguel de residências (e certamente diminui a demanda por quartos de hotéis).
Barrar o UBER, ou o Airbnb, ou qualquer outra tecnologia, é condenar uma economia ao atraso e tornar os consumidores reféns dos produtores que detém a tecnologia antiga.
SOBRE O AUTOR
Adolfo Sachsida
Doutor em Economia (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) orientado pelo Prof. Walter Enders. Lecionou economia na University of Texas - Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia.
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