quarta-feira, 30 de novembro de 2016

EDITORIAIS VERDADEIROS SOBRE FIDEL NÃO INOCENTAM JORNAIS POR CONTEÚDO MANIPULADO

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Mais gente lê as manchetes dos jornais do que seus editoriais. E são as manchetes, assim como as reportagens, que costumam vir carregadas de ideologia, de eufemismo, de visão esquerdista. No caso de Fidel Castro, por exemplo, são as matérias desses jornais que costumam tratá-lo como “ex-presidente”, e mostrar sempre o “outro lado”, como se fosse possível existir algum lado bom num tirano assassino que escravizou todo um povo e lhe usurpou o direito de sonhar com o futuro.

Digo isso pois não perdoo essa postura, essa cumplicidade da grande imprensa para com o pior ditador que o continente já teve, alguém que faz Pinochet parecer quase um santo, mas que continua sendo idolatrado por idiotas úteis como se fosse um grande humanista preocupado com os mais pobres. Ainda assim, e feita a ressalva de que os editoriais não inocentam tais veículos, destaco aqui trechos dos obituários de Fidel pelo Estadão e pela Folha, que deveriam dar o tom de todas as suas reportagens:

Estadão:

Como os vários tiranos do século 20 que se julgavam portadores da verdade e encarregados de uma missão libertadora, Fidel Castro acreditava que a história o absolveria. O líder da Revolução Cubana, morto no dia 26, foi o responsável pela mais longeva ditadura da América Latina, uma das mais cruéis do mundo, deixando como herança um país devastado economicamente e uma população amedrontada.

[…]

Seu maior feito, porém, foi ter mantido uma ditadura por mais de meio século a despeito do fato de sua administração ter destruído o país. Em qualquer outro lugar, um dirigente que condenasse seus governados à pobreza crônica e que os submetesse ao atraso tecnológico e industrial por tantas décadas – sem falar da ausência de liberdades individuais e de respeito aos direitos humanos – acabaria sendo derrubado.

[…]

O espetacular fiasco da experiência socialista e castrista em Cuba deveria servir como prova definitiva da inviabilidade desse modelo e da natureza irresponsável, despótica e corrupta do regime de Fidel. Mas ainda há quem veja nele um modelo a ser seguido. Para a ex-presidente Dilma Rousseff, Fidel foi “um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte”. Para o ex-presidente Lula da Silva, Fidel foi “o maior de todos os latino-americanos”, cujo “legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo” será “eterno”. Já para a maioria dos cubanos, Fidel é um pesadelo que, enfim, termina.

Folha:

Não se limitou aos setores mais dogmáticos da esquerda o fascínio que, durante décadas, cercou a figura de Fidel Castro na opinião pública latino-americana.

Estranhamente, mesmo entre grupos já desiludidos em definitivo pelo sistema soviético, o modelo de Cuba —nada mais que sua tradução em paisagem tropical— continuava e continua a provocar relativa simpatia.

Surgindo para o mundo numa aura de herói romântico, capaz de com um punhado de homens iniciar a derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista, Fidel Castro assumiria posteriormente o papel de um símbolo anti-imperialista, liderando de sua pequena ilha uma impressionante resistência às investidas do poderio norte-americano.

Ignorava-se voluntariamente, com isso, a condição real de Cuba: a de, num imprevisto geopolítico, ter-se constituído em mero protetorado da União Soviética, mantido enquanto esta durou, sobrevivendo depois graças ao apoio da Venezuela, até que, por sua vez, o bolivarianismo entrasse também em crise terminal.

[…]

As liberdades individuais, a alternância de poder, o curso desimpedido da informação constituem não apenas um valor humano inegociável no mundo moderno mas também a única salvaguarda que se possa ter contra a estagnação.

Um sistema feito à força, do qual centenas de milhares de pessoas são levadas a fugir, e no qual as que restam vivem sob censura e medo, não se flexibiliza nem evolui. Estaciona no tempo, ou cai definitivamente: é destino de toda ditadura não ter perspectiva de futuro.

[…]

Cuba já era, entretanto, um dos países com menor taxa de analfabetismo da América Latina, e o de menor taxa de mortalidade infantil, sob a ditadura de Batista.

As carências gerais em itens básicos de consumo, e o gritante atraso tecnológico, condenam a ilha a viver no passado; de herói juvenil e inspirado, Fidel Castro transformou-se na derradeira múmia do século 20. Sobreviveu a tudo, mas já estava morto.

Agora pergunto: por que esses jornais não preservam essa linha realista em suas reportagens, em suas manchetes? Por que permitem que “jornalistas” com viés esquerdista manipulem o conteúdo dos jornais de acordo com suas ideologias? O resultado acaba sendo terrível: os editoriais corretos garantem a aura de isenção, para que as reportagens manipuladas possam enganar mais gente ainda.

Você acusa os veículos de parcialidade e o esquerdista rebate: “Ora, como assim? Não viu o editorial? O jornal é de direita!” Não, o jornal não é de direita, tampouco imparcial. Pode até ter um editorial razoável, mais fiel aos fatos, mas isso acaba servindo de verniz para ocultar o que vem dentro, eivado de ideologia, distorcendo fatos, abusando de eufemismos, aliviando a barra desse tirano assassino que destruiu todo um país e só encanta imbecis e canalhas.

Por isso não perdoo nossa mídia. Nem mesmo diante de bons editoriais. O viés esquerdista é evidente nas manchetes e nas reportagens. E isso que causa tanto estrago. O caso da televisão é ainda pior, como o “Jornal Nacional” e o “Fantástico” da TV Globo comprovam. Alcançam milhões de pessoas, muito mais do que os editoriais desses jornais. Precisamos urgentemente de uma Fox News do Brasil.

Rodrigo Constantino

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