terça-feira, 1 de novembro de 2016

A ocupação dos desocupados, por Rodrigo Constantino

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Eduardo era um bom menino de classe média, que jogava futebol de botão com seu avô e frequentava a missa aos domingos. Estudava bastante para ser alguém na vida, ter um emprego decente, sustentar sua família. Seu fim de semana era ocupado com leituras, de olho em sua formação como indivíduo independente.

Fernando era de classe mais alta, viajava bastante e tinha um iPhone última geração que ganhou da mãe. Cabulava aula para beber ou fumar maconha com os amigos ao som de Chico e Caetano. Jamais arrumava o quarto, mas queria “salvar o mundo”, e se sentia o legítimo representante dos pobres por votar no PSOL. Conheceu uma turma mais velha ligada a sindicatos e partidos de extrema-esquerda, e logo se encantou. Era membro agora de um “coletivo”, conseguia sexo fácil com as feministas do grupo usando sua camisa do Che Guevara. Um belo dia recebeu o comando do líder para ocupar sua escola com alguns companheiros.

Ficou excitado com a adrenalina: era sua chance de finalmente ser um revolucionário contra o “sistema opressor” e os “alienados”, como o pai do Eduardo, um policial “fascista”. Durante a “ocupação”, Fernando teria o controle da situação, respaldado pelo líder do movimento. Daria ordens, seria ele o policial, mas aplicando suas próprias leis arbitrárias em nome da “justiça social”. Foi assim que Fernando e alguns camaradas impediram a entrada de Eduardo na escola, ameaçando-o com porretes. Ele precisou pegar o ônibus de volta para casa, onde ficou estudando por conta própria para compensar o tempo perdido de aula. Enquanto isso, Fernando e seus colegas quebravam coisas e pichavam mensagens como “Fora Temer” nas paredes da escola.

Mas a coisa saiu de controle quando um dos “ocupantes”, estimulado pelo consumo de drogas, sacou uma faca e atacou outro colega durante uma discussão. O garoto morreu na hora. Não poderia ser transformado em mártir da “ocupação”, como o líder gostaria, pois sua morte não teve nada a ver com a brutalidade policial. Era preciso desviar o foco da atenção.

Imediatamente, advogados e jornalistas ligados aos sindicatos e partidos de esquerda passaram a condenar a violência generalizada, as armas (mesmo que aquela usada para o crime fosse uma simples faca), o sistema. E Fernando logo engrossou o coro, sentindo-se aliviado, livre de qualquer responsabilidade. Não ia nem ter sua mesada reduzida, e poderia continuar sonhando com um “mundo melhor”, torcendo por Freixo no Rio.

Já Eduardo perdeu o ano letivo. Cansado de remar contra a maré, juntou o pouco que tinha e foi ser garçom nos Estados Unidos. Lá, conheceu Suzy, simpatizante de Bernie Sanders e que, como Fernando, também matava aula para construir um “novo mundo” mais justo e humano, como aquele existente na Venezuela.

Mas a coisa saiu de controle quando um dos “ocupantes”, estimulado pelo
consumo de drogas, sacou uma faca e atacou outro colega durante uma discussão

Insto É

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