segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sertanejo na escola: competição, individualismo e as novas tecnologias


Por Diego Reis

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Nos últimos anos o sertanejo se estabeleceu como o gênero musical que mais atrai o público jovem. Com recordes de download em plataformas de streaming de música, o estilo ocupa as primeiras colocações em inúmeras rádios pelo país e seus cantores apresentam shows que atraem milhares de pessoas. Como ocorre na maioria dos segmentos do mercado, o sertanejo compete com outros gêneros musicais, como por exemplo, o funk carioca. Além disso, seus profissionais também disputam espaço nos meios de comunicação como televisão, rádio e Internet. Ou seja, se você quer ser um cantor de sucesso terá que concorrer com centenas de novas duplas tão talentosas quanto você e que aguardam ansiosas para ouvir suas músicas no Fantástico e receber um convite para participar do Faustão.

Por falar em Faustão, no último domingo (02) durante a apresentação de um quadro de grande audiência chamado Dança dos Famosos, o cantor Leo Chaves, da dupla sertaneja Victor e Leo, foi convidado para participar como jurado artístico. Vale lembra que não foi a primeira vez que ele foi requisitado pela Rede Globo para participar de um programa como jurado. Em janeiro de 2016 a dupla foi escolhida para compor o elenco do programa de competição musical The Voice Kids. Aproveitando o espaço em um horário de grande audiência na televisão aberta, o cantor falou sobre um projeto educacional que irá focar na inteligência emocional de estudantes da rede pública. O objetivo será ajudar mais de 150 mil crianças nas escolas da área rural de Uberlândia e cidades do Triângulo Mineiro. A metodologia será inspirada no Programa Escola da Inteligência idealizada pelo escritor de autoajuda Augusto Cury.

Durante o programa do Faustão o cantor argumentou que o objetivo será focar na inteligência emocional em contraposição à competitividade e ao individualismo que parecem ser os maiores problemas da educação brasileira. O sertanejo também complementou que o desenvolvimento tecnológico tem tirado foco do lado emocional humano. Posteriormente, em entrevista para o Canal Rural ele afirmou que “já se sabe que o agronegócio é um setor sustentador para o nosso país. E, com o crescimento tecnológico e avanço industrial, crianças que estudam na área rural querem ir para cidade, muitas vezes porque as condições no campo não são ideais e a gente acaba ficando com esse déficit no setor rural”.

Em um primeiro momento a iniciativa de Leo Chaves está de acordo com o que a maioria dos liberais e libertários defende. A partir da identificação de problemas na educação básica, o músico decidiu utilizar sua influência para ajudar a promover o desenvolvimento de um grupo significativo de estudantes. Como o projeto ainda não foi colocado em prática, não sabemos se ele contará apenas com investimento privado ou também com dinheiro de impostos. No entanto, chamou à atenção a maneira como o músico, que já foi chamado de “sertanejo dos negócios” pela revista Forbes, defendeu sua iniciativa. Ao associar os problemas da educação no Brasil à competitividade, individualismo e desenvolvimento tecnológico ele acabou se apropriando de argumentos comuns de diferentes grupos de esquerda.

Na esperança que este texto seja lido por fãs da dupla e chegue ao cantor, vamos apresentar alguns argumentos que podem ajudá-lo a aprimorar seu projeto e fazer com que ele não se torne mais uma iniciativa panfletária de doutrinação ideológica.

Crítica à competitividade

Os meios de comunicação divulgaram recentemente que no ranking das melhores escolas brasileiras as dez primeiras são particulares. O critério de avaliação foram os resultados do Exame Nacional de Ensino Médio. Não é novidade que as escolas particulares formam melhores alunos principalmente por um motivo muito especial: a competitividade.

Em um artigo sobre as diferenças entre o ensino público e o privado publicado aqui no Instituto Liberal o autor Pedro Henrique Ferreira Gonzalez argumentou que a falta de concorrência entre as escolas públicas não gera estímulo para elas saírem de uma situação precária. Enquanto que em uma escola particular a saída de um aluno representa um prejuízo para os administradores, na pública isso é recompensado pelo Estado que transfere mais dinheiro (dos pagadores de impostos) e legitima a reivindicação dos administradores por mais verba. Outro ponto pertinente é que na escola privada os professores despreocupados com a qualidade de suas aulas podem ser demitidos, já nas escolas públicas eles dificilmente serão penalizados por um desempenho deficitário e ainda farão greves para acordos de reajustes salariais com o governo.

Por ser algo dinâmico, a concorrência faz com que o empresário busque por oportunidades de lucro e superação de outros empreendedores considerados seus adversários. Portanto, o ambiente escolar deve auxiliar o aluno no desenvolvimento de habilidades e competências para sua atuação no mercado de trabalho. Caberá ao professor mostrar que a competição não é inimiga de cooperação, como afirmam muitos militantes de esquerda, pois em um universo de trocas voluntárias ambas são importantes para se atingir melhores resultados e evitar a estagnação. Já imaginou uma situação hipotética em que Victor & Leo resolvem fazer um acordo com o governo e determinar que somente a dupla possa oferecer música sertaneja no Brasil? O maior prejudicado seria o consumidor que não poderia escolher livremente por outras duplas. Além disso, a criatividade dos músicos seria seriamente afetada, pois dificultariam as influências ou experimentações entre outros profissionais do mesmo segmento. Fora que suposta segurança oferecida pela proteção estatal faria com que os cantores perdessem o estímulo para a criação de novas músicas, discos, videoclipes e shows.

Crítica ao desenvolvimento tecnológico

A questão das novas tecnologias é sempre polêmica, principalmente quando envolve grupos organizados ou com influência política. A disputa entre o Uber e os taxistas é um exemplo importante de como o desenvolvimento tecnológico trás benefícios para todos. A entrada de um concorrente em um mercado aparentemente “protegido” trouxe opção ao consumidor que reclamava constantemente da qualidade dos serviços prestados pelos taxistas. Muitos profissionais migraram para o novo sistema e inúmeros taxistas perceberam que era preciso sair da estagnação e melhorar os serviços, pois perderiam uma parcela significativa de clientes.

Em seu recente artigo publicado aqui no site, Ricardo Bordin abordou a questão do desemprego tecnológico e argumentou que ao invés de se estimular greves intermináveis ou pedir a interferência estatal é preciso pressionar para que a administração pública facilite a travessia do trabalhador para um novo ofício. O autor ainda complementou que a acomodação dos indivíduos em novas ocupações “seria bem menos traumática se a educação no Brasil fosse de melhor qualidade, e proporcionasse ao brasileiro uma base em ciências mais sólida.”

Assim, ao perceber que os estudantes nas zonas rurais querem ir para outra cidade Leo Chaves poderia fazer com que seu projeto priorizasse o desenvolvimento das habilidades individuais dos estudantes em sintonia com as novas tecnologias. Ao abordar publicamente a competição, desenvolvimento tecnológico e individualismo de forma negativa o cantor acaba estimulando a vitimização e a mentalidade anticapitalista que em nada contribuem para a melhora da qualidade do ensino no país. Afinal de contas, para prosperar é preciso superar o preconceito contra a iniciativa privada que é constantemente reforçado pela repetição de estereótipos.

Como brilhantemente afirmou Ayn Rand “A riqueza é produto da capacidade do homem de pensar”.

 

SOBRE O AUTOR

Diego Reis

Diego Reis

Diego Reis é empreendedor, antropólogo, designer gráfico e fundador da Croove, agência e revista eletrônica sobre design, empreendedorismo, branding e criatividade.

 

Instituto Liberal

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