Da Agência Ansa
O governo da Itália enviou nessa sexta-feira (28) o texto da lei orçamentária de 2017 para avaliação do presidente da República, Sergio Mattarella. Entre outros pontos, a medida confirma o bônus de 800 euros (R$ 2,8 mil, segundo a cotação atual) para incentivar a natalidade no país. A informação é da Agência Ansa.
O valor será concedido a partir de 1º de janeiro do ano que vem para todas as crianças que nascerem. Os pais deverão solicitar o benefício no sétimo mês de gravidez. Em 2015, a Itália registrou apenas 487,8 mil nascimentos, o menor número desde sua unificação, em 1861.
A lei orçamentária também prevê o pagamento de mil euros (R$ 3,5 mil) por ano para ajudar nas despesas com creches para crianças nascidas a partir de 1º de janeiro de 2016. Atualmente, já é dado um auxílio de 80 (R$ 280) a 160 euros (R$ 560) mensais para cada bebê nascido entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2017.
O benefício é concedido até a criança completar 3 anos de idade, mas destina-se apenas a famílias de baixa renda. Para entrar em vigor, a lei orçamentária precisa ser aprovada pelo Parlamento e ter o aval da União Europeia, que durante a semana já havia cobrado mais explicações sobre o texto.
O documento também prevê a criação de um fundo de 1,9 bilhão de euros (R$ 6,6 bilhões) para a prevenção contra terremotos, redução de impostos sobre residências de moradores das áreas afetadas pelos tremores dos últimos meses, possibilidade de antecipar aposentadorias, aumento dos investimentos em saúde e educação e a destinação de 200 milhões de euros (R$ 700 milhões) para projetos na África.
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Eleitor que não votou nem justificou no 1º turno pode ir às urnas no domingo
Da Agência Brasil
Eleitores de 57 municípios voltarão às urnas para escolher prefeitos e vice-prefeitosTânia Rêgo/Arquivo/Agência Brasil
O eleitor que não votou nem justificou a ausência no primeiro turno das eleições poderá ir às urnas normalmente neste segundo turno, marcado para amanhã (30). Eleitores de 57 municípios voltarão às urnas para escolher prefeitos e vice-prefeitos.
Saiba Mais
Caso o eleitor não esteja no seu domicílio eleitoral, poderá comparecer a um posto dejustificativa no dia da votação e apresentar o Requerimento de Justificativa. O formulário pode ser impresso diretamente no site do Tribunal Superior Eleitoral.
O eleitor terá de preencher o formulário e assiná-lo na presença de um mesário. Para isso, é necessário ter em mãos o título de eleitor e também apresentar um documento de identificação oficial com foto. Quem não apresentar a justificativa no dia da votação tem 60 dias para fazê-lo, prazo que vai até 29 de dezembro.
Os eleitores que estiverem no exterior no dia da eleição terão até 30 dias, contados da data do retorno ao Brasil, para apresentar a justificativa.
Quem não votou nem justificou a ausência no primeiro turno tem até 1º de dezembro para fazê-lo. Nesse caso, o requerimento poderá ser entregue em qualquer cartório ou posto de atendimento ou encaminhado, via postal, ao cartório da zona eleitoral onde o eleitor for inscrito.
Quem não votar e não apresentar justificativa terá impedimentos como tirar passaporte e tomar posse em cargo público. Já o eleitor que não votar em três eleições consecutivas, não justificar a ausência e não quitar a multa terá a inscrição cancelada.
ONG critica abandono de ex-colônias para pessoas com hanseníase no Rio
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia em Itaboraí (RJ)Tomaz Silva/ Agência Brasil
Há quase 40 anos, a mudança no protocolo de tratamento da hanseniase livrou os pacientes da internação compulsória, que os isolava do restante da sociedade ao encarcerá-los nos hospitais-colônia em todo o país. Mas quem viveu o período, classificado como “holocausto brasileiro”, ainda sofre as consequências. No Rio de Janeiro, a desassistência se agrava, fruto de um jogo de empurra entre o estado do Rio de Janeiro e o município de Itaboraí, na região metropolitana, que abrigou um dos maiores hospitais-colônia.
A avaliação é do vice-coordenador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, que alerta para o abandono de duas antigas colônias no estado, o Hospital Curupaiti, na capital, atual Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária, e o Hospital Estadual Tavares Macedo, em Itaboraí, na região metropolitana.
“Essa questão [da situação] das antigas áreas é uma questão nacional, não só do Rio de Janeiro. No Rio, assume outro viés diante da crise institucional e financeira que o estado se encontra, em que a saúde está sendo abandonada. Quando isso ocorre, a primeira a perder atenção são essas regiões, mais vulneráveis, pobres, que deixam de ser olhadas”, afirmou Custódio.
No Tavares de Macedo, que já chegou a ter mais de 2 mil internos e hoje restam cerca de 160, faltam luz e água nas casas, com frequência. “Tem dias que é intermitente. Os moradores denunciam, ligam para gente, contam que precisam fazer a nebulização e não conseguem", revela o ativista.
O fornecimento de água também não é regular. Moradores chegam a pagar uma “ajuda” para um vizinho acionar a bomba, que faz parte das instalações do hospital estadual.
“Todo mundo aqui dá R$ 20 reais para o rapaz ligar e distribuir, um dia [as casas] do lado direito, outro dia, do lado esquerdo”, disse Neidmar Costa da Silva, 60 anos, que mora na colônia desde os 14 anos. “O hospital fazia esse serviço, mas não renovou o contrato e não tem mais”, completou a moradora. Ela acompanha a deterioração da unidade que sofre ainda com atrasos no salário de médicos, cortes nos contratos de terceirizados e até de falta de insumos.
De acordo com o Morhan, o governo do Rio, por meio da direção do hospital, tenta repassar serviços ao município e livrar-se de atribuições que devem ser compartilhadas gradualmente. Segundo Custódio, o Estado tem uma “dívida social” com os antigos pacientes, que não podem ficar sem os serviços, antes totalmente oferecidos pelos hospitais-colônia.
“Pensar esses antigos hospitais só como questão da saúde está errado, tem que pensar como pequenas cidades, afinal, essa era a proposta quando pessoas foram segregadas e isoladas”, afirmou. A regularização dos serviços dependem de obras públicas municipais e da individualização do abastecimento, com instalação de relógios, por exemplo, casa a casa, o que não é feito.
Saiba Mais
- Assaltos e violência preocupam moradores de antiga colônia para hansenianos
- Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia
Essa é a mesma opinião da professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a antropóloga Carly Machado, que estuda antigas colônias de hansenianos no país. “Moradores não vêem o prefeito como uma figura de referência, a cidade os rejeitou, os isolou, eles sempre resolveram tudo com o diretor do hospital. No entanto, muitos diretores não se entendem assim, se enxergam apenas como médicos cuidando de uma unidade hospitalar, sem entender a questão”.
A pesquisadora pondera que há uma sobreposição de entendimentos sobre as obrigações no local. Por causa do impasse, a coleta de lixo dos pavilhões e das vilas onde estão os antigos pacientes do Tavares de Macedo também é intermitente e o cemitério local está abandonado.
O atual prefeito da cidade, Helil Cardozo, reconhece atribuições do poder público no local, mas explica que o caixa do município foi afetado com a crise econômica. Ele prometeu regularizar os contratos com a empresa de limpeza urbana ainda em outubro e conta ter oferecido insumos para ajudar o hospital, que recusou. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que não há desassistência e que “reúne todos esforços” para garantir atendimento.
Alimentação prejudicada
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia em Itaboraí (RJ)Tomaz Silva/ Agência Brasil
Com o corte nos repasses, a comida fornecida para os dependentes, nas enfermarias ou pavilhõesdo avares de Macedo, também piorou. “Tem dias que não dá nem para identificar o que é”, reclamou Neidmar. Ela contou que antes, as pessoas cozinhavam no refeitório, o que não acontece mais.
Nas enfermarias, onde estão cerca de 20 pacientes com sequelas, da época da colônia, a situação não é diferente. Uma cuidadora, paga pela família de uma das idosas internadas, disse que traz comida de casa para o lanche entre as refeições. “Tem dias que eu trago até biscoito para elas porque aqui não tem”, contou à Agência Brasil, pedindo para não ser identificada.
Frutas também passam ao largo e só há para aqueles que conseguem comprar. “Meu filho me ajuda”, diz Maria da Conceição dos Santos, de 80 anos, sobre comida e remédios, que ele traz de vez em quando. Cohecida como Dona Santinha, uma das moradoras mais antigas, está desde os 16 anos no Tavares. “Vim para cá porque me denunciaram, depois que minha mãe me deixou”.
Patrimônio da humanidade
Seguindo exemplo de outros países, o Brasil decidiu isolar pessoas diagnosticadas com a hanseníase, doença popularmente conhecida como lepra, na década de 1920. As colônias de pacientes cresceram, cercadas por muros de onde ninguém pode sair para nada. Com o tempo, se tornaram verdadeiras cidades dentro das cidades, com vilas de casas, comércio, templos religiosos, quadras de esporte, cemitério e até cadeia com “policiais” da comunidade.
Para preservar a memória dos hospitais-colônias e contar sobre o período que pacientes para hanseníase eram internados compulsoriamente, o Morhan defende que as 33 ex-colônias remanescentes espalhadas pelo país sejam declaradas patrimônio da humanidade.
“A luta internacional é pela preservação histórica desses locais, no Brasil e em outros países, que sejam até tombados porque representam uma política de exclusão que aconteceu e não deve ser repetido no caso de nenhuma outra doença”, afirmou Artur Custódio.
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Pacientes denunciam condições precárias de funcionamento do antigo hospital-colônia para tratamento de hanseníase em Itaboraí (RJ) Tomaz Silva/ Agência Brasil
Há 61 anos, o diagnóstico de hanseníase – doença conhecida popularmente como lepra – foi recebido como uma sentença. O menino Alvinho Gonçalves, hoje com 76 anos, era um adolescente de 15 anos quando soube que seria internado em uma colônia fechada, em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Do Hospital Estadual Tavares de Macedo, ele não poderia sair para nada, por causa da política de internação compulsória daquela época.
“Nós éramos cinco, em Cantagalo (município da região serrana), meu irmão já tinha tido os caroços [da doença]. Aí, depois de um tempo, apareceu em mim. Ele foi até lá e me buscou. Os vizinhos já queriam colocar fogo na casa com o pessoal dentro”, lamentou.
Por 40 anos, a internação de pacientes com hanseníase era compulsória, para evitar o contágio e foi feita em colônias que cresceram em torno dos hospitais de referência – dos quais ainda restam 33 pelo país. Desde a década de 1980 com tratamento feito em casa, a doença não é transmissível. Em 2007, o governo brasileiro estipulou uma indenização a ser paga a pessoas que passaram pelo confinamento. Quase 12,5 mil pessoas entraram com o pedido e cerca de 9 mil foram atendidas.
As colônias de pacientes cresceram, cercadas por muros de onde ninguém pode sair para nada. Com o tempo, se tornaram verdadeiras cidades dentro das cidades, com vilas de casas, comércio, templos religiosos, quadras de esporte, cemitério e até cadeia com “policiais” da comunidade.
Sem ter para onde voltar, mesmo com o fim da internação ex-internos se estabeleceram no local. Hoje, a antiga colônia do Tavares de Macedo tornou-se um bairro onde vivem 9 mil pessoas em 950 mil metros quadrados, sendo 160 ex-internos, em casas de vilas, pavilhões e alguns na enfermaria – caso dos que sofreram amputações por tratamentos equivocados do passado 9 mil pessoas vivem, 160 são ex-internos. No entanto, apesar de o Tavares de Macedo – hoje um hospital-geral – ser referência na doença, a situação da unidade é de abandono, segundo os ex-internos e pacientes.
Paciente Alvinho Gonçalves relata os problemas enfrentados no Hospital Tavares MacedoTomaz Silva/ Agência Brasil
“Está cada vez pior. Antes tinha curativo – gaze, atadura, esparadrapo – [no hospital] e agora não tem mais nada”, contou Alvinho, que acabou montando um pequeno estoque, em casa, com a aposentadoria, para trocar os curativos diariamente. “Até para marcar uma consulta está difícil”, diz ele, que acaba recorrendo aos vizinhos em casos de emergência.
No ambulatório e no prédio central do hospital, a farmácia e a sala de curativos estão vazias. Faltam desde fraldas geriátricas a medicamentos para a própria hanseníase, como a talidomida*, óleo mineral para a pele, que fica ressecada. Também faltam remédios para doenças crônicas, como diabetes, comum nos idosos. Biópsias não são feitas há dois meses por falta de contrato com laboratórios.
“Aqui é assim: gente vai com a receita e volta sem remédio, porque não tem mais”, contou Neidmar Costa da Silva, de 60, ex-interna, paciente e moradora da época da colônia.
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- Assaltos e violência preocupam moradores de antiga colônia para hansenianos
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Além da falta de insumos, o próprio atendimento está prejudicado com cortes na equipe. Atendentes para marcar consultas e para o serviço administrativo, terceirizadas, estão há um mês sem salários, trabalhando como voluntárias, para não prejudicar os idosos ex-internos.
“A gente sabe que, além da dificuldade para conseguir atendimento na rede pública, só tem hospital em outro município, e um paciente desse [ex-interno] quando é atendido fora daqui, ainda pode sofrer com o preconceito, esses idosos têm sequelas (úlceras, amputações, dedos tortos)”, explicou à Agência Brasil uma das funcionárias, sob a condição do anonimato.
Com a crise no hospital, as doações que chegam para os ex-interno pela Caixa Beneficente da comunidade, instituição filantrópica, não têm sido suficientes. “Tem gente aqui que precisa fazer curativo até o joelho. Faz três vezes ao dia”, disse a gestora, Sônia Regina de Freitas, de 49 anos. Ela se preocupa com a chegada do verão que pode agravar a situação.
“Com o calor, tem que refazer mais vezes, [porque as feridas] cheiram [mal]”, contou ela, que também já teve hanseníase e acabou se estabelecendo na antiga colônia.
Crise econômica sobrecarrega a unidade
Segundo os pacientes e funcionários, apesar da dedicação dos médicos e servidores, o Tavares de Macedo sofre com a falta de recursos do estado. O dinheiro, que já era insuficiente, ficou reduzido com a crise financeira, relacionada à queda dos preços do petróleo no Rio.
O problema também está relacionado à sobrecarga no atendimento em Itaboraí. O município, que também passa por uma crise, fechou o principal hospital por falta de dinheiro para pagar os médicos. Com isso, os balanços mostram que a média de pacientes só no ambulatório, para consultas, curativos, exames e biópsias, dobrou no primeiro semestre de 2016, chegando a 4 mil po mês.
O vice-coordenador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio afirma que a situação do Tavares de Macedo é de abandono e denuncia o que chama de “jogo de empurra”. “O governo do Rio tenta repassar ao município atribuições que devem ser compartilhadas. Precisa existir uma preocupação com a dívida social que o Estado brasileiro tem”.
O atual prefeito da cidade de Itaboraí, Helil Cardozo, informou que ofereceu insumos ao hospital estadual, mas que foram recusados pela direção, que não explicou o motivo.
Em nota, a Secretaria de Saúde respondeu que o Tavares de Macedo “vem reunindo todos os esforços para garantir a assistência aos pacientes”, e que não há “desassistência”. Porém, não informou sobre a compra de insumos e regularização de contrato terceirizados.
Para regularizar o atendimento no Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior, no centro, o prefeito de Itaboraí disse que o pagamento dos médicos foi depositado na última quinta-feira (19). A expectativa é de que atendimento seja regularizado nos próximos dias.
A antropóloga e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Carly Machado, que estuda antigas colônias de hansenianos no país, acredita que a direção do hospita, prefeitura e estado devem buscar uma “solução triangulada”. Ela pondera que, para o município, é difícil assumir todos os custos com o novo bairro de uma vez, e há uma sobreposição de entendimentos sobre as obrigações no local. “Esses lugares são verdadeiras cidades dentro das cidades, o impacto [financeiro] financeiro disse é grande, é preciso contar com os governos e com apoio da comunidade”, afirmou.
*Apesar dos efeitos adversos graves, a talidomida é utilizada para diminuir as dores de pacientes com hanseníase. O remédio não pode ser vendido e é fornecido pelo Ministério da Saúde.
Três pessoas foram detidas: http://glo.bo/2eQqKQj
Manifestação de apoio a Donald Trump na Avenida Paulista termina em confusão
G1.GLOBO.COM
O julgamento estava marcado para 9 de novembro: http://glo.bo/2fitBpd
Liminar do STF suspende julgamento de 23 réus da máfia dos caça-níqueis no Rio
G1.GLOBO.COM
Ibope e Datafolha foram às ruas para saber em quem os eleitores pretendem votar neste domingo (30): http://glo.bo/2frFKYr
Institutos divulgam pesquisas de intenção de voto em 8 capitais
G1.GLOBO.COM
Depois de dez meses de impasse e duas eleições frustradas, um novo governo vai ser formado na Espanha: http://glo.bo/2eQa3EF
Conservador Mariano Rajoy é eleito primeiro-ministro da Espanha
G1.GLOBO.COM
ONG critica abandono de ex-colônias para pessoas com hanseníase no Rio
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia em Itaboraí (RJ)Tomaz Silva/ Agência Brasil
Há quase 40 anos, a mudança no protocolo de tratamento da hanseniase livrou os pacientes da internação compulsória, que os isolava do restante da sociedade ao encarcerá-los nos hospitais-colônia em todo o país. Mas quem viveu o período, classificado como “holocausto brasileiro”, ainda sofre as consequências. No Rio de Janeiro, a desassistência se agrava, fruto de um jogo de empurra entre o estado do Rio de Janeiro e o município de Itaboraí, na região metropolitana, que abrigou um dos maiores hospitais-colônia.
A avaliação é do vice-coordenador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio, que alerta para o abandono de duas antigas colônias no estado, o Hospital Curupaiti, na capital, atual Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária, e o Hospital Estadual Tavares Macedo, em Itaboraí, na região metropolitana.
“Essa questão [da situação] das antigas áreas é uma questão nacional, não só do Rio de Janeiro. No Rio, assume outro viés diante da crise institucional e financeira que o estado se encontra, em que a saúde está sendo abandonada. Quando isso ocorre, a primeira a perder atenção são essas regiões, mais vulneráveis, pobres, que deixam de ser olhadas”, afirmou Custódio.
No Tavares de Macedo, que já chegou a ter mais de 2 mil internos e hoje restam cerca de 160, faltam luz e água nas casas, com frequência. “Tem dias que é intermitente. Os moradores denunciam, ligam para gente, contam que precisam fazer a nebulização e não conseguem", revela o ativista.
O fornecimento de água também não é regular. Moradores chegam a pagar uma “ajuda” para um vizinho acionar a bomba, que faz parte das instalações do hospital estadual.
“Todo mundo aqui dá R$ 20 reais para o rapaz ligar e distribuir, um dia [as casas] do lado direito, outro dia, do lado esquerdo”, disse Neidmar Costa da Silva, 60 anos, que mora na colônia desde os 14 anos. “O hospital fazia esse serviço, mas não renovou o contrato e não tem mais”, completou a moradora. Ela acompanha a deterioração da unidade que sofre ainda com atrasos no salário de médicos, cortes nos contratos de terceirizados e até de falta de insumos.
De acordo com o Morhan, o governo do Rio, por meio da direção do hospital, tenta repassar serviços ao município e livrar-se de atribuições que devem ser compartilhadas gradualmente. Segundo Custódio, o Estado tem uma “dívida social” com os antigos pacientes, que não podem ficar sem os serviços, antes totalmente oferecidos pelos hospitais-colônia.
“Pensar esses antigos hospitais só como questão da saúde está errado, tem que pensar como pequenas cidades, afinal, essa era a proposta quando pessoas foram segregadas e isoladas”, afirmou. A regularização dos serviços dependem de obras públicas municipais e da individualização do abastecimento, com instalação de relógios, por exemplo, casa a casa, o que não é feito.
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Essa é a mesma opinião da professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a antropóloga Carly Machado, que estuda antigas colônias de hansenianos no país. “Moradores não vêem o prefeito como uma figura de referência, a cidade os rejeitou, os isolou, eles sempre resolveram tudo com o diretor do hospital. No entanto, muitos diretores não se entendem assim, se enxergam apenas como médicos cuidando de uma unidade hospitalar, sem entender a questão”.
A pesquisadora pondera que há uma sobreposição de entendimentos sobre as obrigações no local. Por causa do impasse, a coleta de lixo dos pavilhões e das vilas onde estão os antigos pacientes do Tavares de Macedo também é intermitente e o cemitério local está abandonado.
O atual prefeito da cidade, Helil Cardozo, reconhece atribuições do poder público no local, mas explica que o caixa do município foi afetado com a crise econômica. Ele prometeu regularizar os contratos com a empresa de limpeza urbana ainda em outubro e conta ter oferecido insumos para ajudar o hospital, que recusou. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que não há desassistência e que “reúne todos esforços” para garantir atendimento.
Alimentação prejudicada
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia em Itaboraí (RJ)Tomaz Silva/ Agência Brasil
Com o corte nos repasses, a comida fornecida para os dependentes, nas enfermarias ou pavilhõesdo avares de Macedo, também piorou. “Tem dias que não dá nem para identificar o que é”, reclamou Neidmar. Ela contou que antes, as pessoas cozinhavam no refeitório, o que não acontece mais.
Nas enfermarias, onde estão cerca de 20 pacientes com sequelas, da época da colônia, a situação não é diferente. Uma cuidadora, paga pela família de uma das idosas internadas, disse que traz comida de casa para o lanche entre as refeições. “Tem dias que eu trago até biscoito para elas porque aqui não tem”, contou à Agência Brasil, pedindo para não ser identificada.
Frutas também passam ao largo e só há para aqueles que conseguem comprar. “Meu filho me ajuda”, diz Maria da Conceição dos Santos, de 80 anos, sobre comida e remédios, que ele traz de vez em quando. Cohecida como Dona Santinha, uma das moradoras mais antigas, está desde os 16 anos no Tavares. “Vim para cá porque me denunciaram, depois que minha mãe me deixou”.
Patrimônio da humanidade
Seguindo exemplo de outros países, o Brasil decidiu isolar pessoas diagnosticadas com a hanseníase, doença popularmente conhecida como lepra, na década de 1920. As colônias de pacientes cresceram, cercadas por muros de onde ninguém pode sair para nada. Com o tempo, se tornaram verdadeiras cidades dentro das cidades, com vilas de casas, comércio, templos religiosos, quadras de esporte, cemitério e até cadeia com “policiais” da comunidade.
Para preservar a memória dos hospitais-colônias e contar sobre o período que pacientes para hanseníase eram internados compulsoriamente, o Morhan defende que as 33 ex-colônias remanescentes espalhadas pelo país sejam declaradas patrimônio da humanidade.
“A luta internacional é pela preservação histórica desses locais, no Brasil e em outros países, que sejam até tombados porque representam uma política de exclusão que aconteceu e não deve ser repetido no caso de nenhuma outra doença”, afirmou Artur Custódio.
Assaltos e violência preocupam moradores de antiga colônia para hansenianos
Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia em Itaboraí (RJ)Tomaz Silva/ Agência Brasil
A fé em Nossa Senhora Aparecida foi o que Alvinho Gonçalves, de 76 anos, acredita tê-lo livrado de um assalto na própria casa, há pouco mais dois meses. Ex-interno do antigo hospital-colônia Tavares de Macedo para pessoas com hanseníase, em Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro, ele decidiu não correr mais risco nenhum e colocou grades em portas e janelas.
Situações de violência têm se tornado frequentes na comunidade no entorno do Hospital Estadual Tavares de Macedo, onde moram 160 idosos remanescentes do tempo de internação compulsória. Na época, uma colônia para centenas de hansenianos funcionava com uma cidade para os aqueles em tratamento, que não podiam sair, por causa do risco de contágio. Hoje, com tratamento adequado, a hanseníase não é transmissível e as pessoas podem tomar remédios de suas casas.
A antiga colônia, que hoje reúne cerca de 9 mil pessoas em 950 mil metros quadros, tem vivenciado furtos e assaltos. Segundo uma das lideranças locais e ex-interna – que preferiu não se identificar – os ataques acontecem quando os idosos voltam do banco ou quando deixam a casa vazia. “Eles [ladrões] ficam vigiando, esperando, principalmente, na porta do banco”, contou.
Nos primeiros meses do ano, outro crime chocou os moradores, quando uma senhora de mais de 60 anos sofreu violência sexual de um grupo de cinco homens encapuzados. A vítima não fala sobre o assunto, mas os vizinhos confirmam a versão, que não foi registrada em delegacia de polícia, segundo informou, em nota, a Polícia Militar do estado.
“Invadiram a residência dela, no começo do ano”, disse uma moradora. “Eu fiquei apavorada quando soube, mas não entro em detalhes, a situação é muito delicada”, completou.
Na avaliação dos moradores, é necessária a instalação de um posto policial na comunidade, em frente a uma das localidades mais violentas de Itaboraí, conhecida como “Reta Velha”, tradicional ponto de venda de drogas. Por causa da proximidade, moradores também contam que traficantes, eventualmente, transitam na ex-colônia.
Saiba Mais
- ONG critica abandono de ex-colônias para pessoas com hanseníase no Rio
- Pacientes denunciam falta de insumos para hanseníase em antigo hospital-colônia
Fundada em 1936, a colônia para pessoas com hanseníase funcionou até a década de 1980 sob administração do Hospital Tavares de Macedo. Hoje, conta com apenas dois vigias, responsáveis exclusivamente pela segurança patrimonial e dos servidores da unidade – que funciona como hospital geral. Os antigos pacientes acabaram permanecendo, nas casas da vila e nos antigos pavilhões de internos. Cerca de 20 idosos moram na enfermaria, por terem sequelas.
Grades e fé
Com poucas condições de reagir, os idosos debilitados da unidade, como Alvinho, se apegam à própria fé e aos recursos que estão ao alcance. “Peguei um empréstimo e coloquei grade aqui tudinho. Antes, você podia me ver sentado no muro aí da frente, agora, eu fico aqui trancado”, desabafou. “Aqui você não vê patrulha nenhuma”, reclamou.
No dia em que os ladrões invadiram casa dele e tentaram estrangulá-lo no sofá, uma pequena luz, de dentro da estátua da Nossa Senhora, de acrílico, piscou sozinha, assustando os bandidos, que fugiram.
O problema da falta de segurança é antigo e depende que o governo do estado, a prefeitura e a diretoria do hospital se juntem para oferecer serviços públicos, defende o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).
Por falta de compreensão sobre o fim da antiga colônia e dos limites da atuação da segurança privada, do hospital, a própria Polícia Militar não é atuante, avalia a professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Carly Machado, que pesquisa as antigas colônias.
“A falta de clareza sobre a atribuição dos órgãos públicos em uma área que ainda é tida como 'supostamente hospitalar', apesar da regularização fundiária, acaba deixando a população desassistida. A segurança patrimonial não pode atuar como segurança local, seria quase que uma milícia privada”, criticou a antropóloga, sobre Tavares de Macedo.
Prefeitura
O atual prefeito da cidade, Helil Cardozo, conhece as condições do local, mas conta que não consegue ajuda do governo do estado para combater o crime. “Eu já pedi até UPP [unidades de polícia pacificadora] para ali, mas nunca veio nada”, afirmou.
A Polícia Militar, no entanto, respondeu, em nota, que uma equipe de policiais faz o patrulhamento nas proximidades, “não tendo registrado ocorrências na região recentemente”.
ONU Mulheres: igualdade de gênero precisa começar com participação política
Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil*
Manifestação feminista no Rio Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil
O primeiro passo para termos igualdade plena de gêneros no médio prazo é ampliar a participação política das mulheres, começando pela ocupação dos cargos e espaços no nível municipal, disse a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, ao participar do evento "Por um Planeta 50-50 em 2030: Mulheres do Amanhã", organizado pela entidade internacional, no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio de Janeiro.
Segundo Nadine, a ideia do evento e do programa 50-50 é discutir com as mulheres de hoje formas de tornar o planeta mais igualitário em 2030, com oportunidades para que todas possam ter as suas potencialidades desenvolvidas e a sociedade possa “aproveitar as capacidades das mulheres em toda a sua diversidade”.
“Precisamos de mais mulheres nos gabinetes, agora temos uma boa oportunidade de construir cidades igualitárias, cidades 50-50. Nós lançamos um projeto, Cidades 50-50 – Todas e todos pela Igualdade, que é ter nos municípios gabinetes paritários, ter políticas públicas a nível local, que levem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ao nível local”, disse Nadine, ao discursar ontem (28) no evento.
A representante da ONU cita o desafio de incorporar as mulheres no setor econômico, com salário igual para trabalho igual, realidade muito distante do que é constatado no Brasil. “As estatísticas falam que, no Brasil, a diferença entre homens e mulheres para um mesmo trabalho é de 30%, mas você tem também uma grande diferença entre o que as mulheres negras ganham e os homens brancos, de mais de 300%, elas são a parte baixa da pirâmide dos salários e eles são a parte alta”.
Também sobre o Brasil, Nadine diz que o país precisa avançar no cumprimento dos acordos internacionais. “Eu acredito que o Brasil está em um momento que tem que pensar de uma forma importante nos compromissos que tem assinado com acordos internacionais. Tem que fazer mais para ampliar a representação das mulheres na política, em todos os âmbitos, no setor econômico e ter ações muito claras em torno da inclusão social e o combate à violência contra as mulheres”.
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Racismo
A pesquisadora e ativista do movimento de mulheres negras Djamila Ribeiro falou sobre o racismo institucional e a violência que ele gera com a naturalização da ausência de negros nos espaços que passam a ser considerados apenas de brancos.
“Desde chegar na escola e não ver a minha história nos livros didáticos, chegar em casa e não ver ninguém como eu na televisão, quatro gerações de paquitas loiras, abrir uma revista e não se enxergar, sair na rua e ser zoada pelos meninos. Então, a gente não sabe bem como é conceituado, mas a gente sente na pele. Uma das coisas que o racismo institucional faz com a gente desde muito cedo e é um sentimento que nos acompanha, é o sentimento de inadequação, porque a gente não se sente fazendo parte de nenhum lugar”.
Ela lembra que o racismo institucional associado ao machismo institucional colocou as mulheres negras nas posições de menos prestígio na sociedade brasileira. “As pessoas brancas chegam nas universidades e nunca questionam não ter nenhum professor negro e todas as pessoas da limpeza serem mulheres negras. O racismo institucional naturaliza o nosso olhar ao ponto da gente não se incomodar e não se revoltar em termos mulheres negras limpando o nosso banheiro e termos aula com homens brancos. Essa naturalização, que é uma violência muito grande, faz com que as pessoas brancas acreditem que é por causa do mérito. Mas as pessoas brancas esquecem que vivemos num país que teve 354 anos de escravidão negra e foi o último a abolir a escravidão e no processo de industrialização do país não foi pensado mecanismos de inclusão da população negra”.
Publicidade
A publicitária Carla Alzamora apresentou uma pesquisa feita sobre a representatividade de gênero e raça na propaganda. Segundo ela, 65% das mulheres não se sentem representadas na mídia e na publicidade e que, portanto, 65% das mulheres brasileiras não estão criando conexões com as mensagens passadas pela publicidade. De acordo com ela, isso é um alerta para as empresas se preocuparem em repensar o modelo de propaganda feita atualmente.
“A gente precisa parar de pensar que o que a gente faz é 'só publicidade'. A publicidade é onipresente na vida das pessoas, cada uma recebe em média de 3 mil a 5 mil mensagens publicitárias por dia. Óbvio que a gente não consegue racionalizar todas elas, mas elas vão formando nossas referências de mundo e o que a sociedade considera belo, aceitável, de como a gente deve agir, ser e se comportar. Por essa razão, a gente é parte do problema. Então por ser parte do problema e ter o poder de definir essas mensagens, a gente tem oportunidade também de ser parte da solução”.
Foram analisadas mais de 3 mil inserções na TV, que indicam que a prevalência de reforço de estereótipos de gênero, restrição de papéis, padrão de comportamento e de beleza. Quanto ao protagonista da peça publicitária, 17% eram o próprio produto, 33% homens, 26% mulheres, 7% ambos e 11% a sociedade. Entre os homens protagonistas, 83% eram brancos, 7% negros e 10% diversos. Entre as mulheres, a proporção é de 84% de brancas, 12% de negras e 4% diversas.
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