Senadores opositores à ex-presidenta Dilma Rousseff lamentaram a absolvição dela da perda dos direitos políticos por oito anos e culparam o PMDB pela aprovação do destaque apresentado por senadores petistas referente a esse quesito. Para tucanos e democratas, a bancada do PMDB fechou um acordo com o PT para salvar a ex-presidenta neste aspecto.
“É um acordo que está preocupando a todos nós, que é um acordo feito entre a bancada do PMDB e a bancada do PT. Isto realmente é algo que nos surpreendeu, nós não esperávamos, de maneira nenhuma, ver o apoio do PMDB a esta reivindicação do PT”, afirmou o líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO).
Para ele, o posicionamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que declarou apoio ao destaque que rejeitava a pena de perda dos direitos políticos, foi a prova de que um acordo tinha sido firmado entre os dois partidos.
“Ele se pronunciou em relação a isso, colocou o seu voto explicitamente. O que deixa claro que houve um entendimento para que acolhesse a questão de ordem – que é totalmente descabida – e ao mesmo tempo encaminhar o voto favorável. É lógico que ficou claro o acordo PT-PMDB”, disse.
Para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o posicionamento da bancada peemedebista durante a segunda votação do julgamento causou “um descoforto enorme” na base aliada do presidente Michel Temer. Ele cobrou clareza dos peemedebistas sobre suas posições e compromissos.
“Se de um lado o resultado era aquele que o Brasil esperava, e isso é positivo, é preciso, e fica esse alerta do presidente do PSDB, que o partido do hoje presidente Michel Temer diga com clareza até onde vai o seu compromisso com o seu próprio governo e a própria agenda. Fomos surpreendidos com a manifestação de líderes importantes do PMDB e dissonância com aquilo que vínhamos defendendo conjuntamente durante todo o processo”, disse.
As lideranças aliadas avaliam agora se vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal para questionar o julgamento no que se refere à manutenção dos direitos políticos de Dilma. Ronaldo Caiado dá a questão como certa e diz que vai acionar a Suprema Corte. Já Aécio Neves disse que seu partido ainda está “avaliando”.
Os líderes do PMDB, no entanto, garantem que não houve uma orientação do partido para que seus senadores votassem favoravelmente ao apelo dos petistas pela manutenção dos direitos da ex-presidenta. Segundo o líder da bancada, senador Eunício Oliveira (CE), cada senador votou de acordo com sua consciência.
“Não foi o PMDB que decidiu isso, foram os partidos todos. Essa decisão foi pluripartidária aqui. Numa decisão criminal não há encaminhamento por parte de líderes. Não houve entendimento, não houve acordo, houve sentimento aqui dentro da Casa e decisão dos senadores”, afirmou o líder.
Eunício evitou avaliar se o benefício concedido a Dilma poderá ser estendido ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também sofre processo de cassação. Parlamentares tucanos acusaram que a manutenção dos direitos da ex-presidenta poderia ser usada como argumento para que o deputado também mantivesse os seus direitos após ser cassado, contrariando a Lei da Ficha Limpa.
“Não cabe aos senadores fazer julgamento do deputado Eduardo Cunha. E essa interpretação, a posteriori, quem não estiver satisfeito, recorre ao Supremo e o Supremo vai decidir. Mas o presidente foi muito claro aqui: cabia aos senadores interpretarem a Constituição”, afirmou.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR), também garantiu que não houve acordo para que sua bancada votasse a favor de Dilma no segundo quesito do julgamento. “O partido não fechou questão, foi uma decisão pessoal”, disse, ao deixar o plenário do Senado.
Para ele, no entanto, já é esperado que a questão vá ser discutida no Supremo Tribunal Federal e chamou a decisão de uma “jabuticaba”, se referindo a uma saída tipicamente brasileira. “Se ela vai prosperar é o Supremo que vai decidir”, disse.
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"Se é governo, tem que ser governo", diz Temer na primeira reunião ministerial
Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil *
Michel Temer coordena primeira reunião com sua equipe após tomar posse na Presidência da RepúblicaValter Campanato/Agência Brasil
O presidente Michel Temer cobrou dos seus ministros um comprometimento com as ideias do governo e que não hesitem em defendê-lo das acusações de que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe. Ao dar início à primeira reunião com sua equipe, Temer afirmou que será "inadmissível" qualquer tipo de divisão em sua base parlamentar e determinou que "se é governo, tem de ser governo".
Dizendo-se animado após ter sido recebido, ao lado de seus ministros, "com muito entusiasmo" no Congresso Nacional, ele pediu que a tese de golpista seja contestada.
"Golpista é você que está contra a Constituição Federal. Não estamos propondo ruptura constitucional. Nós somos de uma discrição absoluta. Jamais retrucamos [no passado] palavras em relação ao nosso governo, [críticas] à nossa conduta. Mas agora não vamos levar ofensa para casa", ordenou, pregando que sua equipe tem "elegância absoluta" mas também que "é preciso firmeza".
"Isso aqui nao é brincadeira, nem ação entre amigos ou ação contra inimigos", cobrou o presidente, pedindo que seus ministros não "tolerem" acusações de que os parlamentares se arrependeram do processo de impeachment ao conceder a Dilma o direito de exercer funções públicas.
"Pequeno embaraço"
O presidente Michel Temer também admitiu que houve um "pequeno embaraço" na base do governo durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, quando os senadores decidiram que ela permanece com o direito de exercer funções públicas.
Ele disse que a manutenção dos direitos políticos de Dilma não foi uma derrota para seu governo, mas afirmou que senadores aliados "resolveram sem nenhuma consulta tomar uma posição". Conforme Temer, caso a decisão fosse combinada com o Palácio do Planalto, poderia haver até um "gesto de boa vontade" ao permitir pela continuidade dos direitos políticos de Dilma.
"Hoje nós tivemos um pequeno embaraço na base governamental, em face de uma divisão que lá se deu. Outra divisão que é inadmissível. Se é governo, tem que ser governo. Quando não concorda com uma posição do governo, vem para cá e converse conosco, para nós termos uma ação conjunta. O que não dá é para aliados nossos se manifestarem lá no plenário sem ter uma combinação conosco", cobrou.
"Especialmente agora, sem entrar no mérito, que os senadores decidiram que deveria haver afastamento, mas não a inabilitação prevista literalmente pelo texto constitucional, o que vai acontecer é dizerem: 'Eles se arrependeram, etc'. Não pode tolerar essa espécie de afirmação. Quem tolerar, eu confesso que irei trocar uma ideia sobre isso", disse.
Após as determinações, ele voltou a dizer que os aliados não podem tomar atitudes que "desmereçam" a conduta do governo. "Eu estou dizendo muito claramente isso para dar desde já o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta. Agora, se há gente que não quer que o governo dê certo, muito bem. Declare-se contra o governo", declarou.
"Não foi derrota do governo, mas o discurso que está sendo feito é nessa direção, exata e precisamente porque membros do governo resolveram sem nenhuma consulta tomar uma posição, que na verdade, se Deus quiser, não vai acontecer nada, mas há partidos que já dizem: 'Ah, então nós vamos sair do governo'. Ora, isto é fazer jogo contra o governo, não dá para fazer isso", disse ainda, sobre a votação em separado feita pelos senadores.
Dilma diz que fará "a mais firme, incansável e enérgica oposição" ao governo
Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil
Após o impeachment, a ex-presidenta Dilma Rousseff faz pronunciamento no Palácio da AlvoradaJosé Cruz/Agência Brasil
Em discurso inflamado no Palácio da Alvorada, duas horas após o Senado aprovar seuimpeachment, a ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou ter sido vítima de um golpe "misógino", "homofóbico" e "racista". Ela afirmou que não gostaria de estar na pele dos que "se julgam vencedores".
Sem demonstrar abalo emocional, Dilma disse que continuará a lutar "incansavelmente por um Brasil melhor". Ela convocou seus eleitores e as "forcas progressistas" a resistirem contra o que disse ser uma agenda de retrocessos sociais do novo governo do presidente Michel Temer, que seria contra as principais bandeiras de movimentos sociais.
Dilma falou sob os olhares sérios do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e do presidente do PT, Rui Falcão, bem como de senadores que votaram contra o impeachment e foram prestar solidariedade à ex-presidente. "Isso não vai nos deixar de cabeça baixa, vamos ficar altivos e determinados para que um novo golpe não seja dado contra a Constituição", afirmou a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), após o discurso.
"Haverá contra eles a mais determinada oposição que um governo golpista pode sofrer", prometeu Dilma.
Logo após o término do discurso, Dilma foi abraçada pelo senador Jorge Viana (PT-RS) e pelo ex-ministro do Esporte Aldo Rebelo. Ela saiu sem reponder a perguntas. Bastante sério, Lula foi tambem um dos primeiros a se retirar para o interior do Alvorada, cujo salão da entrada principal ficou lotado de jornalistas brasileiros e estrangeiros. Em seu discurso, Dilma também criticou a imprensa.
"O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária. com o apoio de uma imprensa facciosa venal", afirmou.
Representantes da mídia alternativa e de movimentos sociais também tiveram a entrada autorizada e permaneceram no local proferindo gritos de ordem contra o agora presidente Michel Temer, até serem retirados pelos seguranças.
Mulheres
O discurso de Dilma teve também forte apelo às mulheres brasileiras, a quem ela rogou a não recuarem diante da "misoginia" de quem perpetrou o que chamou de golpe.
"Às mulheres brasileiras que me coloriram de flores e de carinho peço que acreditem sempre que vocês podem", disse, dando como exemplo de superação a sua chegada à Presidência da República. "Abrimos um caminho de mão única rumo à igualdade", disse Dilma.
Ainda no salão do Alvorada, o advogado de Dilma no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo, demonstrou otimismo em ainda conseguir reverter a decisão do Congresso no Supremo Tribunal Federal (STF). Perguntada o que o fazia ainda ter esperança, diante do fracasso de recursos anteriores, ele respondeu que era "o sentimento de justiça e a ideia de que não vamos jogar a toalha antes da hora".
Cerca de 200 militantes favoráveis a Dilma permanecem em frente ao Palacio do Alvorada. Eles gritam palavras de ordem contra Michel Temer. Mais cedo, houve um principio de tulmuto quando alguns manifestantes passaram a hostilizar jornalistas, chegando a jogar terra contra um repórter, logo após a cassacão de Dilma ser aprovada no Senado.
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