Inimigos políticos, Dilma, Aécio e Cardozo confraternizam em rodinha no Senado
POR MARIA LIMA / ISABEL BRAGA
29/08/2016
José Eduardo Cardozo, a defesa, Aécio Neves, o acusador, e Dilma Rousseff, a ré: descontração no julgamento - UESLEI MARCELINO/REUTERS
BRASÍLIA — Se no plenário, sob os holofotes, senadores e integrantes dos governos Michel Temer e Dilma Rousseff ficam com o sangue fervendo e quase se atracam, nos bastidores o clima é bem diferente. Num dos intervalos da sessão desta segunda-feira, uma cena improvável: em rodinha ao lado da Mesa Diretora, o acusador, senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ré Dilma Rousseff, seu advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, e o presidente da sessão, ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, conversando e rindo animadamente, como se fossem grandes amigos.
— Presidente, eu desejo paz e tranquilidade para a senhora e sua família neste processo — abordou Aécio, depois de cumprimentar Dilma.
Testemunhando a cena descontraída, Lewandowski não perdeu a brincadeira.
— Eu tinha ouvido que, na política, até as inimizades são criadas. Mas, como sou do Judiciário, eu não sei — disse o ministro, levando Dilma, Aécio e Cardozo a caírem na gargalhada.
— Não é que seja inimizade presidente. O que temos são projetos políticos diferentes — respondeu, diplomaticamente, Aécio.
No cafezinho ao lado do plenário, em reuniões para fechamento de acordos de votação, ou em jantares regados a vinho, o clima é de piadas, brincadeiras e camaradagem. Nesta segunda-feira, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RO), Nelson Barbosa — ambos ex-ministros do Planejamento, de Temer e Dilma, respectivamente — e o ex-deputado e ex-líder de Lula, Professor Luizinho, dividiam xícaras de chá e café e entabulavam uma conversa amena.
— Sou amigo do Nelson há muito tempo. Somos dois técnicos que tem boa convivência — ressaltou Jucá.
Luizinho emendou:
— Fui líder do presidente Lula e me relacionava com todo mundo. Podemos ter uma relação fraterna independentemente das nossas divergências profundas neste processo de impeachment.
‘AQUI É UMA CASA DE AMIGOS’
Na semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu as estribeiras, chamou o julgamento do impeachment de “hospício” e teve um bate-boca pesadíssimo com a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Na mesma noite, o presidente do Senado e o petista secaram algumas garrafas de vinho em um jantar onde selaram a paz.
— Aqui no Senado as pessoas se xingam e se agridem de forma mais civilizada — brincou Renan.
O líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), fez um relato de como a boa relação entre adversários políticos pode ser mal entendida pelos eleitores. Ele contou que, depois do almoço, encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff, que voltava para o plenário. Aliados até pouco tempo, Eunício disse que a presidente o chamou e os dois se abraçaram e trocaram um beijo. O encontro foi devidamente registrado em foto, disseminada pela internet.
— Logo depois já recebi mensagem de gente perguntando se eu tinha virado o voto. Na minha cidade, Lavras, tem 16 blogs: muitos trataram disso. Um poeta local chegou a fazer um repente — contou o peemedebista.
Dilma e o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), também foram flagrados trocando sorrisos no plenário.
— Ela sorriu para mim, e como sou um cavalheiro, sorri de volta — disse Cássio Cunha Lima.
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) diz que os embates podem ser duros em plenário, mas até pelo número reduzido de senadores é muito difícil manter o clima de beligerância no tratamento.
— Aqui é uma casa de amigos, quase uma sala de aula: não dá para arranjar inimigos. Somos adversários em causas — finalizou cordialmente a senadora.
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