Oi, cabeça-dura. Seja bem-vindo
Em 2013, publiquei a maioria dos itens que reúno novamente abaixo, acrescentando agora boa parte do número 5, com tuitadas recentes.
Esses comentários sintetizam exemplos de petulância virtual com que este colunista lida desde que começou a publicar artigos na internet, em 2003.
O link deste post fica assim disponível aos leitores sensatos que quiserem usá-lo contra petulantes que os incomodarem em suas páginas também.
I.
Leitor idiota x leitor maduro
A diferença básica entre o leitor idiota e o leitor maduro é que o primeiro contesta de imediato tudo que lhe parece estranho ou contrário às suas convicções a cada linha de um único texto; e o segundo pesquisa no restante da obra do autor, dos autores que este indica e em qualquer site de busca os fatos, conceitos e raciocínios incompreendidos ou ignorados, para só depois se pronunciar a respeito.
Em outras palavras:
O leitor idiota está sempre convicto da ignorância alheia. O leitor maduro desconfia primeiro da própria.
II.
A “discordância” pública não justificada
É natural que quem tem a ilusão de ter uma opinião tenha também a ilusão de discordar de quem tem.
Mas “discordar” publicamente de alguém sem dizer por quê, preservando os próprios argumentos — caso existam — do escrutínio, é apenas o anúncio de uma fuga mental e moral, com o propósito consciente ou inconsciente de induzir a plateia a desconfiar do autor.
A “discordância” pública não justificada é normalmente a reação histérica imediata a uma ideia — ou a toda uma obra — contrária às crenças do suposto discordante, que, desprovido da capacidade de refutá-la e tendo prescindido de razões para crer no que crê, tenta levar os outros a fazer o mesmo que ele, insinuando que as razões existem em algum lugar, embora não as vá apresentar agora.
Em outras palavras, o homem intelectualmente honesto — consigo, antes que com os demais — ou diz por que discorda ou fica em silêncio até o momento de dizê-lo. O resto é jogo de cena, neurose pura, histeria militante, pilantragem virtual e/ou parasitismo da página alheia.
III.
É quase sempre mais ou menos assim…
1) Após a leitura de um texto que contraria suas convicções (inconscientemente formadas na base do “ouvi dizer”), o sujeito chega falando do que não sabe e geralmente acusando você de alguma coisa (radical, extremista, fascista, nazista, alguém que só quer chamar atenção, alcançar reconhecimento — essas coisas lindas);
2) você mostra que ele não sabe do que está falando e como suas acusações não fazem o menor sentido;
3) ele — se é que não muda de assunto — começa a fazer perguntas retóricas ou desafiadoras sobre aquilo que antes não sabia (na esperança de que você resuma livros inteiros — que ele faz questão de ignorar — na seção de comentários de um único artigo);
4) você diz que ele deveria estudar o assunto antes de repetir frases-feitas e com muito boa vontade indica até uma bibliografia inicial;
5) ele fica ofendido e, com ares de vítima, diz que só queria saber tais e quais coisas…
É um quadro clínico clássico de histeria — a base da personalidade esquerdista, segundo Eric von Kunhelt-Leddin —, diante do qual só resta a você recomendar terapia, análise ou um psiquiatra (muito embora haja sábios e santos que prefiram, não sem razão, mandar tomar naquele lugar).
Como hoje, no entanto, até meditação de maconheiros na praia é chamada de terapia, o pior é que o sujeito poderá alegar que já faz tal coisa, a despeito de todo o evidente conjunto de sintomas que apresenta.
Então você desiste da recomendação direta e descreve em um texto como este o padrão de comportamento do sujeito — embora já o tenha feito outras vezes —, na esperança de que ele e os demais histéricos que já passaram e passarão por sua página se reconheçam intimamente na descrição e quem sabe procurem por você privadamente para pedir uma indicação de verdade, ou para demonstrar que já se tornaram pessoas capazes de fazer interrogações polidas sobre assuntos que, confessadamente, nunca examinaram a fundo, bem como de estudá-los — para além da propaganda da grande mídia e do sistema de ensino — sem o pavor de se sentirem “ofendidos” pelo conhecimento e pela necessária provocação daqueles que os querem livres da alienação, da ignorância e desse jeitinho melindroso e frouxo de ser.
Não que você espere, com isso, mais do que novos desaforos, vitimismos e incompreensões. Afinal, já resumia Dercy Gonçalves:
“Do cérebro, que é importante, ninguém cuida. Cuida do dedo do pé, cuida do cabelo… Mas, por dentro, tá uma merda.”
Dercy conta como é fazer análise! from Contexto Politico on Vimeo.
IV.
O abandono da inteligência
Uma das maiores provas de abandono do exercício da inteligência é ler um texto que expõe as mentiras de outro e dizer: “Cada um com a sua opinião.”
V.
Confusão de categorias etc.
– Informação, tomada de posição, opinião, correção de erro, discordância, ataque: tudo se mistura na confusão de categorias comum no Brasil.
– Confusão de categorias é um dos maiores problemas cognitivos no Brasil. Ex.: Você constata um fato, entendem como opinião ou justificativa.
– Incapacidade de detectar sarcasmo (sintoma de inteligência pouco desenvolvida) obviamente contribui ainda mais para confusão de categorias.
– Também contribui para confusão de categorias o mal brasileiro de não ler o que autor escreveu, mas o que acha que autor quis dizer no fundo.
– Raciocínio em bloco é uma praga nacional. Ex.: Você aponta uma mentira contra fulano. Concluem: você é a favor de todas as ideias do fulano.
– Repercutir ou elogiar acertos de alguém não compromete ninguém com seus eventuais erros passados ou futuros, nem com 100% das suas opiniões.
– No Brasil, há uma imensa dificuldade de entender que considerar melhor ou menos pior algo ou alguém não quer dizer concordar 100%, amar etc.
– Neste país só se compreende aprovação ou rejeição, amor ou ódio, idolatria ou repugnância. É falta de senso das nuances e, logo, de justiça.
– O nível de leitura é tão ruim no Brasil que, se você constata que brasileiro só quer saber de sexo, há quem pense que você é contra o sexo.
– “Concordo” é, com frequência, a maneira menos humilhante de dizer “obrigado por me trazer à consciência aquilo que ainda não estava lá”.
– Admitir ter opiniões baseadas em informações viciadas, ou suspender umas até exame das outras, requer auto-vexame de que poucos são capazes.
– No Brasil, a necessidade de concordar, discordar e corrigir vem antes da de compreender e assimilar. Confrontam-se pessoas, não argumentos.
– Minha crônica “Adão, Eva e o brasileiro”, publicada em outubro de 2013 e reproduzida abaixo, satirizava essa histeria nacional:
VI. Adão, Eva e o brasileiro
Adão encontra um brasileiro.
– Prazer, eu sou Adão.
– Concordo!
– Tudo bem com você?
– Discordo!
– Não está tudo bem?
– Sou contra!
– É contra estar bem?
– A favor!
– Mas do que é que você está falando?
– Eu gosto!
– Você gosta de não saber do que fala?
– Não gosto!
– Meu Deus, não estou entendendo direito…
– Fanático!
– O que foi que você disse?
– Fundamentalista!
– Mas o que foi que eu disse?
– Respeite a minha opinião!
– Você deu uma opinião?
– Uma coisa não impede a outra!
– Que coisa não impede o quê?
– Ouvir opiniões contrárias é um exercício construtivo!
– Mas com que informações você construiu sua opinião?
– Arrogante!
– O que isso tem a ver com o que eu perguntei?
– Dono da verdade!
– Ok, vamos começar de novo.
– Concordo!
– Prazer, eu sou Adão.
– Não falo com gente arrogante.
O brasileiro vai embora e Adão encontra Eva.
– Eva, acho que eu preciso aprender português.
– Discordo!
– …
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