1. Os problemas que um governo enfrenta no início são sempre acompanhados por duas repetitivas fórmulas. A primeira sublinha a culpa da herança maldita do governo anterior. A segunda, uns meses depois, é a tradicional reforma ministerial. Depois de 13 anos, a primeira fórmula não faz mais sentido. E depois de várias mudanças ministeriais para ganhar confiança econômica e unidade político-parlamentar, essa segunda fórmula também caducou.
2. Há um consenso em todos os segmentos da sociedade civil e política que é urgente um choque de expectativas, reversão de expectativas, como preferia chamar Roberto Campos. Com o ministro Levy não deu certo. Com a aproximação do PMDB, até criar uma maioria na escolha do líder, também não deu certo. Acenar bandeiras irrealizáveis como se fossem fundamentais (CPMF) só fez o tempo passar sem conseguir um lastro mínimo para tramitar no Congresso.
3. O programa partidário do PMDB, na semana passada, atuou -competentemente, diga-se de passagem- em duas linhas. Na primeira, fez um desfile de seus parlamentares, todos falando uma frase apenas, tão óbvias, como genéricas. Assim, passou a imagem de um partido unido, de norte a sul, da esquerda à direita. E apresentou seus candidatos a prefeito em algumas capitais, junto a esse desfile de micro-locuções. E um quadro com micro-fotos de todos, agregadas num quadrado, reforçou a ideia. Ficaram de fora os atuais ministros, governadores e prefeitos.
4. A segunda linha agrupa, de forma implícita, mas clara, numa só palavra, a saída de Dilma. Como há a necessidade de se criar um choque de expectativas –reversão da expectativas-, o único caminho para isso seria substituir a presidente Dilma. Mas 2018 está muito longe e o risco das desintegrações política, econômica, social e moral e suas sinergias estão na ordem do dia.
5. Como dizer isso? O programa do PMDB deu uma solução. Em diversos momentos, nas falas, foi destacado o caso da Argentina. A saída da presidente Cristina Kirchner pelas eleições de dezembro, ao meio de uma crise econômica do tamanho ou maior que a brasileira, apontava para soluções em médio e longo prazos.
6. Mas o que aconteceu foi muito diferente. A posse de Macri –e suas iniciativas apenas iniciais- geraram um enorme choque de expectativas, de reversão de expectativas, em nível interno e internacional. Até os “fundos abutres” se dispuseram a negociar e pelo menos dois anunciaram que aceitarão os termos do novo governo argentino.
7. O programa do PMDB usou –e bem- o exemplo, tanto pelo simbolismo discreto –saiu uma mulher presidente e assumiu o presidente do principal partido de oposição-, como pelos fatos. A reversão de expectativas foi imediata e de curto prazo, não precisou aguardar esse novo governo a meio caminho.
8. Conclusão evidente: se o país não aguenta mais 3 anos nessa marcha e se o choque de expectativas exige a saída da presidente Dilma, então o PMDB estará com a tese, de preferência com o expediente mais suave (licença) ou se for necessário mais duro, o impeachment.
9. E o programa do PMDB afirma que o partido está pronto para assumir essas responsabilidades, como Macri na Argentina. Será???
Ex-Blog do Cesar Maia
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